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Francisco Leite Duarte é Advogado tributarista, Auditor-fiscal da Receita Federal (aposentado), Professor de Direito Tributário e Administrativo na Universidade Estadual da Paraíba, Mestre em Direito econômico, Doutor em direitos humanos e desenvolvimento e Escritor. Foi Prêmio estadual de educação fiscal ( 2019) e Prêmio Nacional de educação fiscal em 2016 e 2019. Tem várias publicações no Direito Tributário, com destaque para o seu Direito Tributário: Teoria e prática (Revista dos tribunais, já na 4 edição). Na Literatura publicou dois romances “A vovó é louca” e “O Pequeno Davi”. Publicou, igualmente, uma coletânea de contos chamada “Crimes de agosto”, um livro de memórias ( “Os longos olhos da espera”), e dois livros de crônicas: “Nos tempos do capitão” …

Dona Fatica

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publicado em 21/01/2022 às 07h53

Da morte, a gente só deveria falar, se fosse para testemunhar a vida. Para testemunhar a alegria de viver, basta a lembrança de Dona Fatica. Conheci-a em 1980, quando, saído da cidade de Uiraúna, fui morar em Sousa e me instalei no bairro da Estação, nas beiradas do Rio do Peixe, uns duzentos metros da casa dela.

Cheguei a sua casa por Plínio. Tínhamos idade aproximada, interesses comuns, como o jogo de futebol, o colégio Polivalente. Em pouco tempo, o terreiro da casa daquela mulher de sorriso sereno e olhar meigo se transformou em um campinho de futebol, com jogo suado, disputado, absorvido pela paciência dela na invasão da sua geladeira, em busca de um copo d’água. Meu Deus! Dona Fatica nascera para ser uma santa, sua raiz de profunda humanidade cedia à paciência, que era infinita.

A casa de Dona Fatica era aberta à vida como todo coração das pessoas de bem. Vivia cheia, pelas razões mais diversas, embora a energia por trás de tantas visitas fosse a alegria que sorria de um canto a outro no rosto daquela mulher singular.

Em minha casa, não havia televisão. A de Dona Fatica ficava na sala da frente. Sentado em uma poltrona fofa, discutíamos os destinos de todos os personagens da novela Pai herói, eu e ela. Em 1980, passei boa parte das tardes e noites na casa dela, vendo os filmes da sessão da tarde, lendo revistas em quadrinhos, preenchendo caça-palavras, tudo coisa nova que eu nunca havia visto.

Quando sua alma se punha quieta demais, ela ouvia músicas de Clara Nunes, Luiz Gonzaga e tomava um copo de cerveja, para sorrir a vida como se fosse uma lua grandona cheia de graça e luz.

Mas, os meus sonhos me levaram para muito longe. Depois de trinta anos, reencontrei-a na casa de Plínio, em Campina Grande. O mesmo sorriso, a mesma voz pausada, o mesmo olhar compreensivo. Eu levei para ela uma colônia bem cheirosa, com o maior amor do mundo. Agora, contam por aí que ela morreu. Mentira! Mulheres como Dona Fatica não morrem. Ressuscitam em cada lembrança que se tem dos gestos de amor.

@professorchicoleite

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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