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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Neurodiversidade nas organizações: incluir é inovar, é humanizar

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publicado em 20/05/2025 ás 07h21

Condições como autismo, TDAH, dislexia e dispraxia fazem parte do espectro da neurodiversidade e afetam, segundo estimativas internacionais, entre quinze e vinte por cento da população mundial. No Brasil, ainda caminhamos lentamente no debate, mas uma certeza já se impõe: as organizações que conseguirem incluir de forma genuína esses profissionais estarão um passo à frente em inovação, criatividade e responsabilidade social.

Neurodiversidade não deve ser vista como uma barreira. Ao contrário, é uma fonte de potência ainda pouco explorada. Cada mente funciona de um jeito, e isso, longe de ser um problema, pode ser o grande diferencial competitivo das empresas que souberem acolher essa diversidade com inteligência e respeito. Para isso, não é necessário reinventar tudo. Pequenas mudanças de cultura e estrutura podem transformar o dia a dia de trabalho e gerar impacto profundo nas relações e nos resultados.

Criar ambientes psicologicamente seguros é o primeiro passo. Para muitas pessoas neurodivergentes, ser autêntico no ambiente corporativo não é algo simples. A ansiedade social, o medo do julgamento, a exaustão emocional de mascarar comportamentos fazem parte da rotina. Empresas que abrem espaço para escuta, que acolhem diferentes jeitos de pensar, que incentivam o diálogo empático, constroem um ambiente onde a diversidade cognitiva se transforma em força coletiva. Sentir-se respeitado é o que permite florescer.

Também é preciso olhar para o espaço físico. Escritórios barulhentos, luzes intensas, excesso de estímulos visuais podem se tornar gatilhos de estresse e desconforto. Ajustes simples, como iluminação mais suave, fones com cancelamento de ruído, divisórias ou até a opção de trabalho remoto, podem representar não apenas acolhimento, mas também aumento de produtividade e bem-estar para todos.

Flexibilidade é outra chave. Cada pessoa tem seu ritmo, suas zonas de foco, seus momentos de energia. Uma gestão sensível reconhece que rotinas rígidas nem sempre funcionam para todos. Horários adaptáveis, pausas planejadas, metas personalizadas são caminhos possíveis e eficientes. Quando o ambiente respeita as diferenças, ele permite que cada um contribua com o que tem de melhor, sem precisar se adequar a moldes únicos.

Falar em inclusão é falar também em formação. Ainda há muito desconhecimento, estigma e desinformação quando o assunto é neurodiversidade. Por isso, sensibilizar as equipes, oferecer conteúdos acessíveis, promover conversas abertas e engajar as lideranças no exemplo são atitudes fundamentais. A empatia nasce do encontro com o outro, mas também se alimenta de conhecimento.

Outro aspecto fundamental é a comunicação. Para muitos profissionais neurodivergentes, mensagens ambíguas, ironias ou orientações genéricas podem gerar insegurança. Uma linguagem clara, objetiva e estruturada favorece não apenas quem precisa de mais previsibilidade, mas melhora o entendimento de toda a equipe. Comunicar bem é incluir. Incluir é construir pontes.

É preciso também mudar o foco. Em vez de olhar para o que falta, por que não valorizar o que transborda? Criatividade fora do padrão, memória apurada, atenção a detalhes, capacidade analítica e pensamento inovador são apenas alguns dos talentos frequentemente presentes em pessoas neurodivergentes. Empresas que conseguem enxergar além do currículo tradicional descobrem talentos onde antes havia silêncio.

Tudo isso começa antes mesmo da contratação. Processos seletivos tradicionais, com entrevistas padronizadas e dinâmicas em grupo, muitas vezes excluem quem não se adapta a esses formatos. Oferecer testes práticos, entrevistas individuais mais acolhedoras, etapas com tempo adequado e acompanhamento no início da jornada é uma maneira concreta de tornar a inclusão real desde o primeiro contato.

Mais importante ainda é lembrar que a inclusão de verdade não se limita a campanhas pontuais ou datas no calendário. Celebrar o Dia Mundial do Autismo ou a Semana da Neurodiversidade é relevante, mas não basta. É no cotidiano, nas políticas internas, nos relacionamentos e nas decisões estratégicas que se mede o compromisso de uma organização com a diversidade humana.

Incluir a neurodiversidade é ir além do cumprimento de uma pauta, é assumir um compromisso com a transformação real. É decidir, todos os dias, que cada pessoa pode contribuir do seu jeito, com o que tem de mais autêntico. A riqueza da diferença está justamente no que ela nos obriga a repensar: rotinas, lideranças, processos, linguagem. Ela nos obriga a escutar mais, a julgar menos, a reconstruir estruturas para que todos possam pertencer.

Incluir é humanizar. E humanizar, no mundo do trabalho, deixou de ser tendência. É urgência.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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