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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Mania de você, Rita Lee

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publicado em 19/05/2025 ás 07h00
atualizado em 19/05/2025 ás 09h32

Rita Lee, um ¾ imenso, estampado na tela, uma personagem real homenageada em um documentário inédito: “Rita Lee: Mania de Você” dirigido por Guido Goldberg e produzido pela Mandarina Contenidos, da Argentina. É um filme belo e sensato.

O filme reúne imagens raras, relatos exclusivos e registros pessoais para contar a história da artista. É como se fosse o juízo final, algo tropeçando na natureza, nas ultimas semanas de vida.

A produção se destaca por várias imagens e uma carta escrita por Rita pouco antes de sua morte. No texto, endereçado aos três filhos e ao marido e companheiro de palco, Roberto de Carvalho, a cantora celebra a família com o maior bem, o afeto que não se encerra, da intimidade dela e seus 4 homens.

O documentário é uma realidade, abordando também cenas de vulnerabilidade e os excessos que marcaram  a história da rainha do rock nacional. Rita Lee é um filme. É possível não chorar, mas eu sou do clã da vulnerabilidade.

Meio deslocada, a morte vai entrando pela janela que range suavemente, quando tem que abrir ou fechar, mas não impede de ela entrar. A despedida veio antes, no último show no Circo Voador, no Rio, em janeiro de 2012, anunciada por ela que ia se aposentar dos palcos. Rita chora diante da plateia gritando “Rita eu te amo”

É como se Rita Lee acionasse a cortina. Ela sobrevoa no espaço da ida e brilha em todos os instantes sobre as hecatombes acumuladas na sua carreira.

Ela vai de-sa-pa-re-cen-do e não se refaz. Eu mesmo não conseguiria explicar por que deve ser  transformador, abrir a janela que não tem tramela, invertendo a canção “Flor da idade”, de Chico Buarque” – “a porta dela não tem tramela, a janela é sem gelosia”

Ela observa e é observada para descobrir os obstáculos quando diz:  “morrer é volta para casa”.

O documentário não é triste, é ela, Rita Lee, que poderia até ter escondido a tristeza, a dor, mas refazendo seus gestos, sua música, sua beleza nos palcos, com as cores que o cabelo conseguir ser até chegar ao branco.

Mania de você, Rita Lee com sua arte por si mesma, que nos faz ir… “danado pra Catende, com vontade de chegar”.

Mania de você, Milton Nascimento

Você me quer forte
E eu não sou forte mais
Sou o fim da raça, o velho que já foi

Chamo pela lua de prata pra me salvar
Rezo pelos deuses da mata pra me matar

Você me quer belo
E eu não sou belo mais
Me levaram tudo que um homem precisa ter
Me cortaram o corpo à faca sem terminar
Me deixando vivo, sem sangue, apodrecer

Você me quer justo
E eu não sou justo mais
Promessas de sol já não queimam meu coração
Que tragédia é essa que cai sobre todos nós?

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No ano que ela morreu, em maio de 2023, eu participava do sarau na casa da professora Zarinha, comprei uma peruca vermelha e cantei Mania de Você – Hoje não tem Kapetadas.

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