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Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta lançam “Sopro”

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publicado em 20/01/2024 às 12h08
atualizado em 20/01/2024 às 11h10
Kubitschek Pinheiro
 
Fotos – Rafael Catarcione

Sopro” é uma viagem, um disco para ouvir e não tirar da lista dos streaming. Três rapazes  de Vicente Nucci, Vinicius Castro e Zé Motta colegas na Faculdade de Música da UniRio, parceiros, amigos, devoradores de sons, acabam de lançar o algum “Sopro”.

Unidos neste projeto de nove canções, todas compostas há anos, antes da pandemia, que eles revisitam essas canções e apresentam para o público. O disco não está vinculado ao ditado de que a vida é um sopro.  “O resgate deste trabalho é, para nós, uma forma esperançosa de expressarmos nossas razões de viver”, explica Zé Motta. O trio contou com a colaboração dos arranjos primorosos de Pedro Araújo.

Sopro” foi todo gravado remotamente, usando tecnologia de ponta, com a participação de artistas das mais diversas partes do planeta – uma orquestra de cordas em Praga, músicos dos EUA, do Reino Unido, de Portugal e, claro, do Brasil.

O trabalho foi sendo soprado pelos singles, começando por “Precipício”, “Valsa espelhada”, “Silêncio” e “Derradeira”. “Precipício” e “Valsa espelhada”, ambos compostos pelos três e com participações especiais de Lenine e Claudio Nucci. Depois chegarem ao streaming duas composições de Vicente Nucci e Vinicius Castro: “Silêncio”, com a participação Áurea Martins, e “Derradeira”, que teve a cantora Ilessi como convidada.

Além dessas quatro músicas, o álbum conta ainda com mais cinco: “A espera”, composição dos três, que foi a primeira a ficar pronta; “Madrugada” e “Solução”, de Vicente Nucci e Vinicius Castro; “Alfuente” e “Sonata”, de Vinicius e Zé Motta.

O MaisPB conversou com os três rapazes, Vinicius, Zé Motta e Vicente, que falam com entusiasmo sobre o primeiro trabalho, que está apenas no começando.

Vinícius Castro

 MaisPB – Você morou em Portugal e agora está volta ao Brasil – aqui é melhor para começar mostrar esse trabalho tão bom – que já nasce um clássico?

Vinícius Castro – A música brasileira encontra grande abertura em Portugal, tanto pelo idioma partilhado quanto pelas afinidades culturais. Dito isso, nenhum lugar do mundo se compara ao nosso país de origem!

MaisPB- Aliás você tem músicas gravadas por artistas como Sérgio Assad, Gilberto Gil e Lenine  – vamos falar sobre essas canções?

Vinícius Castro – Escrevi a letra da canção “Cidade” para o Sérgio Assad, que entrou no disco Relíquia, de 2016! Quem nos apresentou foi sua filha, Clarisse Assad, com a qual também tenho parcerias musicais. Já no caso de Gilberto Gil e Lenine, eles gravaram minha canção em parceria com Adilson Xavier, feita sob encomenda para a ONG MetaSocial, para a campanha nacional “Ser diferente é normal.” Nem preciso dizer que foi uma grande honra ter essas parcerias com meus ídolos rodando o Brasil todo!

MaisPB – “Sopro” já traz a tecnologia de ponta, com a participação de artistas das mais diversas partes do globo: uma orquestra de cordas em Praga, músicos dos EUA, do Reino Unido, de Portugal e, claro, do Brasil. Fale aí desse peso sobre Sopro?

Vinícius Castro –Sopro” é um disco feito de dicotomias: uma obra extremamente manual, uma obra feita com empenho artístico e esmero nos detalhes, e ao mesmo tempo que conta com tecnologia de ponta na sua execução. Por conta dessa tecnologia, foi como estivéssemos em Praga, EUA ou Europa junto dos músicos, dirigindo, colaborando e garantindo que nossa visão seria realizada.

Sopro” traz, então, a soma das carreiras musicais de muitas pessoas de muitas culturas diversas.

MaisPB – A canção Silencio é muito bonita, parece uma cronica, um filme – estou certo?

Vinícius Castro –O arranjo de “Silêncio”, com a orquestra de cordas, nos remete aos filmes de Miyazaki, com trilha do incrível Joe Hisaishi. A letra tenta ser o mais cinemática possível, mas sem entregar uma narrativa clara: é o papel do ouvinte visualizar os silêncios e entender a história à sua maneira.

MaisPB –  Silêncio com a participação de Áurea Martins já é um privilegio – ela é uma grande artista brasileira viva. Foi bom contar com ela nessa faixa, né?

Vinícius Castro – Foi uma grande honra e uma emoção enorme.

Zé Motta

MaisPB – Os arranjos de Pedro Araújo ficaram primorosos – vamos começar por aqui?

Zé Motta – O Pedro foi uma revelação pra mim. Embora tenhamos estudado na mesma faculdade eu não conhecia o Pedro. O Vinícius, quando nos propôs a gravação do álbum, disse de cara que os arranjos teriam que ser do Pedro. Agora eu entendo o porque. Quando recebíamos as gravações parciais das músicas (com somente alguns instrumentos que já tinham gravado, por exemplo), já pensávamos “que arranjo fantástico”. E a cada novo instrumento que gravava e entrava no arranjo a canção ia fazendo mais sentido… É impressionante a capacidade que ele tem de potencializar as canções ao máximo. Uma coisa linda.

MaisPB – As melodias e letras são de vocês três – poderia destacar aqui?

Zé Motta – As letras de todas as músicas foram compostas pelo Vinícius. Ele que é o elo entre todas as canções. Eu e Vicente fizemos juntos as melodias de A Espera, Precipício, que teve a participação do Lenine, e Valsa Espelhada, onde o Cláudio Nucci participou. Fora essas Vicente compôs as melodias de Derradeira, que teve a participação da Ilessi, Solução, Madrugada, e Silêncio, que contou com a interpretação linda da Áurea Martins. As melodias de Sonata e Afluente foram compostas por mim, e foram as primeiras melodias compostas dentre todas do disco, há 10 anos.

MaisPB – A canção “Solução” parece uma sugestão alternativa para resolver a vida da gente – um chá, um sal grosso, um banho de plantas sagradas e muita coisa, né?

Zé Motta – Eu acho essa canção um primor. E me sinto à vontade de falar assim porque não é minha. Acho essa letra do Vinícius extremamente brasileira. Um misto de religião, simpatia e a esperança de um novo amor.

MaisPB – “Sonata” parece ser a música mais intensa – nessa canção os instrumentos se casam e nem precisava de letra, mas o poema leva a gente para o mundo todo, né?

Zé Motta – Quando eu fiz essa melodia o Vinícius falou pra mim: “Eu nem imaginava que essa seria uma melodia ”cantável”, mas como você está cantando, vamos colocar a letra”. Eu achei que ele acertou na mosca, usou os modos e tensões da melodia pra propor esse universo do sonho, e conclui a letra transcrevendo uma cena que transborda simplicidade, amor e beleza.

MaisPB – E essa capa bem suave, foi proposital para o Sopro se espalhar pelo mundo?

Zé Motta – O Fred Cavaliere, que fez a capa, é um artista que sou fã. Ele também é um excelente músico e tem uma sensibilidade que poucas pessoas tem. Passamos pra ele algumas referências e as canções pra ele ouvir e ele propôs a capa a partir do que ele sentiu ao ouvir. Achamos linda e a cara do disco. Foi de primeira.

Vicente Nucci

MaisPB – Esse disco Sopro é um sopro maior para muitos outros?

Vicente Nucci – Assim nós esperamos e queremos seguir em frente. Sabe-se que, apesar da maior acessibilidade para realizar uma produção independente na atualidade, existe também uma grande dificuldade de produções independentes alcançarem uma boa projeção no mercado musical. Então os rumos deste projeto certamente serão influenciados por este cenário.

MaisPB – Como aconteceu a ideia do disco tão bonito?

Vicente Nucci – Desde a época em que as canções foram compostas e de algumas apresentações como trio, o Vinícius já manifestava a ideia de concepção deste repertório como sopros, vozes, violão e percussão. Mas pela densidade do trabalho e talvez uma certa imaturidade da juventude, não sabíamos como prosseguir. A resposta veio anos depois, quando o Vinícius, então produtor, decidiu assumir a produção e os violões do projeto e Zé e eu ficamos com as vozes. Ele chamou o Pedro Araújo, que foi um ‘gol de placa’, e, com os arranjos em mãos fomos atrás das gravações. Fizemos uma campanha de financiamento coletivo para custear o projeto e entrar na pós-produção. O sucesso desta campanha nos deu o privilégio de poder realizar as participações especiais do trabalho.

MaisPB – Vocês sempre estiveram juntos unidos pela música – como compositores e instrumentistas?

Vicente Nucci – Eu e o Zé temos uma amizade muito grande desde a infância e sempre convivemos muito mas nunca havíamos composto nada juntos. Conhecemos o Vinícius na faculdade de música e, com a perspectiva de fazer canções com ele, eu e Zé começamos a compor juntos também. Digamos que a presença do Vinícius agiu como um catalisador para que as canções começassem a nascer.

MaisPB – Como veio a sacada de convidar Lenine para participar do disco cantando na segunda faixa Precipício.

Nós três somos fãs declarados do Lenine. Queríamos muito que ele participasse do projeto e achamos que a canção Precipício combinaria com a voz e com a musicalidade dele. Fizemos então o convite e tivemos a imensa alegria de tê-lo cantando no álbum.

MaisPB – Abrem o disco em A Espera que parece uma canção de Mílton Nascimento – fala aí

É uma grata surpresa e uma honra esta canção parecer para você uma música composta por um grande mestre da nossa música brasileira. O início da melodia e harmonia dela foi feita em cima de uma música do Pink Floyd, na realidade. Esta foi de fato a primeira canção que nós três compusemos juntos e era sempre ela que abria os shows que fazíamos na época da faculdade. Considero uma grande parceria nossa.

Sobre cada um

Vinicius Castro –  é um compositor e produtor brasileiro que, depois de morar em Lisboa, Portugal, está de volta ao Rio de Janeiro. Suas músicas já foram gravadas por artistas como Sérgio Assad, Gilberto Gil e Lenine. Vinicius foi indicado à edição 2013 do Prêmio da Música Brasileira com o álbum CRIA – A Família, e à edição 2019 do Prêmio Profissionais da Música com o álbum CRIA – Pra Bagunçar. Castro escreveu 4 canções para a série indicada ao Emmy Kids ‘Gaby Estrela’ em 2015. Sua canção em parceria com Adilson Xavier, ‘Ser Diferente é Normal’, foi traduzida por Emily Perl Kingsley e Sharon Lerner, escritores da Rua Sésamo, e apresentada na ONU em 2012. Vinicius Castro escreveu várias trilhas sonoras para peças de teatro e produziu diversos artistas independentes do Brasil, Estados Unidos e Portugal.

Vicente Nucci  – é cantor, compositor e arranjador vocal carioca. Atuou no canto coral de 2003 a 2022, como monitor de naipe, regente, diretor musical e arranjador, participando de diversos grupos e apresentações. Um dos trabalhos de maior destaque no canto coral foi o espetáculo São Vicente A Cappella e Guinga, em 2019, no qual Vicente foi arranjador e dividiu a direção musical com Patricia Costa. Como intérprete, integrou trabalhos como os discos “De bem com a vida” (Alberto Rosenblit – 2009), “Amazônia, na trilha da floresta” (Mario Adnet- 2012), “Jobim, orquestra e convidados” (Paulo Jobim e Mario Adnet -2017), OuroBa (2017), “Integridade” (Claudio Nucci e Felipe Cerquize -2018) e “Arretados” (Dedeco e Jean Charnaux – 2019). Vicente tem composições em parceria com artistas como Luiz Fernando Gonçalves, Michele Leal, Claudio Nucci e Juca Filho, além dos amigos Zé Motta e Vinicius Castro. Em 2023, ao lado de sua irmã, a cantora e compositora Jéssica Nucci, integrou o projeto Canto Interior, no Rio Grande do Sul.

Zé Motta – é músico e compositor. Desde 2010, integra o Bloco do Sargento Pimenta como percussionista e regente, e já tocou em diversas cidades dentro e fora do Brasil, mais recentemente em Nova York (abril/2023), e teve a oportunidade de fazer uma série de shows na Inglaterra em 2012, incluindo apresentações durante as Olimpíadas de Londres. Recentemente, compôs as trilhas para os espetáculos “Uma mulher é uma mulher” (2019); “Antes D+ Nada” (2020), “Fêmea” e “Resid(u)o” (2021). Com as parcerias construídas ao longo de dez anos com os músicos Vicente Nucci e Vinicius Castro, lança agora o álbum “Sopro”, que conta com a participação de nomes como Lenine, Áurea Martins, Claudio Nucci e Ilessi. Atualmente, integra o duo com o também compositor e violonista Carlos Chaves, e faz, como músico e ator, o elenco do espetáculo itinerante “Proncovô”, que tem direção de Eduardo Moreira (Grupo Galpão) e direção musical de Sergio Pererê.

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