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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

“Mortes prematuras e anunciadas no trânsito brasileiro”

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publicado em 20/05/2025 ás 08h11
atualizado em 20/05/2025 ás 08h15

Estamos no mês dedicado à prevenção às mortes e acidentes de trânsito. O movimento “maio amarelo” foi originalmente criado pela Organização das Nações Unidas, ONU, em 11 de maio de 2011. Na ocasião foi lançado oficialmente por esta entidade, após acordo firmado entre os países membros. Na ocasião também foi lançada a “Década de Ação para Segurança no Trânsito – 2011 a 2020”. A cor amarela simboliza a atenção e responsabilidade que toda a sociedade deve ter visando reduzir a violência no trânsito em todo o mundo.

Neste ano de 2025, o Brasil, por meio do Observatório Nacional de Segurança Viária (ONSV) definiu como tema central da referida campanha: “Mobilidade Humana, Responsabilidade Humana”. Como vemos, a mensagem mãe ressalta este aspecto, ou seja, a corresponsabilidade que todos temos com esta causa.

Segundo afirma a nota oficial do ONSV, “..a verdadeira mobilidade humana se constrói quando todos se sentem seguros e respeitados. Para isso, é fundamental que a responsabilidade individual se torne uma prioridade coletiva”.

É público e notório que os acidentes e, consequentemente, mortes no trânsito brasileiro, apesar dos esforços de algumas autoridades só têm piorado a cada ano. Mas, não deve ser por isso que os cidadãos e cidadãs devem desistir desta luta ou mesmo desacreditar da citada campanha educativa, pois esta, sem dúvida, se constitui numa importante ferramenta de conscientização.

Comumente me questiono o seguinte: por que será que, apesar dos estarrecedores números desta guerra sem fim no trânsito brasileiro, grande parte da população continua inerte, e parece rendida à indiferença? Por que o policial de trânsito é sempre visto como um vilão e não como um defensor da vida de todos os cidadãos? Será que a inquietude só se manifesta quando se é diretamente atingido direto ou indiretamente por um grave acidente?

Replico aqui alguns dados estatísticos relativos à citada violência, na esperança de ajudar a sensibilizar e despertar meus pares dessa letargia destruidora: Segundo o DataSUS, do Ministério da Saúde, no ano de 2023, a cada 15 minutos uma pessoa morreu em decorrência de acidente de trânsito no Brasil. Sendo que, o excesso de velocidade, a distração ao volante, especialmente por estar mexendo no celular e ou sob efeito de drogas e o desrespeito às leis de trânsito foram as principais causas.

A violência no trânsito brasileiro é a 2ª maior causa de morte no país, à frente até dos homicídios e do câncer, perdendo apenas para aquelas motivadas por doenças circulatórias.

Os dados da Polícia Rodoviária Federal Brasileira indicam que, houve um aumento de 10% no número de mortes nas estradas federais, entre os anos de 2023 e 2024, e que esse foi o quarto ano consecutivo de aumento no número de mortes nas BRs que cortam o país.

É importante frisar que, segundo levantamentos estatísticos nacionais, o custo anual dos acidentes de trânsito para a sociedade brasileira é de aproximadamente 40 bilhões de reais. E que, 62,8% dos leitos hospitalares são ocupados por vítimas de acidentes não fatais de trânsito.

O mais frustrante é saber que a grande maioria destas mortes poderia ser facilmente evitada apenas com pequenas ações e algumas mudanças de atitude, haja vista que, como já citado, as principais causas destes acidentes se agrupam em três categorias apenas: fatores humanos (imprudência, imperícia e negligência), infraestrutura precária das vias, e falta de manutenção dos veículos. Valendo acrescentar que o fator humano está presente na quase totalidade dos acidentes.

Assim, como nenhuma política pública terá sucesso se não houver o envolvimento da sociedade como um todo, é preciso que cada cidadão ou cidadã se conscientize e procure dar sua parcela de contribuição, pois todos somos parte deste mesmo trânsito e, consequentemente, responsáveis pela busca de solução para esse grave problema. Independentemente de estarmos na posição de gestor público, autoridade de trânsito, motorista, motociclista, ciclista ou mesmo pedestre.

Países como a Austrália, China, Alemanha e outros, conseguiram diminuir em mais de 80% as mortes em acidentes de trânsito. Assim, se os outros conseguem, por que o Brasil segue na contramão dos números, contabilizando dezenas de milhares de mortes por ano, além de centenas de milhares de casos de invalidez permanente, segundo todos os dados oficiais?

Portanto, o Brasil precisa sair desta letargia. Isto só será possível com uma mudança de atitude por parte de toda a sociedade: gestores públicos, autoridades constituídas, imprensa, sociedade civil organizada e cidadãos em geral devem assumir suas cotas de responsabilidades, de acordo com suas áreas de atuação, responsabilidades e ou compromissos. Os gestores e autoridades públicas precisam ser cobrados constantemente pelos indivíduos, pois só assim estes saem do comodismo, leniência e omissão que é muito comum no nosso país. O cumprimento das leis precisa ser efetivo, e para isto é indispensável que fiscalizações permanentes e eficientes sejam promovidas, pois, punições legais devidas e exemplares são pedagógicas, e servem de modelo e intimidação, evitando a prática de infrações por parte de outros indivíduos e ou daqueles já penalizados. No ano da implantação da chamada “Lei Seca”, houve uma redução significativa destas mortes, haja vista que os condutores de veículos temiam ser pegos numa fiscalização. Contudo, bastou os motoristas descobrirem que não eram obrigados a soprar o bafômetro, e que as fiscalizações eram esporádicas e pontuais, e ainda assim, restritas aos centros maiores ou rodovias, uma vez que em pequenas cidades elas inexistem, a curva ascendente das mortes no trânsito foi rapidamente retomada e continua em ascendência.

Afinal, é bom lembrar que pais e mães também precisam fazer a sua parte, cumprindo a legislação e também educando seus filhos para um trânsito mais ordeiro e humano, inclusive, não conduzindo veículos após consumirem bebidas alcoólicas e nem permitindo que filhos menores e ou sem habilitação dirijam veículos. O fiscal de trânsito não deve ser visto como um inimigo, mas sim como um importante aliado cujo trabalho protege e ajuda a salvar vidas. Só assim, com esta conscientização e a união e parceria do poder público e sociedade civil, em que cada cidadão ou cidadã se sinta responsável e comprometido com a solução deste grave problema, será possível minimizar essa “tsunami” de mortes prematuras e anunciadas no trânsito brasileiro.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB