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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O melhor amigo

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publicado em 14/09/2021 às 08h27
atualizado em 14/09/2021 às 08h26

Passo praticamente o dia todo no computador. Vez em quando meu filho Vítor sai de seu quarto, que fica próximo ao corredor onde trabalho, vem me abraçar e beijar. Quando não, grita de lá: “Kubitscheeeeek”  Isso dele dizer meu nome  espichado, já é um sol. Gestos, coisas da pele, falam por si. Vítor é o meu melhor amigo, meu grande amor.

Eu sempre quis entender o fato de tão bom viver com as palavras e seus significados. Eu nunca li um escritor tão fabuloso quanto Borges. Pode-se dizer que a sua imensa literatura, de uma vida toda, intensa, foi em torno desse rosário que são as palavras. Tomara que meu filho goste de ler Jorge Luis Borges.

O Borges (foto) das palavras perfeitas e imperfeitas, que soube substituir em mim a própria realidade, muito embora eu viva numa irrealidade, me perdendo para me encontrar.

Na verdade, é como se a realidade também fosse uma escola, apaixonante ou organizada – de muitas palavras. Eu gosto também da palavra ternura. Da brisa que o Brasil beija e balança.

As palavras de meu filho, me animam quando a tarde morre. Dias quentes chegando e frios na barriga. Ele não se veste de metáforas feito o pai, nem dos signos que representam outros diálogos.

Eu escuto a canção de Zé Manuel,  (do disco Meu Coração Nu), o pernambucano que toca piano no álbum “Noturno” de Maria Bethânia, uma combinação de múltiplas e pequenas delicadezas, na união  dos vocábulos cujas  canções surgem alinhadas aos montes, marcados por compassos, além dos tempos verbais e por predicados de qualidades e quantidades de significados. Ah, Borges! Ah, Vítor!

Para entender o discurso do outro, diz Borges, temos que esquecer o caráter metafórico dos vocábulos unitários para melhor compreender o sentido geral daquela fala, talvez, a companheira metáfora entre cenários oceânicos e símbolos outros. Não sei, o que cabe a um, não cabe ao outro.

O discurso do meu filho, sua amorosidade, luminosidades, que Deus o proteja.

Civilização antiga

Borges tem um conto que faz parte da coletânea “O livro de areia”, publicado em 1975 e, com um estilo que lembra fábulas, uma história de um poeta que teve a responsabilidade de escrever um poema sobre as batalhas e as vitórias de um rei. É incrível. Leiam. O que seria um spoiler? Estragar, né?

Para quê um palácio, se temos uma casinha lá na Marambaia? Só vendo que beleza.

Falei de Borges para lembrar Vítor, seu vigor, minha paroxítona preferida. Falarei de Vítor para lembrar seu avô, meu pai, Seu Vicente.

Vítor sabe encontrar as palavras  sossegadas, um homem feito, que tem paciência, sentimentos de antigas civilizações. Ele é filho de Deus.

Borges foi um blasfemo encantador, delirante, sábio.

Borges está incorporado a minha alma e creio, de parte da humanidade.

Kapetadas

1 – Ah! sempre as Palavras e as Coisas…Foucault… As Palavras de Sartre. Tem até um filme – documentário  “Palavra Encantada” de Helena Solberg  roteirista e cineasta brasileira. Assistam.

2 – As coisas são o que são só basta mudar.

3 – Som na caixa – “Hei de viver e morrer, como um homem comum”, Caetano Veloso.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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