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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Das monstruosidades brasileiras

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publicado em 01/04/2023 às 07h00
atualizado em 01/04/2023 às 09h47

(dedicado a Simone Magno, Clara Velloso Borges, Jória Guerreiro, Mary Del Priore e Márcio Pat Roberto)

Cada um de nós pensa de uma forma única? Pode ser, mas o mundo continua povoado de preconceituosos. E será sempre. São muitos homofóbicos em formatos de dominó, listas de racistas odientos, gente perversa que anda com disfarces no meio cultural, e posa de bonzinho. São disformes, deformados.

Eu já sabia que Oswald Andrade “tirava onda” da sexualidade de Mário de Andrade, que o amigo adorava fazer chacota com o pai de Macunaíma.

Numa carta de 4 de julho de 1929, Mário desabafa com Tarsila do Amaral,  casada com Oswald. Ele confessa que apesar da amizade, foi “crudelissimamente ferido” – Vejam: Mário usou o superlativo. Que Oswald fazia acusações, insultos e caçoava da figura de Mario. Isso nunca terá fim. Oswald era um canalha.

Formamos opiniões sobre vários assuntos, através de experiências, muito embora milhares não têm opiniões formadas sobre nada. Faz pena. Quão diferentes são as nossas experiências com o outro, o filho, o amigo, o desconhecido.

É difícil assistir pessoas impedidas de amar a quem quer que seja, em suas liberdades tardias, sendo agredidas por questões de sexualidade.

Em que espaços e em que tempos, cada um de nós se sente maior ou melhor que o outro? Alguma dependência afetiva?

“Não podia mais ignorar. Ser chamado de O Miss São Paulo foi demais”, revela a carta de Mário de Andrade a Tarsila do Amaral. Segundo a escritora Mary Del Priore, autora da biografia de Tarsila Uma Vida Doce e Amarga (Editora José Olympio) Oswald expunha o que Mário mais escondia. Isso na década de 20, e eram amigos. Imagina.

Eu conheço um sujeito de “sorte” que é culto e é homofóbico d-i-s-f-a-r-ç-a-d-a-m-e-n-t-e.

Como andam os sociais, lidas e parentescos, a vida de cada um, sem precisar saber com quem se deita, como diz Caetano Veloso na canção Tieta. O que significa um momento de isolamento para aquele que raramente a encontra ou se permiti ser encontrado? É foda, viu?

Em “O Valioso Tempo dos Maduros”, Mário de Andrade escreveu: “Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte”.

Afinal, o que faremos com essas criaturas monstruosas, que se multiplicam, e tocam o terror sem medo de punições?

Kapetadas

1 – A verdade é que não é fácil lidar com gente, imagine, gente preconceituosa.

2 – Muito estranho magoar alguém quando magoar era tudo que você jamais quis. Será?

3 – Vejam bem – se os crimes (que são inumeráveis) nivelam os criminosos, por que deveria haver prisão especial para quem tem curso superior?

4 – Ilustração Retrato de Mário de Andrade ( 1922) pintado por Tarsila do Amaral.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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