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João Medeiros é pediatra e presidente da Academia Paraibana de Medicina. E-mail: [email protected]

A Bica

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publicado em 19/11/2020 às 07h16

Pouca gente talvez conheça a história da Bica – o Parque Arruda Câmara – e, muito menos ainda, a figura do extraordinário botânico e médico Manuel de Arruda Câmara que empresta seu nome a esse logradouro público de 26,4 hectares, inserido na antiga mata do bairro do Róger, próximo ao centro da cidade de João Pessoa.

No interior do parque, existe uma fonte, cuja origem nos é contada de forma pitoresca pela lenda: o índio Tambiá, da tribo Cariris, teria sido ferido mortalmente num embate com a tribo inimiga Tabajaras. Consoante a tradição, Iapré, filha do cacique Tabajara, foi ofertada como “ esposa da morte” ao moribundo. No entanto, ela se apaixonou por Tambiá, e, com sua morte, chorou durante cinquenta luas. Suas lágrimas deram origem ao olho d’água no local que passou a denominar-se como Fonte do Tambiá, nome também adotado posteriormente pelo bairro vizinho.

A fonte originalmente foi construída em 1782 , em pedra calcária, para canalizar água para a população. O parque foi restaurado, ampliado e urbanizado em 1922, na gestão do prefeito Walfredo Guedes Pereira. Em 1941 e em 1980, foi tombado , respectivamente, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional(IPHAN) e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado da Paraíba ( IPHAEP).Em 1999 recebeu do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) o registro oficial de Zoológico e, em 2006, passou a denominar-se Parque Zoobotânico Arruda Câmara.

Mas quem foi Manoel de Arruda Câmara, para merecer tão expressiva homenagem?

Nascido em Pombal, em 1752,o ilustre paraibano iniciou os estudos na cidade de Goiana, centro cultural importante da província de Pernambuco. Desde cedo se destacou como aluno dos padres católicos que ministravam as disciplinas ética, retórica, lógica, metafísica, ciências naturais, latim, entre outras.

Movido por maiores aspirações, rumou para Portugal, passando a estudar na Universidade de Coimbra e, posteriormente, em Montpellier, escola de fama mundial.

Ao completar os estudos, retornou ao Brasil e , já na condição de sócio da Academia Real de Lisboa, foi designado para acompanhar, numa viagem à Europa, José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca da Independência, seu amigo, grande estudioso de ciências naturais, principalmente geologia e mineralogia, áreas em que realizou importantes descobertas. Arruda Câmara, no entanto, recusou. A essa altura já com fama e cultura consolidadas, preferiu ficar no Brasil onde realizou profícuo trabalho estudando e classificando vegetais e examinando rochas. Descobriu minas e salitreiras de interesse científico e econômico. Conhecido pela extraordinária capacidade de ilustração, foi eleito membro da Academia de Medicina de Montpellier e da Sociedade de Agricultura de Paris.

Com tamanha fama e cultura, não se furtou a exercer a clínica em Goiana e nos sertões da Paraíba.Faleceu em Itamaracá em 1810.

Como naturalista foi considerado pelo grande historiador Varnaghen, superior ao Frei Mariano da Conceição Veloso; como botânico e classificador recebeu de Auguste Saint Hilaire a homenagem ao atribuir seu nome a uma planta muito conhecida entre nós, a Arruda, da família Rutaceae, vegetal bastante aromático com muitas aplicações na medicina popular.

Pela extraordinária contribuição à ciência, Manuel de Arruda Câmara foi homenageado como patrono da cadeira nº 28 da Academia Paraibana de Medicina.

*Pediatra e Presidente da Academia Paraibana de Medicina

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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