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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Saudade

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publicado em 09/06/2023 às 07h00
atualizado em 08/06/2023 às 14h37

 

A saudade é filha da memória, das lembranças boas porque a saudade nos remete para um passado de graça, um tempo de bonanças.

Há muitos tipos de saudades, cada qual ao seu modo, com traje próprio, expertise em nos fazer chorar, suspirar ou rir.

Desconheço pessoa que não sinta saudade, mesmo que ela seja do estrangeiro e não teve o prazer de conhecer palavra tão doce em sua língua.

Sau-da-de… Pronuncia-se como estivéssemos chupando um confeito feitiço, daqueles das antigas todo colorido com um mistério dentro: uma bola canarinho, a sessão do cinema, um beijo, um show, a casa da vovó, os tempos da escola, a danceteria, as matinês…

Saudade é como impressão digital. Cada pessoa a sente diferente porque se saudade fosse igual, perdia o sentido e ficava lá pelos escaninhos do tempo encalacrada em si mesma.

Saudade tem cor, diz-me meu cachorrinho Barão lá de longe, sendo estrelinha no céu;

Saudade tem cheiro, diz-me minha mãe que, da sua morada eterna, ainda pensa que eu só tenho cinco anos, o aroma do amor;

Saudade tem tato, meu pai contando seus causos sentado na rede na sala da nossa casa, roçando sua pele na pele do meu braço;

Saudade tem olhos e ouvidos, som e música do São João: “Olha pró céu meu amor, veja como ele está lindo…”

Saudade tem gosto, bolo de batata, mãe cantarolando sua alegria, mexendo um tacho grande, nossas papilas enlouquecidas e inquietas.

Há saudades esquisitas: saudades de algo do que não se sabe bem o que é; saudades já caducas, parecidas com um sonho, saudades bem novinhas, ainda com cheiro de hortelã na boca. Mas tem um tipo de saudade doentia, mas dessas eu não quero falar. É coisa de quem gosta de ditadura e de autoritarismos.

Mas, às vezes, a saudade é como essas palavras que não exigem complemento. É. apenas é. Sentimento estático, dimensão da existência não sentida, tampouco vivenciada, saudade daquilo que deveria ter ocorrido e não ocorreu. Então, enchemos os olhos de saudade, cheios de quimeras a destempo.

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* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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