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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A amante do rei

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publicado em 28/06/2022 às 07h00
atualizado em 28/06/2022 às 04h48

Absoluto na sua arte, todo sábado quando a tarde morre, escuto de longe, uma anunciação que lembra os shows de Roberto Carlos. O locutor diz exatamente o que é anunciado antes do rei entrar em cena: “com vocês, Roberto Carlos”. Minha mulher não perde um.

É na Rádio Tabajara. O bom é que o setlist, é sempre outro, haja visto a imensidão do repertório do rei, as canções  que incendeiam a vida da gente. Sábado passado começou com “Fera Ferida”. Aliás, sofocando mis gemidos.

Ele é o amante dela, ou ela é a amada amante e ela não é a única que é amante do rei. Todos os reis têm suas amantes

Nenhuma confusão verbal nisso, sequer a presença do vazio. Um ritual, sabe? Eu quero ser seu travesseiro, o sabonete que te alisa embaixo do chuveiro, a toalha que desliza no seu corpo inteiro. Tem melhor?

Na distância não vi seu vulto desaparecer, acho que é o contrário, mas foi a terceira canção daquele final de tarde. Viciada, sem mais nenhuma expressão artística, acho que minha mulher gosta das canções de Nando Reis, Otto e Marisa Monte, mas não é amante de nenhum deles.

A sua inteligência e imaginação, dela e do o rei, dominam o pedaço. Às vezes ela faz um churrasco: só ela e o rei. Assa queijo de coalho e vem me dar na boca.

Enlouquecida pelo rei, assistimos juntos o último show de Roberto Carlos no Teatro Pedra do Reino, mas jamais iria ao camarim, não porque é difícil chegar perto do Roberto, mas porque a matemática dela é outra, que considera bobagem ir ao camarim do artista.

Uma cena que me envaidece nesse caos, minha mulher apaixonada pelo rei Roberto Carlos e o encantamento que isso produz.

Na verdade, ela é amante do K. Quando tem aquelas apresentações de final de ano, logo cedo, ela me diz: hoje tem o especial do rei. Eu gosto do rei também, mas meu rei é outro.

Roberto Carlos tem o espírito de todas as épocas que ora se fascina, ora se ilude e nunca destrói para começar de novo, certamente, não começaria tudo outra vez, de Gonzaguinha, mas o leão solto nas ruas.

É um tremendo gozo coletivo e um sentimento de perda que virá quando o rei se for, porque nem todo rei morto, é rei posto.

Uma mulher pequena, mulher de 40, encontramos tantos prazeres para a vida toda. A mulher não tem idade.

E eu aqui pensando: de hoje em diante vou modificar o meu modo de vida. Não vou não, já estou velho, e o rei também.

Kapetadas

1 – Conversa com trechos de música. “Como vai você?”

2 – O Pequeno Príncipe completou 75 anos e não virou rei. É o príncipe Charles da literatura.

2 – Som na caixa: “Se um outro cabeludo aparecer/Na sua rua/E isto lhe trouxer saudades minhas/A culpa é sua”

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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