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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Os cavalinhos

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publicado em 06/05/2022 às 07h00
atualizado em 05/05/2022 às 12h25

O cavalinho de plástico girava em um movimento triste, mas esperançoso. A tristeza vinha da força centrífuga que o prendia, amarrado por um barbante, no centro da tabuleta de madeira, em um movimento circular infindo.

A esperança vinha da força centrípeta que expunha o seu delírio de sair correndo pela tangente e ficar, à sombra, como os demais cavalinhos, guardados em uma caixa de papelão, não expostos à venda pelo capitalista.

Mal comparando, o homem que expunha o cavalinho à venda, na esquina da Maria Rosa com a Avenida Rui Carneiro, estava como a sua mercadoria, amarrada no tabuleiro, preso a uma força de fora para dentro, a qual o deixara sem emprego naquele fatídico mês de abril. Sob um Sol a pino, o suor pingava do seu juízo mole, fraqueza e fortaleza corroendo uma à outra, a um só tempo, como sói acontecer com todos os desesperados que precisam de comida.

Mas, se até o seu cavalinho branco de crina preta e olhar morto queria despistar o destino de quem girava e girava sem parar, imagine-se ele, um brasileiro teimoso e resistente, filho da rua dos tempos modernos da Pátria Amada Brasil!

Sim, dos seus olhos empreendedores, espraiava-se o desejo de, um dia, ser como os grandes empresários que ganham muito dinheiro sem ter que trabalhar, ou como um desses pastores amigos do governo federal.

Mas, por enquanto, estava como um zé-ninguém. Tantos lugares, para expor o seu sofrimento à vista dos possíveis compradores, escolheu logo ali, uma esquina quente, onde as pessoas passavam destemperadas, sem olhar, sequer, um cavalinho de plástico, imagine-se para ele, que, há muito tempo, tornara-se invisível aos transeuntes.

A vida era assim mesmo. Quem sabe, um dia, ele não seria considerado pela sociedade um homem de bem, dono da sua própria estátua da liberdade, com milhares de empregados, todos zanzando de um canto para outro, ao Sol causticante ou debaixo de chuva, vendendo seus cavalinhos nas esquinas avaras da desilusão? E, quem sabe, não viraria deputado ou pastor? Quem sabe?

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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