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Jornalista, cronista, diácono na Arquidiocese da Paraíba, integra o IHGP, a Academia Cabedelense de Letras e Artes Litorânea, API e União Brasileira de Escritores-Paraíba, tem vários publicados.

Comblin,  100 anos  

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publicado em 22/03/2023 às 07h00
atualizado em 21/03/2023 às 14h24

 

No ano do centenário de nascimento do Padre José Comblin (*), é momento de relembrar sua caminhada na Igreja do Brasil e da Paraíba. Uma caminhada iniciada quando aqui chegou com outros sacerdotes europeus, em junho de 1958, logo construindo amizade com destacados nomes da Igreja que buscavam novos caminhos para estar mais perto do povo. 

Depois de uma estadia de três anos no Chile, retornando ao Brasil, conheceu o então Padre Marcelo Pinto Carvalheira, em 1965, que o estimulou vir morar em Recife. A pedido de Dom Helder Câmara, passou a atuar na linha da Teologia da Libertação, que buscava recuperar o rosto profético da igreja do tempo dos apóstolos, em que todos tinham tudo em comum, ajudavam-se, repartiam o que possuíam, de modo que não tivesse necessitado nas comunidades onde residiam. Era preciso voltar à Igreja da opção preferencial pelos pobres, sem, contudo, deixar de olhar para os afortunados.  

Depois de conhecer o Nordeste, Comblin descobriu a obra missionária de Padre Ibiapina e deste recolheu ensinamentos que ajudaram a montar a proposta que tanto sonhava, que era justamente a de uma Igreja ainda mais servidora. 

Junto com outros teólogos, trouxe um novo modo de ensino para os seminaristas, que era no sentido de atuar a partir do “ver”, “julgar”, “agir”, que depois ficou conhecido como “Teologia da Enxada”, colocado em prática na Paraíba. Tempos depois as Comunidades Eclesiais de Base (CEB´s) tomaram corpo, animando as famílias que desejavam mais espaço também dentro da Igreja.  

Foi semente a germinar movimentos sociais que, com firmeza, surgiram nas décadas de 1970 e 1990 e adentraram no novo século, dando voz às reivindicações das famílias que viviam à margem da sociedade, principalmente no meio rural.  

Tudo levava a descobrir os sinais de fé, de amor e de esperança. 

Agora, quando lembro destes acontecimentos, por ocasião dos 100 anos de nascimento de Padre José Comblin, recordo que completou 10 anos da minha primeira visita ao seu túmulo, em Santa Fé, na divisa entre Arara e Solânea, quando ocorreu um ano depois de sua passagem. O que me chamou a atenção foi que tinha nascido sobre sua cova uma florzinha, entre da terra seca e seixos, como a nos apontar a esperança que brota do lugar esturricado.  

Como recorda Padre José Floren, cabe-nos dizer, muito obrigado Padre Comblin. Obrigado pelos ensinamentos, por nos ter ensinado a rezar de modo diferente e a conhecer melhor Nosso Senhor Jesus Cristo e o seu Evangelho. 

Como disse Padre Floren, Comblin abriu-nos os olhos, os ouvidos e o coração para o grito dos excluídos e para pensar o futuro da Igreja. Aprendemos muitos a refletir com seus 70 livros publicados e mais de 400 artigos produzidos em quase sete décadas de estudos.  

Ele nos deixou um legado sobre vocação e missão, mostrou exemplo de simplicidade, de amor ao povo e fervor missionário.  

Podemos dizer, a partir de uma definição de Padre Floren, que nosso amado Comblin sonhava com uma Igreja “povo de Deus”, menos clerical e mais comunidade. Menos do passado e mais do futuro, menos do direito canônico e mais do Espírito Santo, menos acomodada e mais missionária e samaritana.  

(*) Nascimento: 22 de março de 1923, Bruxelas, Bélgica e falecimento: 27 de março de 2011, Simões Filho, Bahia. 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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