João Pessoa, 03 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Sandrinha acorda muito cedo, ergue os braços ao céu e sai pela areia da praia do Cabo Branco louvando o sol nascente. Sua cama é um dos banquinhos de cimento da calçadinha e a morada é um oleado que cobre seus teréns (e são muitos). Em seguida recolhe seu “imóvel” e carrega tudo para a para sua segunda casa, defronte ao bar do Cuscuz, onde ocupa a sombra de três frondosas arvores à beira mar. Nunca vi Sandrinha perturbar ninguém; nada pede e no seu mundo particular deve ser muito feliz porque jamais reclama, só quer que a deixem na paz da praia.
Já Ari era José quando dirigia para um certo empresário local. Decidiu empreender e estacionou uma velha caminhonete à beira mar do Cabo Branco, vendendo cocos. Deu certo e começou a expansão do negócio, autonomeando-se “Ari, o rei do coco”. A primeira filial foi estacionada em frente à antiga casa de Paulo Miranda, tendo expandido a ocupação do espaço público do estacionamento para uma enorme área de praia, que cuidou de privatizar na marra. A segunda filial ele estacionou já no contorno da avenida Cabo Branco, em frente ao último hotel da orla. “Vendeu” a matriz a um parente, que só se deu conta de ter comprando um espaço público (pelo menos é assim que são tratadas as vagas de estacionamento) quando posto para fora pelos diligentes fiscais da Prefeitura, que posteriormente recolheram os estoques e materiais das duas filiais de Ari. O empreendedor viu-se à beira mar sem ter como fazer seu sustento e decidiu mudar de ramo; do dia pra noite apareceu nas areias do Cabo Branco trajando um paletó, com uma Bíblia na mão, pregando o que ele entedia ser a palavra de Deus. A coisa complicou quando ele arranjou umas seringas e tentou fazer uma campanha de vacinação. Desapareceram Ari.
O mesmo deu-se com Seu Carlos Alberto. Era a alegria da calçadinha. Já me referi a ele em outros escritos. Quando o perturbavam vinha até mim para que tomasse as providências. Eu tinha muito prazer em organizar seus aniversários, sempre levando um bolo, salgadinhos e refrigerantes. Mesmo sendo tudo gratuito, ele me insultava quando no meio dos guaranás aparecia uma garrafa de coca cola. A memoria de minha mãe sofria, viu? Mas era uma graça. Nunca mais foi avistado.
Que saudade de tanta gente feliz que vivia além das peias do “normal”. Tenho receio que algum serviço publico vá tirar Sandrinha do seu particularíssimo modo de vida.
Por favor, deixem Sandrinha ao sol, morando na sua felicidade.
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NA CÂMARA - 02/10/2025