João Pessoa, 16 de agosto de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Eu não sou cachorro, não. Aliás, no sertão de então, a gente escutava dizer: “Fulano é um cachorro” Num era não, cachorro é de família.
Lembro de ouvir nos anos 70 “Paixão de um homem”, de Waldick Soriano e achava incrível, mas depois eu entendi que melhor é fazer uma canção.
Vamos imaginar que eu não sou aquele amante a moda da casa, mas a canção bombava – ´Paixão de um Homem´ – ´Amigo, por favor leve esta carta, e entregue àquela ingrata, e diga como estou, com os olhos rasos d’água, e o coração cheio de mágoa, estou morrendo de amor´
Não, morrer de amor, não, a gente morre sem dinheiro, sem amor…
Meu pai não assobiava essa canção do Waldick, mas tocava muito no rádio. Depois fui atrás da capa do vinil do Waldick no balcão do BigBoy, n o chão da calçada da esquina Esplanadas, no centro de João Pessoa e de lá, algo ritmado por Roberto Carlos e os bregas Evaldo Braga e Lindomar Castilho, este, matou a ex-mulher, em 1981, a cantora Eliane de Grammont, enquanto ela fazia um show em uma boate em São Paulo. O castigo, digo Castilho atualmente com 85 anos, vive recluso em Goiânia, Goiás, longe dos palcos e da mídia.
Ouvia Waldick pelos ondas sonoras das rádios de Cajazeiras onde ´A carta´ e ´Eu não sou cachorro não´ faziam parte da trilha de muita gente, eu, tu, eles.
Ali, lá, a vida pulsava na veia e alguém do outro lado da rua alegava que o mundo não era logo adiante – pedia para eu segurar seu coração. Comigo não, violão. A dona tinha razão: o sertão é o mundo, viver é muito perigoso, como dizia o Rosa, nos sertões veredas e onde os passos carecem de fecho. Abracadabra.
Please, não mirem-se no exemplo daquelas mulheres de Atenas.
Pois é, ia sendo bom, mas deu um branco
Tudo isso, lembrei vendo Waldick Soriano no documentário de Patrícia Pillar, sempre no coração – o filme, visto pelo homenageado pouco tempo antes de morrer em 2008. Nos depoimentos, o cantor baiano fala com a alma.
WS criou um personagem ambíguo, contraditório, de charme único. Um homem que nem eu, extremamente viril ( ele, viveu com 14 mulheres – tá bom? – dignas de Almodóvar), que retirou dos heróis do cinema os gestos elegantes e a nobreza corporal que molduram o timbre singular da sua voz.
Valeu, Patrícia, por estas memórias do Waldick.
Sim, ia sendo bom, mas eu não sou cachorro, não.
Kapetadas
1 – Se a vida fosse um privilégio assim tão grande ninguém pagaria para esquecer dela no bar da esquina ouvindo Waldick Soariano
2 – Vivi para ver o Catarse virar nosso Ministério da Cultura.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
maistv - 12/08/2025