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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Caetano em carne e espírito

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publicado em 02/04/2022 às 09h55
atualizado em 02/04/2022 às 08h45

(Belo Horizonte-MG) – Com cenário inspirado em um estudo de Helio Eichbauer, o show de estreia da turnê de “Meu Coco” de Caetano Veloso, na noite de ontem no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, foi o que tinha ser – “maravilha sem igual” O artista foi ovacionado, claro. Era Caetano em carne e espírito. Caetano abre o show cantando “Avarandado” e em seguida “Meu Coco”, canção que dá nome ao disco e a turnê

O material do cenário foi encontrado durante processo de organização de acervo de Helio Eichbauer por seu assistente, Luiz Henrique Sá, e por Dedé Veloso, viúva de Helio – mostra uma relíquia do cenógrafo dos shows de Caetano desde “O Estrangeiro” (1989). Uma escultura metálica suspensa em formas tridimensionais minimalista, em homenagem ao artista e designer Josef Albers, ex-professor da Bauhaus, na Alemanha.

Eichbauer se baseou em uma escultura de Albers — Wrestling — para criar o cenário, batizado de “Constelação espacial”. Caetano fala do cenário no show emocionado: “Grande Eichbauer, que foi casado com Dedé que foi minha mulher e mulher dele” .

O teatro lotado. O fluxo abismal onde tudo se entrelaçava, as alegrias renovadas,  depois de dois anos de confinamentos e logo vieram os aplausos  com a chegada de “Sampa”, “Muito Romântico” e “Não vou deixar”, esta, do disco novo. Ele canta e dança e a plateia vai ao delírio.

Caetano é um artista da alma do Brasil pandeiro, cheio de âmbares, de conhecimentos, afetos e segue o show cantando “You Don’t Know Me”, “Trilhos Urbanos”, e “Ciclâmen do Líbano” uma das mais bonitas canções de “Meu Coco”.

Num belíssimo Horizonte, ele canta “A Outra Banda da Terra”,  “Araçá Azul”, “Cajuína”, “Reconvexo” (essas duas canções o púbico cantou junto). Em seguida “Enzo Gabriel”, “Leãozinho” e “Itapuã”. Um som que urgia toda vontade de cantar, consumando-se em quase duas horas, mas hoje (sábado) e amanhã (domingo) tem mais.

 Cantou “O Pulsar”, poema de Augusto Campos, declamado (em forma de música) e em seguida “A Bossa Nova É Foda”, “Baby”, “Menino do Rio”, “ Sem Samba Não Dá”,  e “Lua de São Jorge”.

Um show com canções de várias décadas da carreira do artista. Ele disse no início que alguém comentou que o show é autobiográfico por conta de seus 80, em agosto próximo. “É um show histórico”, afirmou. Ali estava um buscar de um sinal de esperança, revelado no canto de um homem inquieto por mudanças. Caetano é foda.

Impetuoso, Caetano Veloso falou muito durante o show. Voltou para a bis e cantou mais três canções:  “Mansidão”, que está no disco “Recanto” que ele fez para Gal Costa, “Odara”, que não podia faltar e fecha com “Noite de Cristal” que sua irmã Maria Bethânia pediu que ele cantasse na live de Natal e terminou sendo a última faixa do álbum “Meu Coco”.                     

Um jovem senhor em cena, bonito, cada vez mais, muito mais. Caetano é um querido. Deve ser bom chegar aos 80 anos cantando Simone, Raimunda e as Luanas disparadas, Leila Diniz, Elis, Bethânia AnaVitória Marília Mendonça. Tanta coisa assim…

Esse esplêndido momento em Belo Horizonte, em cada música, reconhecemos um novo Caetano, no movimento homem show em cena. Éramos nós a festejar o primordial e transformador Caetano Veloso.

A precisão de cantar sobre impérios já milenares, uma sensação que se repetia em Anjos Tronchos – “Ah morena bela, estás aqui”. Um show razão, história e sentido, além do seu compromisso com o novo. Muitos jovens belos na plateia. Ele gosta. Eu também. 

Nesses tempos em que o Brasil está a míngua “Não vou deixar, não vou deixar” um hino, uma canção política, uma pancada do vovô que nem de longe parecia nervoso. “Qualidade e intensidade “, disse ele aos jornais de BH e foi realmente o que o público viu e verá na noite deste sábado e domingo no Grande Teatro Cemig do Palácio das Artes de BH. Bom demais, muito mais! 

  1. *O texto é dedicado a Alexandre Leite, Francisco Taboza, Renata Roizenblit, Heloísa e Alice Ayres,  Iramar e Francisco Neto, Alan Brandão, Silvio Osias, Joria Guerreiro, Pedro Progresso  Ana Adelaide, Osmar Pinheiro, Juliene Osias, Layane Oliveira, Guilherme Mazzeo Clarice Galvão e ao mundo todo.
Ficha técnica do show   
Direção Musical:
Caetano, Pretinho da Serrinha e Lucas Nunes
Banda: Pretinho da Serrinha – Percussão
Lucas Nunes – Guitarra, Violão e Teclado
Alberto Continentino – Baixo Elétrico
Rodrigo Tavares – Teclado, Glockenspiel e MPC
Kainando Jejê – Percursão e Bateria
Tiago da Serrinha  – Percursão, SPDS e Bateria
Cenário: Luiz Henrique Sá (com adaptação da obra de Hélio Eichbauer)
Design de luz: Fernando Young e Gabriel Farinon Luz
Técnicos de som: Vavá Furquim e Igor Leite
Iluminação: @Gabriel Farino Luz
Roadies: Pimpa Cruz e Gabriel Gomes
Cenotécnico: Igor Perseke
Stylist: Felipe Veloso
Produção Executiva: Joao Franklin
Assistente de Produção: Ana Bella Esteves
Comunicação: Danilo Rodrigues
Produzido por Paula Lavigne –  Uma realização Uns Produções 2022.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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