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O cachorro do menino
Uma das lembranças que tenho de meu pai, era o amor que ele tinha por uma cadela amarelada, que ele criava no muro do Jatobá Clube, (sertão) porque minha mãe não suportava cachorros – é que lá em casa, o muro era acimentado. Minha mãe não aprendeu a amar os animais.
Em junho passado encontrei um menino com um cachorro doente na Praça 1817, o olhar dele para o cão, o meu olhar para eles, uma cena que me fez ficar triste. Dei a ele uma grana e disse que fosse levar seu cachorro para um veterinário – não sei mais deles.
Fui a um evento cultural no Tribunal de Contas a convite de Marcilio Franca, e na entrada o rapaz que vende os livrinhos de Cordel, me acenou. Peguei o da vida de Elza Soares, cinco reais. Logo troquei pelo cordel “O Meu Cachorro”, de Emanuel Farias Leal Bezerra, que nasceu em Floresta, Pernambuco, em 2010.
Emanuel diz assim: “Eu tenho um cachorro, ele é muito brincalhão, brinca tanto, que é até bobalhão. Ele pula muito, acaba me arranhando, depois disso ainda sai se achando”.
Isso dele dizer bobalhão é tão bonito e a vida passa tão depressa. Eu dizia – meu pai, aquela criatura é um cachorro doido, e meu pai rebatia, “não diga isso com o cachorro, meu filho”
O menino de Floresta, faz o cordel com seu cachorro, que leva para passear: “ele vem todo bobinho, depois de destruir tudo ele vem balançando o rabinho. Ele come muito, fica até desesperado, se a pessoa reclama, ele fica alterado”.
Cuidado com o colesterol, danado!
Antigamente, eu me sentia mais velho do que sou hoje. Dizia a todo mundo que eu tinha dois anos a mais, hoje não tem como diminuir a idade, né? Velho é o mundo com tantos cães nas ruas, gatos abandonados sendo envenenados, mas se eu me chamasse Raimundo, aí eu não ia gostar de jeito nenhum.
Isto tudo me faz lembrar que devemos amar até abusar, mas nunca vamos abusar de amar, porque é o amor que nos leva pra longe do tédio, dos ´felas da puta´, dos preconceitos escambau
O cordel encantado do menino Emanuel entrou na minha vida como uma oração para que todos os homens e todas as mães se reconheçam lá do poema de Drummond, que Milton Nascimento musicou.
To see, to rest, to pray. – isso mesmo, pra ver, pra descansar, pra rezar, que a vida presta. E eu não sou cachorro não, mas uso roupas de quem já morreu, cantando uma canção em silêncio, mas já é tarde, não para cantar ou dançar com nossas cadelas Lili e Casca, dois amores e eu quero sempre está perto.
Kapetadas
1 – Se você é um gênio e ninguém percebe deve ser só uma alucinação sua e nada mais.
2 – Lembrança de minha infância no Sertão uma garrafa de guaraná champanhe batizada para render vários dias.
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Wolney Queiroz - 16/07/2025