Patrícia Pillar e Zé Renato falam sobre novo trabalho, “Quando a Noite Vem”

Kubitschek Pinheiro – MaisPB

Fotos de Miro

Cresce o trabalho do artista Zé Renato com a música.“Quando a Noite Vem” o novo disco lançado pela Biscoito Fino, é um álbum amoroso, com nove canções e já está nas plataformas de streaming.  O projeto de intérprete chega na sequência do Grammy Internacional que Zé recebeu em Los Angeles (ao lado do grupo Boca Livre) e tem a participação da cantora Céu e direção artística de Patricia Pillar.

A atriz Patrícia Pillar como diretora artística tem uma longa história com a música, diretora do documentário “Waldick, Sempre no Meu Coração” ((2008), sobre Waldick Soriano (1933 – 2008), além do clipe “Vergonha”, da cantora baiana Márcia Castro.

Patricia e Zé Renato foram casados por dez anos (de 1985 a 1999), mas e a amor em comum pela música fala mais alto. “A gente começou a construir o repertório a partir de uma playlist colaborativa que fizemos: íamos lá, colocando canções que vinham à cabeça, até que o repertório chegou como queríamos”, lembra ele.

“Suave é a Noite”, a primeira faixa, “é uma gravação que conhecia do Moacyr Franco, dos anos 1960”. Zé Renato se refere à versão de Nazareno de Brito para a composição “Tender is the Night”, de Paul Francis Webster e Sammy Fain, que inicialmente fez sucesso na voz de Tony Bennett, tendo outras gravações. O arranjador e violoncelista, Jaques Morelenbaum fez o arranjo de “Suave é a Noite” que acabou sendo a fio condutor do restante do repertório.

A primeira música a ganhar clipe, foi “I Can’t Stop Lovin You”, de Don Gibson, sucesso na voz rascante de Ray Charles no início dos anos 1960. Assista:

Outra canção que Zé Renato canta é “Esta Tarde Vi Llover” (Armando Manzanero), que ele conta ter ouvido muitas vezes na voz de Roberto Carlos.

Já a releitura de “Encantado”, versão de Caetano Veloso para “Nature Boy” (Eden Ahbez), ZR apresenta um arranjo diferente da música, que já foi gravada por Maria Bethânia e Ney Matogrosso. Ele teve a sacada de transformar sua versão quase que num fado. “Eu estava com uma viagem marcada para Portugal, na época em que a gente estava começando a organizar a gravação do disco, e propus que gravássemos lá uma parte da base instrumental (depois, completada no Rio de Janeiro)”.

Em Lisboa, Zé Renato se encontrou com Bernardo Couto (guitarra portuguesa) e gravaram, com a intenção do fado no arranjo. “E depois, aqui, no Brasil, junto ao Cristóvão Bastos, completamos a base musical”.

O MaisPB conversou com Zé Renato e a atriz Patricia Pillar e traz os bons resultados desse disco

MaisPB – O disco é amoroso e triste ao mesmo tempo..

Zé Renato – Olha, eu não diria um disco triste, mas romântico. Cheio de sentimentos, fala muito sobre amor e às vezes as questões amorosas nem sempre são felizes. Eu acho que qualquer forma eu tenho uma tendência a me conectar mais tem mais esse lado da tristeza, da melancolia. São melodias que me cativam mais.

MaisPB – Mas “Quando a Noite Vem” é um disco que tem tudo, né?

Zé Renato – Eu até brinco que ele é um disco de certa forma dançante, mas para dançar juntinho, colado, tem xote, tem samba.

MaisPB – Abre o disco cantando “I Can’t Stop Lovin You”, tão lindo, de Don Gibson, sucesso na voz de Ray Charles – lá dos anos 1960?

Zé Renato – Essa música, especialmente, ela tem uma história, de estar muito conectada na minha infância – eu fazia mímica do Ray Charles, quando eu era pequeno. Quando essa música foi lançada nos anos sessenta, tinha muitos programas de televisão de mímica, eu via as pessoas fazendo mímica de Ray Charles e eu quis fazer isso. Fazia isso em casa, usava os óculos escuros do meu avô.

MaisPB – A segunda faixa “Suave é a Noite”, é tão bonita e você traz à tona essa gravação que conhecia voz de Moacyr Franco, dos anos 1960…

Zé Renato – É de Nazareno Brito. Essa música também tem uma conexão com minha infância, lançada nos anos 60 por Moacyr Franco, que fez muito sucesso. Tempos depois, fui descobrir que era uma versão, título de um filme “Suave é a Noite”, baseado num livro de Scott Fitzgerald. Descobrimos o caminho dela, com arranjos do Jaquinho Morelenbaum, com essa lavada do samba canção.

MaisPB – Dar bom dia a tristeza é difícil né?

Zé Renato – É foda. Essa ai é explicitamente triste. Essa canção (de Vinícius de Morais e Adoniram Barbosa) eu descobri há muito tempo. Estava vendo um programa de televisão e apareceu Adoniram cantando e ficou guardada comigo. Na hora de escolher o repertório, eu me lembrei dela. A gente fez esse clima nigt club, com trompete.

MaisPB – A quarta faixa, “Seu olhar não mente”, – Vamos falar dessa canção que você canta com Céu?

Zé Renato – Vamos sim. A Céu é uma cantora ímpar, talentosa. Gostei muito der ter cantando com ela essa cação. Essa música fez muito sucesso com Flávio José aí da Paraíba, acho que foi sucesso com ele. O repertório foi criado por Patricia Pilar – ela propôs que fizéssemos um projeto junto e começamos a pensar no repertório – ela é assumiu a direção artística. Eu já tenho mais de três de carreira e com uma atriz ao meu lado, fui pra caminhos da interpretação estimulados por ela, que participou das sessões de gravação. Tudo foi feito com o olhar da atriz.

MaisPB – O Boca Livre não morreu, não?

Zé Renato – O Boca Livre está pausado. Não está descarto a gente se encontrar e resolver as divergências, não estou fechado a isso.

MaisPB – A canção Encantado (Nature Boy) a quinta faixa a versão de Caetano Veloso, é muito bonita…

Zé Renato – A Patricia (Pilar) que sugeriu essa música, eu conhecia na versão original com Nat King Col, também na voz da Maria Bethânia. Resolvi levar ela para um fado, eu gravei ela em Portugal. É linda, um clássico.

MaisPB – Nesse disco temos “Nenhuma dor”, de Caetano Veloso e Torquato Neto, que ele gravou no disco Domingo, com Gal Costa.

Zé Renato – Também foi uma sugestão de Patrícia (Pilar) é linda essa canção, eu confesso que eu resisti, porque Gal (Costa) tinha recém-gravado ela, com Zeca, filho de Caetano. Eu fiquei pensando como é que eu ia fazer ela, terminei encontrando meu caminho

MaisPB – Você já cantou esse disco aí no Rio de Janeiro?

Zé Renato – Ainda não. Não temos data, marcada para show. Estamos pensando sobre ele, que músicas vamos acrescentar.

MaisPB – Sua mãe a fez a viagem dela, agora em março?

Zé Renato – Não, minha mãe estava bem, ela faria 88 anos no dia 20 de março passado, faleceu antes. Ela teve uma coisa repentina, um mal estar, foi hospitalizada e três dias depois, ela foi embora.

MaisPB – Você agora está morando em São Paulo?

Zé Renato – Eu vim por questões do trabalho da minha mulher, Bia. Eu adoro São Paulo , tenho muito amigos aqui, é uma cidade muito interessante, culturalmente muito rica.

MaisPB – Era bom que você viesse cantar aqui no Nordeste?

Zé Renato – Quem sabe eu chegarei aí

Patricia Pillar

MaisPB – Zé Renato disse que o disco dele tem o olhar da atriz – o seu olhar – isso embelezou o disco, né?

Patricia Pillar – Em sua pergunta tem um discreto elogio, eu agradeço e me deixa muito feliz. O que eu tentei fazer na companhia do Zé, nesse disco, foi tentar emprestar um pouco da minha experiência de 40 anos aí com os meus personagens para ajudar aos personagens que estão nas canções.

MaisPB – E conseguiu, né?

Patricia Pillar – O Zé Renato é um cantor extraordinário, um intérprete delicadíssimo, desses que só fazem aquilo que é necessário para contar aquela história daquela canção, sem firula, e isso eu dou o maior valor, porque eu acho que a felicidade é preciosa. O que eu pude fazer , foi tentar mergulhar a fundo nos personagens – quem fala, de onde está falando, qual o ambiente de cada canção.

MaisPB – Algumas canções foram sugeridas por você, como “Nenhuma Dor” e “Nature Boy”. Essas canções marcam sua vida?

Patricia Pillar – Quanto as canções Nenhuma Dor e Encantado, claro que marcaram minha vida, pela beleza delas.

MaisPB – E tem letras bem construídas…

Patricia Pillar – Sim, eu achei interessante porque elas tem um vocabulário, um ambiente que eu achei que poderia ser uma novidade para o Zé Renato, palavras que ele não tivesse cantado no repertório anterior. Então, achei que soou bonito, como uma novidade na voz dele