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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Vacina anticocaina – uma luz no fim do túnel!

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publicado em 14/11/2023 às 07h00
atualizado em 13/11/2023 às 15h57

 

Segundo a Organização Mundial da saúde – OMS, o uso indevido de drogas lícitas e ilícitas e a dependência química destas substâncias, constitui-se, na atualidade, num dos maiores problemas de saúde pública do mundo.

Por isso, há décadas, muitos pesquisadores, especificamente  das áreas de saúde e social, tentam descobrir estratégias terapêuticas preventivas que possam ajudar a minimizar esse grave problema que geralmente afeta não apenas o usuário e suas relações familiares, sociais e de trabalho, mas à família como um todo.

É sabido e propalado pela própria sabedoria popular, “que prevenir é melhor que remediar”, e em relação ao uso indevido de drogas não é diferente, ou seja, não começar a usar é bem mais fácil do que parar após estar envolvido com o aludido consumo. Mas, o que fazer para ajudar àquelas pessoas que já estão fazendo uso regular ou que já são dependentes destas substâncias?

Esta, sem dúvida, é uma questão que países do mundo inteiro “batem cabeça” à procura de respostas. É claro que algumas iniciativas e estratégias têm sido usadas com relativo sucesso, especialmente quando o usuário/dependente voluntariamente admite o problema e se submete aos cuidados e tratamentos disponíveis. Dentre estes estão as terapias psicológicas, as farmacológicas com o uso de alguns medicamentos (ansiolíticos, antidepressivos etc.), que visam minimizar os efeitos desagradáveis da abstinência e a diminuir a fissura (desejo quase incontrolável) de consumir a droga.

Além das estratégias já citadas, os grupos de autoajuda geralmente compostos por dependentes químicos abstêmios, e as comunidades terapêuticas, ligadas às religiões cristãs, têm promovido um trabalho importante no acolhimento destes usuários/dependentes ajudando aos que querem, manterem-se fora do aludido consumo. Mas os resultados estão longe do ideal.

Nesta direção também, há décadas pesquisadores de todo o mundo tentam descobrir uma vacina que consiga fazer frente a este grave problema. E a boa notícia é que o Brasil, e mais especificamente a Universidade Federal de Minas Gerais, divulgou recentemente a boa notícia de uma promissora vacina para os dependentes de cocaína e seus derivados, como o crack. Sendo a cocaína a segunda droga ilícita mais consumida no nosso país, tal notícia deve ser motivo de alegria e esperança para toda a sociedade, pois esta é uma das substâncias psicoativas mais viciantes que a literatura médica conhece, e também uma das que mais danos tem provocado ao organismo dos seus usuários e às suas relações familiares e sociais.

Uma das primeiras experiências com vacina antidrogas aconteceu em meados dos anos 1970, quando um conjugado de morfina – albumina sérica foi capaz de reduzir levemente a autoadministração de heroína em macacos, mas esta pesquisa não progrediu. Então, já na década de 1990 surgiram os primeiros relatos sobre tentativas de desenvolvimento de vacina contra cocaína e nicotina. Uma destas foi a vacina criada pelo norte-americano Kim Janda, denominada GNE KLH que obteve bons resultados nos exames pré-clínicos, mas não apresentou os efeitos esperados nos ensaios clínicos.

Assim, até o momento, não existe nenhuma vacina antidrogas realmente eficaz registrada no mundo.

A possível vacina nacional, desenvolvida por pesquisadores da UFMG e batizada de “calixcoca”, diferentemente daquelas idealizadas e tentadas por estudiosos de outros países, usa o sistema imunológico do paciente para neutralizar os efeitos da droga e reduzir a dependência química.

Segundo esses pesquisadores, a “calixcoca” funciona no sistema imune, induzindo a produção de anticorpos que se ligam à cocaína na corrente sanguínea. Essa ligação transforma a droga numa molécula grande, que não passa pela barreira hematoencefálica. Ou seja, a vacina cria uma barreira sintética impedindo a cocaína de chegar ao sistema nervoso central e ao cérebro. Desta forma, como a vacina impede ou minimiza a passagem da cocaína ao cérebro, a pessoa não sentirá os mesmos efeitos prazerosos que antes acionavam o circuito de recompensa cerebral, provocando a compulsão ou fissura. Sem a compulsão o paciente ganha tempo para retornar a sua vida familiar, social e os outros prazeres e interesses que foram substituídos pela droga.

Os testes da fase pré-clínica com esta vacina também foram feitos com ratas grávidas e, segundo os estudiosos da UFMG, os resultados iniciais sugerem que a calixcoca conseguiu impedir que a cocaína chegasse à placenta ou ao feto destes animais. Assim, concluída as etapas pré-clínicas, ficou constatada a segurança e a eficácia para tratamento da dependência e prevenção de consequências obstétricas e fetais da exposição à droga durante a gravidez em animais.

Os próximos passos da pesquisa, “incluem a realização dos estudos clínicos, com voluntários humanos, sendo a ideia inicial utilizar o referido fármaco como um adjuvante do tratamento de dependentes de cocaína, visando evitar as recaídas daqueles que estão em tratamento ou saindo da internação, dando mais tempo para que estes possam reconstruir suas vidas sem a droga”, detalha o coordenador da pesquisa, Dr. Frederico Garcia.

Uma outra possibilidade de uso dessa vacina, seria a proteção materno-fetal contra os males provocados pela exposição pré-natal à droga, pois a exposição à cocaína traz riscos não apenas para as mães, mas também aos fetos e bebês, com repercussões imprevisíveis para a vida da criança. Atualmente, segundo os dados oficiais, apenas 25% das mães usuárias de cocaína/crack, conseguem parar com o uso durante a gravidez.

Os próprios pesquisadores afirmam que existem muitas questões a serem respondidas ainda, mas estão muito confiantes. Sem dúvida, o surgimento desta promissora vacina é uma luz na escuridão deste grave mal que atinge grande parcela da sociedade contemporânea, qual seja, a dependência química.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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