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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

O determinismo de T. S. Eliot

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publicado em 26/01/2021 às 08h10
atualizado em 26/01/2021 às 05h32

Numa conferência sobre “A Literatura da Política”, durante um almoço literário organizado pela London Conservative Union, em 19 de Abril de 1955, T. S. Eliot (foto) disse que o determinismo exerce uma forte atração emocional: “pode atrair o mesmo tipo de espírito que acredita nas possibilidades ilimitadas da ação de planear”. Eu fiquei curioso e fui atrás.

O escritor foi mais determinado ao afirmar que “assomos de energia àqueles que são capazes de se convencer a si próprios de que o que querem que aconteça vai de qualquer modo acontecer, e àqueles que gostam de sentir que vão ao sabor da maré: e todos temos ouvido dizer, de vez em quando, que a liberdade se encontra unicamente na aceitação da necessidade”. Mais atento ainda fui atrás dessa necessidade.

Não me arrisco a tal hipótese hereditária, mas logo se impõe a ideia de que as circunstâncias desenham as coisas, assim como as escolhas. Ora, meu pai lia bastante e o fato de eu gostar dos livros não tem parentesco com ele. Meu pai lia por uma necessidade, eu por outra. Ele fazia o estilo do homem que vivia numa cidade do interior e precisava conhecer mais do que as imagens lhe passavam. E estava certo.

Se Freud não explica, a ciência menos ainda, mas o determinismo têm suas vantagens para muitas coisas. Olhando para o nosso caso, diria que tudo de vocação, um cibo de valores e talvez mais do que possa parecer a velha timidez.

Sim, somos todos tímidos ou parecemos, até o embate com o complexo de inferioridade, mas isso é outra munição. Fernando Pessoa explica bem direitinho quando diz que: “são-me simpáticos os homens inferiores porque são superiores também”,

Muitos ficam em suas poltronas num dia de domingo, por trás das grades das janelas dos apartamentos, (hoje mais presos do que nunca), sem haverem experimentado a acidez e a justiça, talvez a loucura soberba a perfurar a mesmice enferrujada.

Vem de longe. Sim, vem longe. Crescer incube sofrimentos. Acerca de valores, nada mais interessante do que disse T. S Eliot há mais de meio século, com o tal do determinismo. “Tudo o que fazemos terá algumas consequências imprevistas e que por vezes os nossos disparates mais absurdos têm os resultados mais felizes e que temos de nos adaptar constantemente ao novo e ao inesperado”.

Isso dele dizer ao novo, ao inesperado reflete ainda mais no determinismo, no que ele mesmo conclui, que assumamos a carcaça de intolerância ao erro que aprendemos a mastigar mais para incomodar do que para resolver.

Minha mulher reclama todos os dias, quando estamos almoçando e ela me faz uma pergunta e meu raciocino veloz se apressa na resposta, com a comida a boca. Ela diz que é feio. Na verdade, o que é bonito? Será que eu teria uma resposta melhor, depois de mastigar a comida demoradamente?

Situações momentâneas. Só damos por isso quando já é outra conversa, buscando sentidos verticais. A verdade é que, por vezes, o determinismo nunca atrapalha, favorece: ser determinado é ser contínuo.

Se Eliot diz que o determinismo exerce uma forte atração emocional, então, estou a caminho.
Fiquem atentos todxs, namorates ou não, a Linguagem Neutra está por aí…

Kapetadas
1 – Lembra quando a gente falava “Imagina na Copa”? Esquece.
2 – Dia sim, dia não, todo mundo é constante.
3 – Som na caixa: “É um caco de vidro, é a vida, é o sol/ É a noite, é a morte, é um laço, é o anzol”, Jobim

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