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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

O clima e o desenvolvimento humano no mundo e no Brasil

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publicado em 31/10/2021 às 07h43

Toda vez que a mídia nacional noticiar sobre o aquecimento global, ela leva os brasileiros para mais próximos da 26ª Conferência das Partes (COP26) da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), que começa hoje em Glasgow, na Escócia.

Entre 31 de outubro e 12 de novembro de 2021, a humanidade precisa debater a crise climática no planeta. O Acordo de Paris da COP21 teve como principal objetivo limitar o aumento da temperatura do planeta a 1,5 grau Celsius até 2050. Após o Acordo de Paris em 2015, é preciso uma revisão das metas de 196 países para mitigar as mudanças climáticas na Terra e reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.

Nos dias atuais, precisamos estar atentos a COP26, as variações das temperaturas no mundo e no Brasil, além de entender a relação entre o clima e o desenvolvimento humano. Chama muito atenção que entre os dez piores Índices de Desenvolvimento Humano (IDHs) no planeta e na África, no ano de 2019, três países estão localizados no Deserto do Saara, Níger (0,394; 189ª colocação), Chade (0,398; 187ª colocação) e Mali (0,434; 184ª colocação), de acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano 2020, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD).

O Níger tornou-se independente politicamente da França em 03 de agosto de 1960. É um país africano com mais de 1,2 milhão de quilômetros quadrados e mais de 65% do seu vasto território inserido no Deserto do Saara, sem costa marítima. Tem aproximadamente 24,7 milhões de habitantes, a capital é Niamey, a moeda é o franco CFA e é um grande produtor mundial de urânio. É o país com a maior taxa de natalidade do mundo, com média de 7,6 filhos por mulher, como também, uma das 30 maiores taxas de mortalidade infantil do planeta, com 67,7 óbitos a cada 1.000 nascidos vivos em 2020. Infelizmente, a maioria da população mora em ocas sem banheiros e 72% das crianças são analfabetas, não sabem ler nem escrever em francês.

Já em Mali, as terras aráveis e os lagos sofrem com a desertificação. O Deserto do Saara é o maior deserto quente do mundo, tem uma área total de 9,4 milhões de quilômetros quadrados, sendo maior do que o Brasil, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados, e compreende onze países africanos, Argélia, Chade, Egito, Líbia, Mali, Mauritânia, Marrocos, Níger, Saara Ocidental, Sudão e Tunísia.

O IDH leva em consideração três importantes dimensões, a saúde, a educação e a renda. Outra importante constatação que entre os TOP dez do IDH na África, no ano de 2019, cinco países estão localizados também no Deserto do Saara, Argélia (0,748), Tunísia (0,740), Líbia (0,724), Egito (0,707) e Marrocos (0,683). Nas dunas do Deserto do Saara a temperatura pode chegar aos 50 graus Celsius de dia e é o lugar mais quente do planeta, enquanto à noite pode alcançar menos 10 graus Celsius.

Com uma visão sempre atualizada e consistente no tema do aquecimento global, revelamos que, entre 1850 e 2021, o Brasil ficou em quarto lugar na emissão de bilhões de toneladas de dióxido de carbono na atmosfera, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia, sobretudo, por causa do desmatamento da Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo, de acordo com o site britânico Carbon Brief.

Podemos perceber que os dez estados brasileiros com os piores Índices de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHMs), no ano de 2018, seis estados estão localizados no Polígono das Secas, Alagoas (0,683; 27° lugar), Piauí (0,697; 25° lugar), Sergipe (0,702; 23° lugar), Bahia (0,714; 22° lugar), Paraíba (0,722; 20° lugar) e Pernambuco (0,727; 18° lugar), conforme o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil, do PNUD em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e a Fundação João Pinheiro.

O Polígono das Secas compreende 1.348 municípios brasileiros, localizados em nove estados, Alagoas, Bahia, Ceará, Minas Gerais, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe e tem uma área territorial de mais de 1,1 milhão de quilômetros quadrados. É um vasto território com temperatura média podendo chegar a 41 graus Celsius e com a maior taxa de mortalidade infantil alcançando 17,7 por 1.000 nascidos vivos antes de completar um ano de idade em Sergipe, segundo o Ministério da Saúde.

A população mais pobre que vive no semiárido nordestino enfrenta sérios problemas socioeconômicos com atual crise hídrica. Recentemente, o governador do estado da Paraíba decretou situação de emergência, ocasionada pela estiagem em 150 dos 223 municípios paraibanos. Todavia, é necessário estimular a construção de cisternas, a produção de alimentos como frutas, legumes e verduras por irrigação, além da criação de caprinos, de ovinos e de galinhas.

A seca mais intensa e o avanço do desmatamento e da queimada no semiárido brasileiro tendem a agravar a desertificação, que já engloba uma área territorial do tamanho da Inglaterra. Dois estados se desertificaram mais entre nove estados analisados na Caatinga, Alagoas com 32,8% e Paraíba com 27,7% de sua área total, segundo o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

Já entre os estados TOP dez do IDHM no Brasil, o quinto maior país do mundo e o quinto maior emissor de gás metano do planeta, apenas um estado localizado no Polígono das Secas, o estado de Minas Gerais, na região Sudeste, com IDHM de 0,787, um IDHM médio.

A responsabilidade é nossa de manter a meta de 1,5 grau Celsius ao alcance da humanidade até 2030. Os atuais 7,7 bilhões de habitantes sabem que o clima influenciou no desenvolvimento humano de vários países como Níger e Chade e diversos estados brasileiros como Alagoas e Paraíba e continuará impactando nas próximas décadas. “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento a 1,5 grau Celsius pode ser impossível”, afirma o último relatório do IPCC.

A previsão mais pessimista é a elevação da temperatura até 2,7 graus Celsius ao longo do século XXI. Recentemente, o calor extremo, as chuvas escassas e o avanço das dunas do Saara expulsaram várias famílias pobres da cidade de Chinguetti na Mauritânia (BBC NEWS BRASIL, 2021). Recentemente, ocorreram as piores enchentes na Alemanha nos últimos 100 anos e na China nos últimos 1.000 anos, em ambas nações provocando mortes, desabando árvores, casas, pontes e postes, destruindo carros, trailers, motos e bicicletas (BBC NEWS BRASIL, 2021).

Urgentemente, precisamos de ações de qualidade para atingir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) em 2030 e no combate as mudanças climáticas, necessitamos de mais empregos verdes, carros elétricos, ônibus elétricos, motos elétricas, painéis solares, parques eólicos e eBooks, estes últimos não utilizam papel, logo, não derrubam árvores.

Hoje, no primeiro dia da COP26, junte-se a nós na promoção da economia verde em sua cidade, uma economia que visa o desenvolvimento econômico sem degradar o meio ambiente, uma economia de baixa emissão de GEE. Vamos nos envolver e agir na construção de um planeta mais próspero, mais saudável, mais sustentável, mais inclusivo e mais justo.

Enfim, vamos usar o nosso conhecimento para mudar a realidade atual.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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