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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

A missionária

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publicado em 01/08/2021 às 08h26

O que faz uma pessoa se despojar de tudo na vida para abraçar uma missão de ajudar o próximo? Vou procurar dar uma resposta, reportando-me à vida de Camila e ver se encontro uma razão para tal. Por que faço esses questionamentos? Porque visitei, há alguns dias, um abrigo de menores carentes e encontrei uma problemática nunca imaginável. Observei que cada criança tem a sua história que nos remete a um processo de reflexão que nos deixa atônitos. Lá existem pessoas que são abnegadas, dedicadas vinte quatro horas por dia àquelas crianças, que encontram nelas verdadeiros anjos, que tentam suprir suas carências afetivas, de um pai ou de uma mãe, porque foram abandonados. Situação muito difícil que busca amenizar as necessidades bio-psico-sócio- cultural e emocional de todos os níveis, contribuindo, assim, para a formação do homem/mulher mais ajustado aos padrões do mundo civilizado.

Milhões de pessoas foram e são missionárias, muitas delas nós encontramos nas ruas como os que são missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias que servem em tempo integral em todo mundo. Outro exemplo temos, dos missionários jesuítas da Companhia de Santo Inácio de Loiola que vieram junto com Cabral e aqui permaneceram na catequese dos índios, com destaque para o Padre Jesuíta José de Anchieta (1534-1597), espanhol, conhecido como apóstolo do Brasil, que usou poesias e peças de teatro para auxiliar na conversão dos indígenas ao catolicismo, além de escrever a primeira gramática tupi. Beatificado pelo Papa João Paulo II e canonizado, em 2014, pelo Papa Francisco, hoje é santo da igreja católica.

Mas o que é então ser missionário/a? são jovens adultos que servem voluntariamente em qualquer lugar. Dependendo da religião a que pertencem recebem ensinamentos e se preparam para missões a desempenhar. Diferem os procedimentos e metodologias, mas os princípios de servir a Deus através de ajudar o próximo são os mesmos. Eles podem casar, não há proibição. Colocam de lado o emprego, a faculdade e outras oportunidades para concentrarem toda a atenção em servir ao próximo e em fazer o que Jesus ensinou aos apóstolos: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura.” Marcos 16:15.

Assim aconteceu com a minha conhecida Camila. Havia outras no abrigo e por que só ela me chamou atenção? Camila era de outro Estado, filha de pais juízes, com uma vida econômica e social de classe alta. Realizava o curso de arquitetura, encontrava-se no quarto período e abandonou-o. Deixou a família e os amigos pela causa de servir ao próximo em nome de Deus. Lá, em seu Estado, já exercia trabalho voluntário que podia conciliar as obrigações acadêmicas com as atividades voluntárias. Até que um dia ela comunicou à família que estava deixando a casa para dedicar-se ao serviço de Deus e assim o fez. Celebrou voto de pobreza que até a sandália que calça é recebida de doação, não tem nada. O que veste e come são coisas muito simples doadas pela comunidade.

Um aspecto que mais me impressionou, foi o sentimento da expressão do amor verdadeiro que devota àquelas crianças como se fossem suas, o carinho, a dedicação e o zelo. Vi em Camila o total desprendimento das coisas materiais, voltando-se totalmente para o mundo da espiritualidade, digo isso porque quando em contato com ela constatei seu relacionamento com Deus profundamente pessoal. Sua pregação do evangelho, seus aconselhamentos nos fazem acreditar que realmente é uma pessoa de Deus, a serviço do outro. Seus atos e ações nos aproxima de Deus e, num clima íntimo, pessoal e coloquial, receber resposta Dele para nossos questionamentos. Percebi-a como mentora espiritual que nos apoia em nossos desafios, nos ensina a ver Deus em todas as coisas, entender as escrituras e nos incentiva na fé.

Camila é uma verdadeira missionária, pois divulga a fé, e se dedica a pregar e levar sua crença religiosa a diversas pessoas e lugares, espalhando a palavra do Senhor. Cumpre seus propósitos que a fizeram adentrar no mundo missionário. Creio que para entender o que é ser uma missionária é preciso penetrar no significado bíblico, teológico e prático da missão e do fato de evangelizar. Segundo orientações da Igreja Metodista do Brasil, “ Evangelização, como parte da Missão, é encarnar o amor Divino nas formas mais diversas da realidade humana, para que Jesus Cristo seja confessado como Senhor, Salvador, Libertador e Reconciliador.

A profissão, diferentemente da missão, apresenta etapas de formação e desenvolvimento que dão ao homem conteúdos e habilidades específicas em uma determinada área de conhecimento, tornando-o apto à sua atuação. É certificada sua competência com um diploma expedido por uma Instituição de Ensino. O desempenho profissional sempre é remunerado. Na sociedade pós-moderna, industrial e capitalista pressupõem-se ideias de igualdade, liberdade, sucesso individual e progresso.

Como se observa, as missionárias, para exercerem as suas funções, encaram a atividade desenvolvida com as crianças e adolescentes como atividade impulsionada pelo amor de Deus, que não visa lucro e sacrifício para poder cumpri-la e desempenhar um trabalho ou ocupação que objetiva servir ao bem do outro, e que isto não se constitui como um meio de vida. Há uma verdadeira doação. Constatei, então, que Camila internalizou esse amor de Deus e não foi difícil despojar-se de tudo, porque encontrou uma razão maior no seu viver. Sublimação!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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