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Paulo Galvão Júnior é economista, escritor, palestrante e professor de Economia e de Economia Brasileira no Uniesp

A relação da crise da COVID-19 com a educação universitária no Brasil

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publicado em 19/03/2021 às 07h17

Há mais de um ano, surgiram os primeiros casos da COVID-19 na China, em seguida, no mundo e no Brasil, e com isso também vieram os primeiros problemas. O distanciamento social foi a primeira medida para evitar a propagação do novo coronavírus, todavia, aconteceram inúmeras mudanças na economia brasileira, a partir do fechamento de atividades que causam aglomerações como universidades, escolas, shopping centers, e só abertura de atividades essenciais como padarias, farmácias, supermercados.

No Brasil, a crise econômica acontece em vários setores como o turismo, o comércio, além da educação, que são os principais segmentos afetados do primeiro momento da epidemia, que posteriormente, transformou-se numa pandemia até o momento atual. Desse modo, nesse artigo, vamos observar a conexão da crise da COVID-19 na qual estamos inseridos para com a educação universitária no Brasil.

Em primeiro plano, vemos que a pandemia modificou todas as atividades no mundo e no Brasil. No entanto, para o setor da educação a ajuda da tecnologia foi fundamental e estamos conseguindo passar por essa fase confiantes de que o cenário atual mudará. Apesar disso, vê-se que a realidade brasileira é muito precária, pois, durante o primeiro semestre de 2020, 10,1% dos estudantes trancaram matrícula ou desistiram do ensino superior, segundo a Associação Profissional das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo (SEMESP).

Isso nos fez refletir sobre os principais problemas que a crise da COVID-19 trouxe as instituições de ensino superior (IES), aos discentes e aos docentes no país: (i) as condições de acesso à internet; (ii) a qualidade da conexão digital dos estudantes e dos professores; (iii) as habilidades para acessar e conduzir as aulas remotas; (iv) a relação comportamental de ensino e aprendizagem; (v) o acesso aos computadores, notebooks, tablets, celulares e smarthphones; (vi) as instituições particulares no custeamento salarial dos docentes; (vii) a taxa de evasão estudantil alta; e (viii) a taxa de trancamento de curso elevada.

A saída dos estudantes das universidades privadas no momento atual decorre por inúmeros fatores, entre eles, destacamos: (i) as condições financeiras; (ii) o acesso à internet (com despesas mensais entre R$ 60 e R$ 200) e as plataformas digitais; (iii) o acesso as ferramentas tecnológicas. Através de uma pesquisa feita pelo Grupo de Estudos e Pesquisas Interdisciplinares em Currículo e Sociedade (GEICS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) foi concluído que 40% das causas de desistências do ensino superior foram por conta da falta e da complexidade de adaptar-se aos meios tecnológicos, ou seja, muitos alunos não possuem condições financeiras, não conseguem manter internet nem Wi-fi em casa, sem dados móveis velozes para assistir as aulas remotas pelos celulares e sem recursos para adquirir as ferramentas tecnológicas, o que lhes resta é trancar ou optar pela evasão de seus cursos universitários.

As universidades particulares também têm estado em situações difíceis, pois a demissão em massa de professores universitários foi um dado alarmante no ano de 2020, só em julho do ano passado, cerca de 120 professores foram demitidos da Universidade Cruzeiro do Sul e isso reflete em 30% da estrutura docente da instituição, de acordo com o Sindicato dos Professores do Ensino Privado de São Paulo (SINPRO-SP, 2020). Entretanto, isso foi o retrato da evasão e do trancamento universitário, com tantos alunos saindo das IES, o reflexo vai diretamente no custeamento dos professores. Com turmas muito pequenas, a universidade fica quase que impossibilitada de arcar com os salários dos docentes, por isso, vem ocorrendo essa situação de demissão ou corte dos salários.

Destacamos que o Governo Federal tenta reeditar a Medida Provisória (MP) 936/2020 que permite a redução proporcional do salário e da jornada de trabalho, e a suspensão do contrato de trabalho. A MP 936 reeditada permitirá o Governo Federal complementar a renda do(a) trabalhador(ra) com carteira de trabalho assinada por quatro meses.

A relação comportamental entre ensino e aprendizagem tem sido muito difícil, o docente atua como o mediador do conhecimento para com o discente, diante das plataformas digitais, isso está sendo um dos maiores problemas, pois o ensino remoto dificulta a assimilação e para alguns estudantes absorção do conhecimento fica abaixo do esperado. Para o professor essa relação é de certa forma mais complexa, o docente fica contido e retido o que é informado pelo discente, e as condições de aprendizagem são mais difíceis.

Percebe-se, portanto, que diante da crise do novo coronavírus, vivemos grandes adversidades, que precisam ser muito bem pensadas, repensadas, pois, tomar decisões em tempos de pandemia requer um cuidado redobrado. É importante que a IES pública ou privada tenha um olhar cauteloso para resolução desses conflitos que o SARS-CoV-2 nos trouxe diuturnamente. É fundamental nesse período de aulas remotas que exista um canal de diálogo permanente e direto entre alunos e professores durante o período letivo, mostrar como funcionam as plataformas digitais em que estão inseridos e que exista uma forma de contato do aluno com a coordenação de seus respectivos cursos, através de e-mails, chats, telefones, para sanar dúvidas, além das IES que auxiliem os professores, os capacitando para usar as plataformas necessárias para as aulas remotas.

É preciso destacar os esforços das IES nas cinco regiões do País, como bom exemplo, o Centro Universitário UNIESP, localizado na cidade portuária de Cabedelo, que no semestre 2021.1 está oferecendo uma educação de qualidade, utilizando as plataformas tecnológicas disponíveis como o Google Classroom, Google Meet, aluno online, professor online, biblioteca virtual do UNIESP, além de capacitação aos docentes e explicações acadêmicas aos discentes pelo YouTube, sobretudo, aos alunos novatos.

Não restam dúvidas na crise da COVID-19, a educação de qualidade é fundamental para mudar os rumos do Brasil, a décima segunda economia do mundo, com um Produto Interno Bruto (PIB) nominal de US$ 1,420 trilhão em 2020 (AUSTIN RATING, 2021) e a oitava nação mais desigual do planeta (PNUD, 2020). O maior líder da luta pela igualdade de direitos na África do Sul de todos os tempos, Nelson Mandela, brilhantemente enfatizou, “A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”.

Concluímos, que nós, docentes e discentes, estamos juntos ao mesmo tempo distantes em plena pandemia da COVID-19, “Unidos pela Vacina”, “Unidos na busca do ouro do século XXI” e “Unidos contra os 92 tributos no Brasil”. Em síntese, é necessário que sejam propostas as soluções para os oito pontos citados acima, que são indispensáveis. Embora, seja provável que nem todos esses oito itens ocorram apropriadamente para todas as realidades vividas, mas se deve levar em consideração a real necessidade da IES, dos docentes e dos discentes.
Nota – O artigo realizado a quatro mãos, pela Thamirys Augusta Firmino Figueiredo, aluna de Administração no UNIESP, e pelo economista Paulo Galvão Júnior, professor de Economia no UNIESP.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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