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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Como nossos pais

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publicado em 05/03/2022 às 08h47
atualizado em 05/03/2022 às 05h48

Desculpem trazer um travo ao fim de semana de vocês. É que desde muito tempo esse assunto está aguardando na prateleira da minha memória à espera de uma oportunidade que a mídia convenientemente não proporciona.

Começo com uma antiga história contada por minha avó Joana Batista, que me ensinou não somente a ler, mas principalmente a gostar de ler. Passava-se na gélida Rússia e basicamente era sobre uma avó que pede ao neto para acompanha-la numa visita ao local da floresta onde seria abandonada no próximo ano pelo filho para morrer, porque era esse o costume da aldeia. Se o frio não a matasse os lobos cuidariam de tudo.

Noves fora o impacto da narrativa que minha avó enriquecia com uivos e outros truques e efeitos sonoros, é mais ou menos isso que muitos filhos fazem com seus pais. O esquecimento dói mais que a morte, porque vai se esticando no tempo e aumentando o sofrimento. Não basta a conversa protocolar, o bom dia ou aquele “está tudo bem?” que ao invés de ser curiosidade já é uma despedida antecipada ao telefone, por mais diário que seja.

Eu soube que na Inglaterra foi criado o Ministério da Solidão, que funciona conjuntamente com o Ministério da Saúde e Assistência Social. Mas não é bem disso que trato aqui. Me preocupa até bem menos a questão do sofrimento de pais e mães esquecidos pelos filhos do que a dor permanente e progressiva que os filhos sentirão depois que os pais morrerem, sabendo que não deram a atenção devida quando foi possível e depois de sua partida não haverá como remediar isso.

De minha parte, como adoro meus filhos e netos, cuidei desde cedo para que eles não sofram quando eu vier a ser assassinado aos 120 anos por um marido de 25 anos, com ciúmes da esposa de 23 anos. Ensinei meus filhos a beijar e abraçar sempre que nos encontramos. Não espero que eles me telefonem; eu mesmo ligo todos os dias, às vezes inventando assuntos, mas todos os dias nos falamos. Aliás, sobre isso de abraçar e beijar, já notei que não são muitos os que agem assim. Principalmente com Pedro, vez por outra noto um olhar no mínimo curioso dos espectadores que veem nosso cumprimento matinal.

Portanto, amigos leitores, se vocês forem daqueles felizardos que ainda tem pais vivos, beijem e abracem esse tesouro todos os dias. E se vocês têm filhos tomem a iniciativa para que eles não sofram quando for tarde demais.
Pronto; suavizei porém disse o que queria!

(Republicada a pedidos)

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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