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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Pato ou gente?

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publicado em 08/12/2023 às 07h00
atualizado em 07/12/2023 às 18h34

 

Frustrações quem nunca as teve? A minha se deu muito cedo, logo após a alfabetização, quando fiz a minha primeira prova oficial. A prova viria da cidade de Uiraúna e chegou trazida por Maria Dantas, minha primeira professora no Sítio Saco Sinharinha.

A prova me causava calafrios de medo e ansiedade uma semana antes, porque sabia – e minha professora fazia questão de dizer – que seria preparada sob os cuidados da Inspetora MM!

Só existiam três pessoas de quem eu morria de medo naquela época. Na ordem: Carequinha (o palhaço), mãe (e seu chicote esquenta-perna) e MM, a famosa e competente Inspetora MM, que olhava, em suas visitas às escolas rurais, todas as cabeças das crianças em busca de um piolho, ou unha por unha (dos vinte dedos), caçando um resquício de terra ali entranhada; ou caderno por caderno, em busca de alguma desordem. E, para mim, que brincava solto nas entranhas dos monturos e dos barreiros de água suja, não seria possível – decerto não seria – passar por tão cuidadosa e minuciosa vistoria!

A prova, mimeografada, com forte cheiro de álcool veio esquisita. Umas figuras desconhecidas. Lá estava o carimbo de algo que se parecia com uma bola. Escrevi: B O L A. A outra, mal representava uma casa. Nunca vira uma casa em cima da outra, mas na dúvida optei e pontuei: C A S A e por aí em diante, pontuando, pontuando…

Faltava uma figura. Bico de pato, mãos de gente, olho de gente, pés de pato, mas um jeitão de gente. Ponderei, ponderei e decidi: M E N I N O.

Errei. Tirei 9,5. Era a figura do Pato Donald. Eu nunca tinha visto um pato com jeito de gente. Eu morava na zona rural, onde pato era pato e gente era gente!

À época, sob o império do governo militar, as decisões eram tomadas de forma centralizada. A cartilha do ano seguinte, em sua primeira lição, estampava: “Vovô viu a uva”. Caramba, o que era uva? Ninguém sabia o que era melão de São Caetano, não?

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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