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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Neto de avô paraibano, de Pirpirituba, Beto é o artista que se multiplica. Pernambucano, Beto estreia com ´Matriz Infinita do Sonho´, álbum produzido por Negro Leo, Rafa Prestes e ele, Beto, que transita entre o sagrado e o etéreo com voz marcante e clima experimental.
O disco reúne mais de 20 músicos em faixas que mesclam frevo, indie e rock progressivo. E com participações de peso, Junio Barreto e Vitor Araújo e a parceria ´Valsinha´ com o ator Matheus Nachtergaele. A capa do disco conta com foto de Cafi (1950/2019) e projeto gráfico de Maria Cau Levy.
Neste álbum de estreia, Beto abriu e escancarou as gavetas onde guardava, há anos, poemas, construções melódicas e boa parte das suas inspirações. Esse material foi o ponto de partida que começou a dar vida ao disco ´Matriz Infinita do Sonho´, em parceria com Negro Leo, produtor do álbum.
Beto reúne um time de amigos companheiros. Ao todo, entre parceiros de composição, produção e mixagem, o álbum foi gravado nos estúdios no Rio de Janeiro, Recife e Gravatá. Nomes como o próprio Junio Barreto, que divide os vocais com Beto na música “Dandara”, além do pianista Vitor Araújo, o percussionista Gilu Amaral, o baterista Thomas Harres, Pedrinhu Junqueira e Thiago Nassif, nas guitarras, e Pedro Dantas, no baixo.
Foto: Flora Negri e Cafi
Faixa a Faixa por Beto
Pedra Verde (Beto)
Canção inspirada no Samba de Roda do recôncavo baiano, influência direta do contato com a obra de Roberto Mendes. Essa canção conta com o violão de Alexandre Gismonti, o cello de Nana Carneiro da Cunha e Gilu Amaral na percussão. Coro: Rafa Prestes, Vovô Bebê e Beto.
Dandara (Beto/Junio Barreto)
Dandara é uma parceria minha com Junio Barreto e a faixa conta com a sua participação nos vocais. Compositor de Caruaru que me influenciou e continua influenciando na sua sensibilidade.
Brinquedo (Beto)
Dentro do meu processo de composição existem muitos caminhos possíveis. Neste caso essa faixa nasceu de um poema escrito e tem essa influência do spoken poetry e da poesia do Pajéu das Flores. Poesia recitada que é um traço marcante da expressão popular nordestina em geral.
Marx Mellow (Beto)
Destaco aqui a linha de baixo majestosa criada por Pedro Dantas. A ideia da composição é como certas frases de Marx e de mestres do reggae como Bob Marley e Edson Gomes são tão parecidas. Uma maneira de falar de Carlos Marx sem parecer tão pesado e professoral. Carlos Marx para crianças, Carlos Marx nas escolas.
Valsinha (Beto/Matheus Nachtergaele)
Valsinha é uma parceria minha com Matheus Nachtergaele. Ele chegou a adicionar uma primeira parte com outro parceiro e ela foi incluída no seu espetáculo “Concerto do Desejo”. Ainda quero gravar essa versão completa. Na época que gravei essa versão não conhecia a versão que entrou no espetáculo.
Peixa (Beto/Nana Carneiro da Cunha)
Peixa é uma parceria minha com Nana Carneiro da Cunha. Ela também é minha parceira em ´Coração Preto´. Cellista e amiga ímpar, essa faixa foi inspirada em uma música de Nana que foi gravada em seu primeiro disco com mesmo título. Ela é originalmente instrumental. Nessa versão ela foi alterada e a melodia original aparece somente no final. Nela participam Nana Carneiro da Cunha nos vocais e cello, Vitor Araujo no piano e Gilu Amaral na percussão. Participação especial da Una nos vocais.
Yara do Mar (Beto)
Yara do Mar foi cronologicamente a última faixa a ser gravada e composta. Ela também conta com uma formação diferente. Embora também conte com Gilu Amaral percussão. Ela tem a presença de Lais de Assis na viola de 12 cordas, Alex Santana na tuba e Rafael Marques no bandolim. É uma canção de amor e ao mesmo tempo uma louvação à figura mítica da Yara.
Never Die (Beto/Pedrinhu Junqueira)
Parceria minha com Pedrinhu Junqueira. Destaque para o piano de Vitor Araujo e a participação especial da Una.
Beto é um danado
É um pintor e realizador pernambucano. Escreve poemas e músicas, além de dirigir documentários, a exemplo de “Solano Trindade – Poeta do Povo” e “João Câmara – Duas Cidades”. Trabalhou no cinema com Cláudio Assis, Paula Gaitan, Lírio Ferreira, em diferentes funções. Em 2025, Beto vai dirigir sua primeira série, intitulada “Arte – Território Latino-Americano”, para o Canal Curta. Como pintor já fez exposição individual, além de coletivas pelo Brasil.
Foto: Flora Negri e Cafi
Confira aqui nossa conversa nessa primeira entrevista para o MaisPB:
MaisPB – Abrir o disco com ´Coração Preto´ e ser uma agulha para chegar até o vinil, é uma boa sacada, não é?
Beto – Essa é uma canção de amor, ao mesmo tempo uma canção sobre a tentativa de tocar o coração do ouvinte. Ela tem um significado importante para mim, tanto na minha vida pessoal quanto na minha carreira como músico. Ela já foi interpretada por intérpretes que admiro muito, como Zé Manoel e Junio Barreto.
MaisPB – A terceira faixa ´Dandara´ sua e de Junior Barreto parece jazz, fale dessa canção, aliás, onde andará Dandara?
Beto – Ela tem uma levada samba rock com muita influência de jazz no piano de Vitor Araújo. Ela foi inspirada numa amiga nossa, chamada Dandara. Ela estava sempre presente nas manifestações políticas de uma certa época. Por isso o céu está aberto na avenida. Ela é dedicada a essa Dandara em específico, mas também uma homenagem a todas as Dandaras guerreiras do Brasil. A Dandara da canção está fazendo cinema e permanece na luta.
MaisPB – Sensacional Pedra Verde que você diz que foi inspirada no Samba de Roda do recôncavo baiano, influência direta do contato com a obra de Roberto Mendes. Essa canção conta com o violão de Alexandre Gismonti, o cello de Nana Carneiro da Cunha e Gilu Amaral na percussão. Coro: Rafa Prestes, Vovô Bebê e Beto. Que beleza, vamos contar aos leitores do MaisPB sobre a construção dessa canção?
Beto – Essa canção me veio através de um contato grande com o candomblé do Recife. Também dedicada à mata de Passarinho. Uma região encantada, onde dizem ser uma das nascentes do rio Beberibe. O violão de Alexandre encaixou perfeitamente. A chula é um ritmo fascinante que tem em Roberto Mendes uma das suas maiores referências e que inspirou a levada da gravação.
MaisPB – A capa do disco verde mar, vazada e com perspectiva e a bela foto de Cafi (1950/2019) com projeto gráfico de Maria Cau Levy. Deu certinho com seu disco, né?
Beto – Verdade! Essa capa foi realmente um encontro feliz entre a fotografia de Cafi e o trabalho gráfico de Maria Cau Levy. Ela surgiu de uma conversa que tive com Cau. Estávamos falando de Aloisio Magalhães e a influência dele no seu trabalho. O nome de Cafi surgiu porque ele era muito meu amigo e sempre falou de como Aloísio o tinha dado o primeiro emprego para ser fotógrafo do Iphan. Depois lembrei que ele havia feito uma foto minha. Cau sugeriu usarmos ela. Assim surgiu a capa.
MaisPB – Peixa é uma canção intensa, parece feita para o cinema, estou certo?
Beto – Peixa é inspirada em uma canção de Nana Carneiro da Cunha. A intenção primeira era fazer uma canção mais convencional. Mas quando juntamos Nana, Vitor Araujo e Gilu no estúdio, virou uma sessão de improviso ao vivo. Acabamos criando uma viagem sensorial mesmo, inspirada na linha melódica da canção original. O trabalho primoroso de Rafa Prestes na mix fez toda diferença para o resultado. Mas sim, respondendo, também vejo ela como uma trilha de um filme que ainda está por vir.
MaisPB – Gostei muito de ´Yara do Mar´, você descreve a sereia onde todo rio corre para mar e todo mar é doce para se navegar – essa voz feminina é de Lais de Assis?
Beto – Essa voz feminina é de Una, que antigamente assinava como Aninha Martins. Ela fazia parte de um grupo do Recife chamado Sabiá Sensível. Uma banda que marcou muito uma geração. Una tem um talento e musicalidade que me impressiona toda vez que escuto. Sua voz é de uma contundência fora do comum. Fiquei muito feliz de poder contar com sua participação no disco. Lais de Assis tocou viola de 12 cordas. Ela é uma referência para mim da nova música instrumental brasileira. Um talento singular e uma pessoa extremamente generosa.
MaisPB – O clipe é surreal, o peixe na cara, a moça sereia bailando, é um convite para todos navegarem em busca da Yara, né?
Beto – Sim, é uma busca da nossa própria identidade também. É a crença que o amor pode ser doce, que os encontros podem ser genuínos e verdadeiros sem a necessidade de nos dilaceramos no caminho. É a promessa utópica do amor em paz. Em paz com o outro e com nós mesmos.
MaisPB – Você já se apresentou em João Pessoa ou virá?
Beto Tenho um carinho imenso pela Paraíba e pelo povo Paraibano. Inclusive me considero modestamente um pouco paraibano pois meu Avô era de Pirpirituba.
BETO – Yara do Mar (VIDEOCLIPE OFICIAL)
Wolney Queiroz - 16/07/2025