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Titular em Letras Clássicas, professor de Língua Latina, Literatura Latina e Literatura Grega da UFPB. Escritor, é membro da Academia Paraibana de Letras. E-mail: [email protected]

É Democracia ou não é?

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publicado em 03/12/2020 às 14h04

Muita gente dizendo que o povo não sabe votar, por conta das escolhas feitas na(s) última(s) eleição (ões). Quando Pelé (foto) disse isso, há alguns anos, quase foi massacrado. Hoje, a esquerda endossa Pelé como teórico, apesar do amor incondicional ao queridinho argentino Maradona.

Mas voltemos às eleições. Alguns mais excitados e com aquela espuma inconfundível no canto da boca, chegam a chamar as escolhas eleitorais pelo voto de fascismo, repetindo uma expressão que já não choca ninguém, diante da banalização de utilizá-la para falar do que lhe desagrada: se o seu candidato não foi eleito, apesar do voto democrático ter sido, mais uma vez, exercido, é porque o povo escolheu o candidato fascista. É o que disseram do candidato eleito para prefeito, no Recife, que é do PSB…

Os mais furiosos, pois o espectro da loucura varia muito, esquecem de uma verdade substancial: a base da democracia é o povo. Quando a democracia foi criada, a intenção era o poder sair das mãos de um só e de sua família, para que todos pudessem exercê-lo, a partir das escolhas do povo. O povo, portanto, é soberano. As suas escolhas também. Se a escolha é boa ou ruim, isto é outra história, além de ser relativo: bom ou ruim para quem e considerando o quê? A democracia procurou se aperfeiçoar, ainda na Grécia antiga, inventando o ostracismo como mecanismo político, para evitar a continuidade das más escolhas, levando o demagogo a ser exilado por dez anos, por ter sido tentado à viciação do processo democrático, querendo ficar indefinidamente no poder.

É verdade que as famílias se revezam no poder há muito tempo, sobretudo no Brasil. Só não entram na política o cachorro e o papagaio, porque ainda não acharam como justificar o método de Calígula. O povo, por sua vez, continua a escolher os mesmos, porque são os mesmos que são dados para a escolha. São os mesmos que determinam as regras do jogo.  São os mesmos que legislam em causa própria. São os mesmos que, pois, continuarão a se revezar no poder. Mas não vamos colocar a responsabilidade das escolhas e das mudanças apenas na mão do povo. Aqui na Paraíba, por exemplo, havia, ao menos, três candidatos bem representativos que não foram eleitos para vereador: um era negro e músico, outro era professor e filósofo – professor mesmo, que sabe onde fica a sala de aula e fez disso a sua profissão –, e havia uma mulher negra, professora, com um trabalho de anos, na luta pelo direito dos deficientes. Não foram eleitos. Onde está, então, a força dos que vivem se lamentando por ter sido eleito, para presidente da república, um belicista e não, como supõem, um professor? Por onde andam os que vivem apregoando mais livros e menos armas ou o livro é minha arma, chavões batidos que não impactam mais ninguém? Onde estão os que lutam por inclusão social e os que dizem ser a cultura importante? A esquerda, no pleito para prefeito, sem contar o PV (ainda é de esquerda?), somou 47. 230 votos. A mesma esquerda só fez dois vereadores, que somaram um total de 6.160 votos. O que aconteceu? Para onde foram outros 41.000 votos? Alimentaram um fantasma inelegível, desdenhando o outro candidato dito de esquerda, e os votos para vereador se diluíram entre a direita, brancos, nulos e abstenções.

Por outro lado, se a democracia é a vontade do povo, como um todo, ela não é, e jamais será, propriedade de intelectuais, de cientistas, de filósofos – a começar por Platão, que não via a democracia com bons olhos. E a vontade do povo deve ser respeitada ou não é democracia. Se acharem que democracia é só a vontade de um grupo, por se achar mais esclarecido e mais inteligente do que os demais – a grande presunção burra da esquerda –, isto não é democracia é autoritarismo, visível na não aceitação de que o povo escolhe o que lhe dão.

Há duas maneiras de mudarmos: a criação de um projeto de educação nacional, sólido, irreversível, incontornável. Projeto de Estado, contando com o empenho de todos, sem interesses partidários, implantado em todos os locais do país, ainda que pouco a pouco; projeto que priorize ler, escrever, interpretar, calcular, cultura geral e ciências físicas e biológicas básicas; projeto em que a escola seja acolhedora, tenha autoridade, infraestrutura, segurança dentro dela e no seu entorno, bons professores, bem pagos, e seja um local onde se reafirme a ética, as  boas e educadas relações sociais, o respeito ao outro, fora e dentro da escola, começando com o respeito ao professor. Levará tempo, mas em pouco mais de uma década, veremos o resultado. A sociedade, será outra com o emprego decorrente do investimento maciço na educação, realizando a inclusão social.

A outra opção é a ruptura com a democracia, desautorizando o voto popular, a dito de esquerda, e os votos para vereador se diluíram entre a direita, brancos, nulos e abstenções.

Por outro lado, se a democracia é a vontade do povo, como um todo, ela não é, e jamais será, propriedade de intelectuais, de cientistas, de filósofos – a começar por Platão, que não via a democracia com bons olhos. E a vontade do povo deve ser respeitada ou não é democracia. Se acharem que democracia é só a vontade de um grupo, por se achar mais esclarecido e mais inteligente do que os demais – a grande presunção burra da esquerda –, isto não é democracia é autoritarismo, visível na não aceitação de que o povo escolhe o que lhe dão.

Há duas maneiras de mudarmos: a criação de um projeto de educação nacional, sólido, irreversível, incontornável. Projeto de Estado, contando com o empenho de todos, sem interesses partidários, implantado em todos os locais do país, ainda que pouco a pouco; projeto que priorize ler, escrever, interpretar, calcular, cultura geral e ciências físicas e biológicas básicas; projeto em que a escola seja acolhedora, tenha autoridade, infraestrutura, segurança dentro dela e no seu entorno, bons professores, bem pagos, e seja um local onde se reafirme a ética, as  boas e educadas relações sociais, o respeito ao outro, fora e dentro da escola, começando com o respeito ao professor. Levará tempo, mas em pouco mais de uma década, veremos o resultado. A sociedade, será outra com o emprego decorrente do investimento maciço na educação, realizando a inclusão social.

A outra opção é a ruptura com a democracia, desautorizando o voto popular, achincalhando o povo, e estabelecendo um regime, de um extremo ou do outro, que promete maravilhas, mas ao fim e ao cabo, só nos entrega mais miséria. Resta saber o que é que queremos, resta saber se, afinal de contas, a democracia vale ou não.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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