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Magistrado, colaborador do Diário de Pernambuco, leitor semiótico, vivendo num mundo de discos, livros e livre pensar. E-mail: [email protected]

As tais oficinas literárias e o Superpoeta

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publicado em 03/06/2020 às 14h48

Vivemos com os pés no planeta Terra e o pensamento em mundos diferentes; lugares que só existem para nós mesmos e para onde viajamos sozinhos – no mais das vezes após a terceira ou quarta dose do destilado preferido ou do bacardi com coca-cola -, ou ainda quando mergulhamos no infinito universo dos personagens inquietos ou absortos dos livros que lemos.

Seguimos Judas, o obscuro, na sua caminhada sem porcos nem Arabella. Ah, como Hardy sabia das coisas. E os novos autores? Como escrevem! Procuram cumprir direitinho as cinco etapas da jornada do herói sob o olhar atento de Joseph Campbell.

E no mundo das artes, quem sente mais dificuldade para se impor como artista? O pintor, o músico, o escultor ou o escritor? O músico e escritor gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil, que no ano de 1985 fundou a que hoje é a mais antiga oficina literária brasileira, lançou seu mais recente livro “Escrever Ficção – Um manual de criação literária (Companhia das Letras, 2019), onde diz que “conversando com a pintora Alice Brueggemann a respeito das dificuldades encontradas pelo artista plástico para impor-se ao público, ela me disse: ‘Todos passam muitas dificuldades…”, e após um silêncio pensativo: ‘Mas deve ser muito pior para um escritor’, Perguntei-lhe o porquê. A resposta: ‘Muita competição’. E acrescentou: ‘Afinal, todo mundo escreve, não é mesmo?’

Naquele momento eu não soube o que dizer. Este livro, todo ele, talvez seja uma resposta a Alice Brueggemann”. Apregoa o dito popular: cada qual no seu cada qual, sem retoques nem berloques. Assis Brasil ensina o passo a passo para quem quer escrever ficção e o faz há mais de três décadas, já que o livro por si só, com sua vendagem, não assegura o ganha pão do autor, ao menos aqui no Brasil. Por isso, de uns tempos para cá, apareceram muitas oficinas literárias, ministradas por escritores sedentos por sobreviver, como já disse João Silvério Trevisan.

O jornalista, poeta e editor Linaldo Guedes postou em sua rede social a descoberta de um curso para transformar você em um superpoeta. Vejam o que ele escreveu: “Já imaginou um superpoeta no mundo? Que poderes ele teria? Aliás, qual o poder da poesia em tempos tão sombrios, dominados pelo ódio?

Transforme-se em um ”superpoeta”, apela uma propaganda de um curso de poesia que aparece em meu feed do Facebook e do Instagram.

A fala do cara que faz a propaganda é ridícula. Por pouco não diz que transforma você em um novo Homero. Sei que cursos de poesia são formas de ganhar dinheiro (para alguns) e de aprendizado (para outros), além de (o mais importante) fazer girar o mercado do livro do Brasil.

Mas não vamos exagerar, né, gente?Ninguém vira poeta ou contista apenas com as técnicas que aprende nesses cursos. Aprende teorias e técnicas literárias que serão úteis em seu mister na escrita. Mas não será um curso que lhe fará poeta se você não tiver o menor jeito para coisa. Eu posso fazer mil cursos de pedreiro e nem por isso serei um pedreiro, porque não tenho o menor jeito para esse belo ofício.

Ah, o tal curso oferece, também, a chance de ganhar dinheiro sendo poeta. Só sendo… Saber que tem gente que acredita nisso!”. Linaldo está certíssimo. Agora, durma-se com um “superpoeta” desse!

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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