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Marcos Pires é advogado, contador de causos e criador do Bloco Baratona. E-mail: [email protected]

Como assim, vocês não adoeciam?

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publicado em 30/01/2021 às 07h14
atualizado em 29/01/2021 às 21h15

Minha neta Aurora é uma boa ouvinte das histórias que conto, porem imagino que ela pensa serem invenção. Adora o romance de Inês de Castro e Dom Pedro, que de tão belo parece conto de fadas. Dia desses fiquei imaginando qual seria a reação dela se eu contasse como era a nossa vida antigamente. Por exemplo, quando íamos à praia não usávamos filtros para proteger a pele e evitar os tais raios ultravioleta (UV). Ao contrário, usávamos produtos para “queimar” a pele, lembram disso? O que passávamos no corpo seria inimaginável hoje em dia; coca cola, margarina,(foto) óleo Johnson, urucum, canela, água oxigenada, suco de beterraba, parafina, um tal “raíto de sol” que vinha da Argentina, vaselina, óleo queimado de avião, uns pacotinhos que pareciam mini travesseiros (que bexiga continham ninguém desconfiava), afora as misturas onde a campeã juntava óleo Johnson com sucos de beterraba e cenoura.

Imagino o espanto da minha neta ao ouvir que além de não nos protegermos dos raios ultravioletas ainda incentivávamos a agressão à pele lambuzando-nos com essas porcarias. É como se o UV não existisse à época, só tivesse sido inventado recentemente. Com seus belos e enormes olhos, ela os arregalaria e com certeza perguntaria:”- Ô vovô, como assim, vocês não adoeciam?”. Eu daria então uma boa risada e contaria a ela que naquele tempo não existiam essas doenças de hoje. Na verdade, até parece que as doenças de antigamente deixaram de existir. Nunca mais ouvi falar de alguém sofrendo de antojo, espinhela caída, dor nos quartos, frieira, bicho de pé, lombriga, pereba, olho remelento, bilora, moleira mole, farnezim, pano branco, fastio, unha fofa, difruço, dentiqueiro, verruga, papeira e tanta coisa mais.

Será que minha neta vai acreditar quando eu contar que nós comíamos algodão doce (japonês) que vinha em sacos plásticos cheios do ar dos pulmões do vendedor? E aqueles pirulitos que eram exibidos às dezenas espetados numa tábua? Podres delicias. Antigamente não existiam selos de qualidade, prazos de validade, sequer a possibilidade de trocar um produto estragado. Mas sim, minha neta, nós não adoecíamos por consumir ou usar tanta porcaria.

Acho que o tempo nos tornou mais vulneráveis ou quem sabe em algum momento as multinacionais de farmácia começaram a criar doenças com as quais multiplicam seus bilionários lucros vendendo remédios

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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