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Cantora Marya Bravo, filha de Zé Rodrix, lança novo disco “Eterno Talvez”

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publicado em 07/06/2025 ás 12h25

Kubitschek Pinheiro

Fotos – Leo Aversa

A música de Marya Bravo não é a novidade, é sempre uma novidade intensa sua música, a sua performance. O ´Eterno Talvez´ novo álbum dela – letra e música provocam sentimentalidades e sensações que surpreendem cada vez mais. Sensível, moderno, seu novo trabalho traz um avanço para a música brasileira. Sob produção musical de Nobru (bandas Cabeça, Planet Hemp) e Dony Von (Matanza, Os Vulcânicos) e distribuição do selo Ditto Music, ´Eterno Talvez´ é a novidade.

Marya Bravo, Nobru e Dony Von é um  trio fortemente conectado a gêneros como rock, jazz, trip hop, hip hop, música brasileira e eletrônica escambau.

A inusitado e o talento de Marya estão presentes em todas as faixas. Nos instrumentos – guitarra, violão , violoncelo e percussão – na voz e, principalmente, na interpretação da cantora.

Como atriz, Marya Bravo vai além. Ela soma em sua carreira mais de 20 musicais estrelados no Brasil e no exterior, como Beatles num Céu de Diamantes e Clube da Esquina – Sonhos não envelhecem , que lhe renderam duas restrições à Melhor A triz nos prêmios Cesgranrio e APTR ( Associação dos Produtores de Teatro do Rio de Janeiro ).

´Eterno Talvez´está  nas plataformas digitais acompanhado, por um videoclipe  postado aqui, feito pela produtora carioca Oficina do Diabo – uma mistura do orgânico com o eletrônico, numa narrativa cinematográfica.

Fotografia de Leo Aversa
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Marya Bravo conversou com o MaisPB e conta mil coisas desse novo trabalho.

 MaisPB – A última vez que conversamos foi em 2011 (para o Correio da Paraíba, que fechou na pandemia) quando você lançou “De Pai Pra Filha – Marya Bravo Canta Zé Rodrix” – muita coisa aconteceu, até  2014 com “Comportamento Geral”  e agora, num intervalo maior, chega ´Eterno Talvez´. Podemos começar por aqui – esse espaço longo?

Marya Bravo – Eu me mudei para SP em 2017 e fui buscar outras coisas para fazer. Estava com vontade de viajar, conhecer outros lugares, ter outras experiências. Me afastei da música e dos palcos, e aí veio a pandemia. Em 2022 quando voltei ao Rio a trabalho e reencontrei meus parceiros, a chama se acendeu e daí surgiu o disco novo.

MaisPB – Esse disco é todo autoral e eu gostei muito da décima faixa ´Rainha do Nada – sensacional – vamos falar dessa canção que parece a desconstrução da vida?

Marya Bravo – É a música de uma grande amiga, Nayana Carvalho, e surgiu a partir de uma sensação de que havia uma música faltando no disco, uma música triste. Descobri quando estava presa no trânsito e vi minha amiga cantando-a em sua rede social, e soube depois que era uma gravação de dez anos que Nayana resgatara de um HD antigo. Bastou um pequeno trecho da música para que eu soubesse que aquela era a música que faltava. Eu ouço as músicas, melodias, trechos e às vezes me bate assim, dentro do corpo, sabe? Sinto que tem uma coisa boa ali, sei que é aquilo. São pedaços de melodias que me tocam profundamente. Eu tenho todo um lance com Rainha, tenho várias coroas tatuadas no corpo, ela encaixou muito comigo.

MaisPB – Em quase todas  as canções a guitarra faz uma viagem intensa junto da sua voz e tem uns barulhinhos eletrônicos geniais. Isso é muito bom, né?

Marya Bravo – Sim, eu amo que esse disco tem essa pegada eletrônica. O Nobru que fez a maior parte das programações e ele arrasa. Mesmo quando temos a bateria orgânica, sempre tem o “beat da casa”, como costumamos chamar. As guitarras, na maior parte tocadas pelo Dony, tem uma vibe meio cigana, meio medieval às vezes, que me levam para emoções muito profundas. A guitarra é quase como uma segunda voz, me apoiando e confirmando as sensações.

MaisPB – Abre o disco como nome do disco Eterno Talvez, que parece um filme,  uma sensação cosmopolita e estranha. Vamos falar da construção dessa canção?

Marya Bravo – Essa foi a última a ser gravada. Composição do Dony da banda que tem com o Nobru, a Muzgo (embora tocada em uma versão mais rápida e pesada), ela acompanhou todo o processo de gravação do novo álbum, sempre à espreita, e eu sempre pedia pro Dony tocá-la em diferentes momentos da criação do disco. Depois pedi que o Dony gravasse uma versão simples para ouvir quando eu quisesse, e, um dia, em um quarto de hotel, durante o final da temporada de uma peça, com o disco já finalizado, a letra veio de uma vez só. Ela virou a nossa favorita, com seu arranjo sério e dramático, misturando uma levada de bolero com um clima de saloon de western. É uma música sobre desejos inalcançados, uma música de resignação, que tem um lugar muito especial em meu coração.

MaisPB –  Esse disco novo não vai permitir que você abandone a música humana música – as letras falam da vida gente, das dores e traições, sim traições – foi Manuel Bandeira quem disse que a vida trai muito a gente – podemos falar sobre esse movimento tão presente na canção à Deriva?

Marya Bravo – Foi uma das primeiras composições que trouxe para criar o novo disco e sua introdução surgiu de um teste de um pedal de efeitos que o Dony postou num stories no Instagram, que me tocou de um jeito muito forte, antes mesmo de começarmos a gravar o disco. Quando o processo começou, eu sempre insistia que o Dony voltasse àquela melodia, que também foi a primeira letra que fizemos juntos. Ela realmente fala das traições que a vida faz com você, dos encontros e desencontros que acontecem e não temos controle sobre eles.

MaisPB- Pena que o musical sobre o Clube da Esquina, dirigido por Dênis Carvalho e com direção musical de Kassin, a peça “Clube da Esquina – Sonhos Não Envelhecem” não veio para o Nordeste – você poderia falar de sua participação? 

Marya Bravo – Foi muito legal fazer essa peça, e ela me rendeu duas indicações para melhor atriz, pela primeira vez na vida. Essa peça me aproximou da música de novo, e me trouxe de volta ao Rio. Reencontrei meus parceiros e a vontade de fazer música, que estava adormecida, voltou com força total. Acho que se eu não tivesse aceitado fazer a peça, nada disso aconteceria agora.

MaisPB –  Vamos botar esses caras lá em cima, o Dony Von e Nobru? 

Marya Bravo – Vamos! O Nobru eu considero meu irmão. Ele foi casado com a minha irmã por muito tempo e foi meu primeiro parceiro musical. Ele é genial, sou muito fã, e sempre esteve presente. Sem ele eu não teria uma carreira na música, é o meu maestro. O Dony é uma das pessoas mais talentosas que já conheci, com um fluxo de criatividade orgânico imenso. Ele é um compositor muito sensível e especial, que se conectou muito com a minha essência. Esse disco é nosso e tomamos todas as decisões juntos, sobre tudo: arranjo, arte, shows etc. Uma parceria que funciona muito bem e pessoas incríveis que amo estar perto.

MaisPB –  A faixa Loucura Confirmando, é uma loucura já na introdução e a letra genial, né?

Marya Bravo –Essa é a música mais antiga do disco, ela tem mais de duas décadas de idade e remonta a um período turbulento da minha vida, em que tive questões de saúde mental. Ela mistura loucura, desejos, vontades e frustrações. Compus a música em Portugal e a letra também saiu muito fácil. Ela desde 2005 esteve nos rascunhos dos discos que fiz com o Nobru e, apesar de ter um arranjo tão antigo quanto (composto por Benjamin, velho amigo dos dois), finalmente conseguimos registrá-la nesse novo trabalho. Ela é muito uma síntese de tudo, porque ela é a primeira e foi o ponto de partida do disco todo. Foi a primeira coisa que a gente tinha que já tinha arranjo e ela influenciou muito o resto do disco.

MaisPB –  Faca no Peito é incrível – como  veio essa descoberta inédita de seu pai Zé Rodrix?

Marya Bravo – Essa música nunca foi gravada por ele e estava na memória da minha irmã, a também cantora Bárbara Rodrix. A canção surgiu quando conversávamos sobre o futuro disco, queria gravar alguma composição dela e ela lembrou desta música, que eu não conhecia. A Barbara lembrava da melodia tocada pelo papai de cabeça, e tínhamos a letra escrita à mão por ele. Quando ouvi, fiquei louca com a música, e achei muito doido, porque ela parece uma música encomendada para o meu disco. Encaixou perfeitamente. Ela descreve magistralmente como o fim de um sentimento transforma-se noutro, traduzindo o luto de uma emoção com uma imagem estarrecedora, ao mesmo tempo bela e trágica.

MaisPB- Quando você vem cantar na Paraíba?

Marya Bravo – Pode me fazer o convite que irei com o maior prazer! Quero muito levar esse show, que está belíssimo, para muitos lugares.

Eterno Talvez (CLIPE OFICIAL)