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Educador Físico,  Psicólogo e Advogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Agente Especial da Polícia Federal Brasileira (aposentado). Sócio da ABEAD - Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do IBRASJUS - Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. É ex-presidente da Comissão de Políticas de Segurança e Drogas da OAB/PB, e do Conselho Municipal de Políticas sobre Drogas do município de João Pessoa/PB. Também coordenou por vários anos no estado da Paraiba, o programa educativo "Maçonaria a favor da Vida". É ex-colunista da rádio CBN João Pessoa e autor dos livros: Drogas- Família e Escola, a Informação como Prevenção; Drogas- Problema Meu e Seu e Drogas - onde e como lidar com o problema?. Já proferiu centenas de conferências e cursos, e publicou dezenas de artigos em revistas e livros especializados sobre os temas já citados.

Como identificar uma pessoa narcisista?

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publicado em 20/02/2024 às 07h00
atualizado em 19/02/2024 às 16h15

Na mitologia grega, Narciso era um jovem caçador muito bonito. Um dia, ao se debruçar sobre um lago e ver a sua aparência pela primeira vez, ele ficou apaixonado pela própria imagem. Ele observou o seu reflexo por muito tempo, admirando a sua beleza sem saber que se tratava dele mesmo. Até que tentou tocar na imagem, mas morreu afogado. O mito de Narciso ficou tão famoso que inspirou até o nome de um transtorno de personalidade muito discutido na ciência psicológica, o “Transtorno de Personalidade Narcisista”.

Como citado, a origem da palavra provém desta lenda grega, em que o personagem principal ignora as outras pessoas e passa a se admirar profundamente, como se ele fosse o centro do universo.

         A psiquiatria atual descreve os sintomas a seguir como características sempre presentes nas pessoas com transtorno de personalidade narcisista: sentimentos de grandiosidade, forte convicção de ser uma pessoa única e, portanto, com necessidade de atenção constante, mentiras frequentes, comportamento de vítima, pouca ou até ausência de empatia, arrogância, inveja, dificuldade de aceitar críticas dos outros e a tendência de colocar ganhos pessoais acima das necessidades das outras pessoas.

Ser sempre o centro das atenções é a marca registrada de uma pessoa narcisista. Assim, estas fazem de tudo para serem reparadas, admiradas, bajuladas e reconhecidas por qualquer coisa (bens materiais, beleza, conquistas etc.). Aliás, elas acham que ser admirada é um direito legítimo. Esperam sempre serem atendidas de forma especial e ficam irritadas quando isto não acontece.

TPN é uma desordem de personalidade. Contudo, devo lembrar que, o fato de um indivíduo apresentar traços narcisistas ocasionalmente, não significa que tem o referido transtorno. Algumas das características do narcisismo podem estar presentes em todos nós, isto significa que num momento ou outro somos egoístas, buscamos as nossas necessidades e não conseguimos ficar atentos às necessidades dos nossos pares. Diferentemente disso, o transtorno é um conjunto de características e comportamentos que não dependem de um contexto específico. É um modo de viver e agir em que o sujeito não consegue deixar de ser daquela forma. Na pessoa narcisista há sempre a permanente preocupação em ser grandiosa; o exibicionismo, o sentimento de indiferença em relação ao outro, a ausência de empatia e a incapacidade de se relacionar são aspectos que identificam o aludido transtorno.

O Transtorno de Personalidade Narcisista não tem uma causa determinada, mas alguns estudos apontam que o distúrbio deriva em geral de alguns fatores: genéticos – ou seja, é uma predisposição genética que gera o problema; ambientais – segundo esta corrente de pesquisadores, o ambiente em que a pessoa vive contribui para que se formem os desvios narcisistas (família, escola, mídia, cotidiano, entre outros); experiencial – neste caso, o referido transtorno estaria relacionado às vivências do indivíduo, como experiências traumáticas, por exemplo.

Além dos fatores citados, alguns estudiosos defendem a ideia que o TPN está relacionado a uma combinação de fatores, sendo esta certamente a hipótese mais assertiva.

Um aspecto importante a registrar é que, quem padece desse mal geralmente não aceita ser identificado com os traços narcisistas. Ou seja, estes nunca admitem que sofrem de tal transtorno. Na concepção do indivíduo narcisista, suas aspirações não são desmedidas. Se ele é o centro das atenções é porque merece.

Comumente, a pessoa com transtorno de personalidade narcisista procura associar-se com indivíduos que, na sua visão, desfrutam da mesma condição que a sua. Sendo assim, fica reclusa na bolha de “pessoa especial” ou “de condição elevada”. E desta forma, esta autovalorização implica reflexos nas pessoas ao seu redor. Logo, como está em constante comparação com tudo e todos, o narcisista não enxerga problemas em desvalorizar e diminuir as conquistas alheias.

A inveja excessiva também é um dos sinais do narcisista. Como ele se compara constantemente com todas as pessoas, quando encontra alguém que seja melhor em algum aspecto, ele sente uma intensa inveja, embora às vezes esta aconteça de forma velada. Mesmo assim, é comum o narcisista alegar que os outros o invejam.

Apesar de toda essa aura de superioridade, os portadores deste transtorno, possuem um ponto fraco, qual seja, a baixa autoestima. E isto os fragiliza. Por trás da máscara de arrogância e superioridade, os narcisistas escondem uma baixa autoestima e uma profunda insegurança. Estes estão sempre a depender da aprovação dos outros para se sentirem bem consigo mesmos, e por isso são muito sensíveis a críticas e rejeições. A reação que mais machuca um narcisista é a indiferença de pessoas ao seu redor.

Portanto, os que carregam este mal, bem como as pessoas que sofrem as consequências da relação tóxica e abusiva desses narcisistas, precisam buscar ajuda de um(a) profissional especializado(a). A psicoterapia é o mais indicado, pois esta poderá ajudar no desenvolvimento de funções interpessoais e a assimilar as emoções; fazendo com que o(a) paciente compreenda as responsabilidades de suas ações e aprenda a interagir socialmente de forma saudável, advindo assim, mudanças de comportamento, que ajudarão a evitar o surgimento de outros males como: ansiedade, depressão, baixa autoestima entre outros.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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