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O que é um milagre? Fato ou fenômeno à primeira vista não acreditável. Como ele acontece? Ocorre de forma inesperada e sem previsão, pelo contrário, nunca se prevê. Geralmente, quando nos referimos a milagre concebemos como algo extraordinário à luz da razão e da epistemologia, fenômeno que não existe explicação plausível para o acontecimento ocorrido, transgredindo todas as leis naturais que pudessem oferecer mais detalhes ou as razões das relações causais.
Para o que denominamos milagre há diversas óticas, aspectos, níveis e propósitos definidos a abordá-lo. Atribuem a intervenção divina, considerando obra de Deus, manifestação do sobrenatural como ação para beneficiar pessoas merecedoras, adeptas à moral e a fé. Isto implica em doutrinas religiosas; católica, espirita etc. Para os agnósticos e cientistas não há milagre. Os fatos e fenômenos ocorrem devido as leis naturais inexoráveis, diante de uma realidade universal. Conforme o entendimento cientifico a ciência baseia-se em fatos verificáveis, geralmente orientados por teoria cientifica e a natureza funciona como ela é. Nesse sentido o matemático e historiador britânico, Jacob Bronowski disse: “O homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão. É por isto que a ciência teve sucesso onde a magia fracassou: porque ela não buscou um encantamento para lançar sobre a natureza”. Falei sobre o entendimento de milagre, mas não é o propósito explorar o tema.
Quinta-feira passada, chovia muito e vieram à aula de hidroginástica 5 alunos, quatro desistiram da aula, então fiquei conversando com Elizabete, uma senhora mãe da pequena Vitória. Nos conhecíamos há algum tempo, mas não houvera oportunidade para um bate papo mais profundo como naquela tarde. Fui sabedora que Elizabete era portadora de uma doença rara chamada Talassemia major. Fui investigar o que seria? Conhecida também como Anemia de Cooley, que é a forma grave. Enfermidade genética provocada por um defeito na produção da hemoglobina, causada por herança genética decorrente da imperfeição de dois genes, um de cada progenitor.
A pessoa que é portadora da Talassemia major possui anemia grave e pode apresentar: aumento do baço, alterações ósseas ocasionando deformidades, atraso no crescimento, ferro em excesso no organismo. O tratamento da doença é feito através de transfusões regulares de sangue para compensar a anemia e a quelação de ferro, que consiste na sua retirada evitando a sobrecarga. Procedimento necessário durante toda vida o que implica em ser acompanhado por um hematologista que monitora a evolução da doença promovendo os reajustes necessários.
Noutra ocasião a professora e eu tornamos a conversar com Elizabete enquanto esperava Vitória, que fazia hidroginástica e a história de sua vida foi retomada. Casou-se com um militar da polícia civil, considera-se bem casada e possui um lar harmonioso, onde reina clima de amor. Formou-se em Administração, mas nunca teve oportunidade de exercer a profissão. Hoje é empresária e administra uma loja que vende artigos para mulheres, roupas, bijuterias etc. Se considera comerciante. Ela acrescentou que era a caçula de uma família de sete irmãos e a sua doença foi descoberta logo na infância e desde esse tempo recebe a assistência do Hemocentro da Paraíba, que, segundo seu relato, foi uma das clientes fundadoras. Descreveu a doença dizendo que era dependente do doador de sangue. Todo mês tinha que tomar a transfusão, porque a sua medula produz, mas com deficiência e o seu organismo identifica como anticorpo e aí destrói as hemácias. E assim se expressou: “Eu sou um milagre de Deus; só Ele pode explicar o que se passa comigo. Os médicos afirmavam e ficavam admirados pois eu fugia a tudo que havia na literatura cientifica com relação a minha doença e principalmente no que diz respeito a minha gestação. Fiquei grávida, mas não senti nada, a não ser uma fome desesperada que tinha vontade de comer e não parar. Por duas vezes fui parar no hospital passando mal por comer demasiadamente. Os médicos mandavam parar de comer, dessa maneira, por que a criança não ia ter como se acomodar, já estava muito grande para o seu tamanho”. Eles ficavam estupefatos porque na medicina havia casos de gravidez, mas em pacientes mais novas, Elizabete tinha 36 anos e a doença provoca menopausa precoce. Disse-nos que de acordo com os médicos foi dito que possuía um útero infantil, e havia pouca chance de engravidar devido a suas próprias condições físicas, que eram desafiantes para sua vida o que a deixou sabedora que jamais teria chances de gravidez e só a condição de estar viva já era motivo de agradecimento a Deus. Na época que apareceu com a doença o fato tomou notoriedade no hemocentro e na gravidez a repercussão tomou proporções a nível estadual, nacional e internacional manchetes em todos os jornais. Seu caso foi amplamente divulgado e estudado. Ela nos falou que ainda hoje tem os recortes de revistas e jornais falando do parto e do nascimento de Vitória.
Elizabete relatou que no prédio onde mora promove durante o mês de maio a reza do terço mariano, todos os dias, com os moradores. Isto há muito tempo. Numa dessas ocasiões, na primeira sexta-feira, participou uma senhora que era conhecida na redondeza porque costumava ter visões, possuía o dom do Espirito Santo e é muito espiritualizada. Falou para o grupo que uma pessoa ia receber uma grande vitória. Alguém ali estava grávida ou ia ficar grávida. Na hora as pessoas se entreolharam sem atribuir a quem aquelas palavras se dirigiam. Nesse condomínio predominavam pessoas de mais ou beirando os quarenta anos e a mais nova era ela, fora umas adolescentes. Ela pensou…. Não sou eu, meu útero corresponde a uma criança de sete anos, não tenho condições de engravidar. Não pode ser comigo. Ao passar uma semana não se sentiu bem, mas atribuiu a alguma coisa que havia comido. Ainda no mês de maio, arrumando a casa, escutou uma voz que dizia: o nome da criança, é Vitória. Ela tem uma vizinha, Berta, e chamou-a, venha cá, aconteceu uma coisa comigo. Escutei uma voz que dizia o nome da criança, é Vitoria. Quem será que está gravida para eu poder dizer isso? Berta achou estranho e ela em momento nenhum atribuiu e acreditou que a mensagem era para ela.
Passaram-se quatro dias do acontecido, começou a passar mal e vomitar, aí foi parar no hospital. Lá ela descobriu que estava grávida. Mobilizou uma equipe de médicos de várias especialidades para estudarem o caso. A médica obstetra aconselhou-a fazer um aborto, você não tem condições de levar adiante esta gravidez. Seu corpo não comporta esta gravidez. Vai haver complicações e você pode morrer. Naquele momento reportou-se ao que ouvira durante o terço e a voz que falou para em sua casa e que agora tinha certeza que a mensagem foi a ela dirigida. Tomou decisão: eu vou ter essa criança e quem me deu ela foi Nossa Senhora. Ela foi anunciada no mês mariano e não quero abortar. A médica também era uma mulher de muita fé. O impasse ficou entre a ciência e a fé. O que se há de fazer? A médica disse-lhe que já foi um milagre ter engravidado. Que para a ciência não havia esta possibilidade. Vamos estudar como tratar o caso na Universidade. Vários médicos de especialidades diferentes dedicaram-se ao fenômeno daquela gravidez atípica. Elizabete afirma que sua médica ginecologista era também uma mulher de muita fé. A gravidez evoluindo e já com seis meses de gestação e havia muita expectativa com relação ao desfecho desse caso. Será que a criança vai nascer saudável? A ciência não dava explicações. Estava Elizabete com 36 anos.
Um dia chegou ao consultório da obstetra quando a abordou que ouviu falar de um terço que estava havendo aqui em João Pessoa em outro bairro e que vinha um rapaz que era de São Paulo e que ele tinha dons do Espirito Santo, conseguia fazer revelações, então a médica disse: Elizabete, que tal a gente ir a esse terço? Algo me diz que era tão bom que agente fosse. Eu pego você em sua casa. E assim foram. Chegando lá rezaram e quando estavam no meio do terço o rapaz falou: tem uma pessoa aqui que tem dúvidas sobre o poder de Nossa Senhora, mas ela está dizendo assim: não tenhas dúvida, sua Vitória vai nascer bem e saudável. Repetiu não tenha dúvidas. Na hora elas se entreolharam e disseram: essa mensagem é para a gente. Ao término do terço a médica foi junto dele e perguntou, Sérgio: essa criança vai nascer bem? Ele afirmou: não se preocupe, essa criança foi enviada por Nossa Senhora de Fátima, vai nascer saudável e bem. Não vai acontecer nada com a mãe, Esta menina é uma Vitória. Ele para elas era um desconhecido, não tivera contato com elas em hora nenhuma e o que ele falou aconteceu. A criança nasceu bem, sadia e Elizabete colocou o nome da menina Vitória de Fátima. Hoje Vitória tem 7 anos.
Vejam este caso de Vitória, existem duas linguagens, a científica, que apesar dos esforços envidados não encontraram a explicação plausível para contar a verdade sobre o processo do desenvolvimento gestacional e o nascimento de Vitória ocorrer sem anormalidades e nenhuma intercorrência clínica. A segunda é a linguagem espiritualizada que não nega a ciência mas acrescenta o poder de Deus agindo sobre o homem e nessa circunstância não precisa serem dadas explicações porque só o acontecimento do fenômeno explica por si só. Faz-me lembrar as palavras de Albert Einstein quando escreveu o ensaio Religião e Ciência para o New York Times Magazine, em 1930 e manifestou a presença de Deus, quando abordou o tema ciência e religião: “A ciência sem a religião é manca, e a religião sem a ciência é cega”.
Profª. Emérita da UFPB e membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba (AFLAP
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EM CAMPINA GRANDE - 21/05/2025