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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A aventura sumiu

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publicado em 21/08/2021 às 07h54
atualizado em 21/08/2021 às 05h20

Veio um imêio de alguém. Eu já tinha perguntado se na vida de tal pessoa havia sexo, aventura e rock and roll em quantidade suficiente. Não que eu tenha sido deselegante. Jamais.

Era uma pergunta sem peso, pelo menos, sem aquele peso que a resposta assume. A verdade atacou-me de repente e fiquei preso na frase: “K, querido, a aventura sumiu”.

Não há aventura que dure. É preciso uma logística para debelar o que se anuncia. Isso da pessoa dizer que a aventura sumiu, pode ser tardio. Talvez, nuances da pandemia.

A mulher que mandou o imêio tem 60 anos. Mas eu não entendi porque ela deixou vazar que a aventura sumiu.

Não há grande metafísica nisto.

Não existem pessoas totalmente desventuradas. Simplesmente, envelhece-se porque é chegada a hora. Ficamos mais velhos porque ficamos mais experientes? Nem sempre, mas creio, ainda hoje, que é a única sabedoria que vale a pena destacar: aprender a ficar velho, a envelhecer, aprender a viver o tempo que nos resta.

Existem muitas pessoas difíceis de convivência e eu fico pensando em como lidar com elas. Tem jeito para tudo, menos para a morte. A morte resolve outras coisas, a depender da situação.

Penso que um ponto bom para enfrentar as relações complicadas, é um ponto médio entre a aceitação e uma certa resistência – é preciso agir. Ou se aventurar.

Ficar no nó entre essas duas forças, a que permanece e a que perturba, sem acatar a inércia, nem o combate remido, não tem quem aguente.

Não digo nada, mas estou tentando e só isso já é uma aventura. Carregar o peso da vida no corpo, na alma e no coração, não é para qualquer um.

Eu li que na década de 40, Marguerite Duras (1914-1996) escritora, cineasta e dramaturga francesa, conhecida como “A Imperatriz das Letras” fazia parte da resistência francesa e seu marido havia sido capturado pela Gestapo. Ela, por uma estranha espécie de solidariedade, mas também por total impossibilidade, quase não comia e estava como um deportado, mas não deixou de se aventurar

Assustadoramente, um oficial nazista com veleidades artísticas se encantou por Marguerite (foto) e a convidava para sair diariamente. Preocupava-se com seu estado de saúde e a levava a restaurantes clandestinos onde se servia carne fresca, vinhos, batatas e leite. Mas ela não estava faminta, porém atenta.

Sentiu-se forte o suficiente para enfrentar o inimigo. Marguerite Duras não estacou. A senhora M Duras, dizem, com muito prazer, matou o nazista. Caramba, que mulher!

Tá vendo, para tudo tem um jeito, só não podemos é deixar de nos aventurar.

Kapetadas

1 – Quem acha que nada vale a pena é porque ainda não se entregou a um travesseiro de plumas.
2 – Eu explico uma vez. Explico pacientemente pela segunda vez. Na terceira vez, bate a preguiça e apelo para o recurso “arquivar conversa”.
3 – Som na caixa: “Sou o seu bezerro gritando mamãe”, Caetano Veloso

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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