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Professora Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP]. E-mail: [email protected]

Natal da criança velha

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publicado em 13/12/2020 às 10h48

Uma casa cheia de vida, em que habita um casal de idosos. É nela que os eventos da família acontecem. Com três filhos casados cada qual com dois filhos. São 6 netos. Ora a casa está vazia, silenciosa, ora de repente se torna barulhenta, desordeira e bagunçada; é a chegada dos netos. Eles encantam e tornam felizes os avós, pois sua presença é testemunho da perpetuação de suas existências. Nessa época natalina as crianças estão eufóricas, pois em seu imaginário desejam que seus sonhos se realizem. Centram-se na figura protótipo de seus desejos, o Papai Noel, que, segundo o mundo fantasioso, pode tudo. A partir daí surgem as cartas que colocam na mesa, debaixo dos pratos dos pais e avós, nas janelas, com seus pedidos para ele apanhá-las à noite. No outro dia conferem se as cartas ainda lá estão. Ao sinal que as levou, gritam: Papai Noel pegou as cartas! É aquela folia. Surge a expectativa. Será ou não será que ele vai dar o presente? São impostas condições: tomar banho sem chorar, comer a comidinha toda, obedecer aos mais velhos e por ai vai. Sempre vem a pergunta para certificarem se está assegurado o presente de Natal. Voinha, voinho, eu estou comportando-me bem? Sempre dizem que sim. É uma maneira de assegurar que vão ganhar o presente. Geralmente aparece um Papai Noel na tarde/noite do dia 24, e ele distribui os presentes. Após a distribuição dos presentes é realizada a tradicional ceia com todos os protocolos realizados. Assim, acontece a festa do Natal.

Época de Natal. (foto) Oportunidade de aconchego dos entes queridos para afirmar quanto os amamos e dizer que são importantes para nós. Tempo de confraternização e de perdão. Para nós cristãos católicos, a festividade foi resinificada no século III com o intuito de estimular a conversão dos povos pagãos sob o domínio do Império Romano e então passou a comemorar-se o nascimento de Jesus de Nazaré no dia 25 de dezembro do ano 1 d.C., em Belém, cidade localizada na atual Palestina como um dia santificado. Como os antigos cristãos afirmavam, o Natal é “A festa do novo nascimento de Cristo”. É a manifestação nova do Cristo ressuscitado. Para os ortodoxos é o dia 7 de janeiro e para os armênios é o dia 6 de janeiro. Costuma-se trocar presentes, cartões e promover a Ceia de Natal; há músicas típicas natalinas, comemora-se nas igrejas e nas casas de família; os lugares públicos recebem decorações luminosas diferentes, com pisca-piscas, guirlandas, presépios e árvores de natal, nos enchendo de alegria e felicidade. Além de tudo isso, temos a figura mitológica do Papai Noel associada aos presentes para as crianças. Nos primórdios a festa tinha relação com o calendário do ciclo solar e com o agrícola. Marca o solstício do inverno, sendo o dia mais curto no hemisfério norte. Daí a vestimenta característica do velhinho rechonchudo, de barba branca e traje vermelho de inverno. A ideia do Polo Norte surgiu como estratégia da Finlândia para atrair o turismo local. O comércio vibra e estimula os adultos e crianças com propagandas, aumentando o consumo, gerando movimentação considerável, faz parte do mundo capitalista. A figura do Papai Noel está intimamente relacionada com a figura de São Nicolau, um bispo católico, nascido na Turquia, no século IV, que viveu na cidade de Mira, e ajudava pessoas carentes. Tinha a mania de deixar moedas junto a chaminés das pessoas humildes durante a noite.

No meio dessa expectativa, com aquela ansiedade para que chegue logo o dia 24, as crianças ficam sempre perguntando: Está perto ou longe? Quantos dias faltam? É chegado o dia em que os avós ao sentarem à mesa, para o café da manhã, encontram algo debaixo de seus pratos. Julgaram que fosse mais uma de seus netos. Leram. Qual foi a surpresa: tratava-se de uma cartinha de uma funcionária da casa. Dizia: “Papai Noel, tenho 24 anos, só tive uma bicicleta velha caindo aos pedaços. O meu sonho é possuir uma bicicleta nova. Por favor, realize este meu sonho. Beijos de uma criança velha. Para Papai Noel, de Sueli “. Ao ler a missiva o casal ficou muito sensibilizado. O que acontecia em sua casa, nem se davam conta; uma agregada nunca havia experimentado o clima do Natal próprio da criança. Alimentava um sonho tão pequeno e que para aquela moça representava tanto. Sempre o presente que ela queria ia para a casa da frente. Papai Noel errava o endereço e dava a outra menina. Esquecia dela.

Constata-se que as desigualdades sociais transparecem, mesmo que o espirito cristão intencione promover a confraternização humana, em que todos somos iguais. As diferenças permanecem. Isto desde os primórdios: existem as pessoas que possuem recursos e as que não os têm. Atualmente, não é diferente. O caso de Sueli é típico da pessoa que não viveu a etapa de ser criança possuindo um sonho no seu imaginário e que na circunstância em que vivia, tornava-se impossível. Faltavam-lhe condições econômicas. Fica a impressão que a vida foi muito dura com Sueli, pois não permitiu que vivenciasse aquela fase comum da infância. No confronto com as outras, regrediu na idade e enxergou a oportunidade de realizar o sonho acalentado há tanto tempo. Assim, o sonho de Sueli foi satisfeito em nome do Papai Noel. Fez-se feliz aquela criança velha.

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