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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Meu bauzinho de memória

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publicado em 01/01/2022 ás 10h41
atualizado em 01/01/2022 ás 10h58

Vou escrevendo. Vou anotando no meu caderno. Vou esticando o dia. Enxergo os detalhes através das árvores à minha frente. É a sagrada liturgia. Existo devagar, apesar da pressa. O hiperbólico nem deu o ar da graça. Não tente esquecer em que ano estamos. Vai melhorar

Uns dias mais, uns dias menos, outros virão porque nada é pela metade. Recolho migalhas, traço linhas, sou animado e me componho até o dia cessar.

Lembro do tempo da delicadeza. Às vezes não há explicação para nada, só a  vontade que sinto e sinto muito.

Frases da carne, colocadas no texto assemelham-se a uma compulsão, uma compaixão, a um impulso maníaco que não permite fazer mais nada, pensar em nada, planear um dia após o outro sem uma noite no meio.

Então, saio de casa para comprar pilhas para os controles,  remotos controles,  para o teclado do computador, o mini gravador e esticar as costas, respirar, mas todos os meus passos se apressam para regressar à única casa que nunca se desarruma, onde sempre estou escrevendo.

E nunca sei por quê, para quê, se os temas parecem repetidos, se nunca posso sossegar e tantas, mas tantas vezes, ilações diversas….

A vida não imita nada. Nem a  ela mesma. Nada acontece por acaso. Feliz 2022 é uma saída.

Aprendizado

Na última manhã de 2021 à beira-mar algo me prendeu a atenção –  uma senhora que tomava sol na sua cadeira de rodas — o olhar ausente, imóvel   no horizonte, daqueles que não sabem já o motivo de estar ali. O mar consola, o mar é uma viagem.

O semblante que adentrava o mar e que talvez pudesse ter-me distraído do essencial. Um senhor pedalava em câmara lenta com seu cão. E o essencial ainda estava por vir. Se veio. Não vi.

Os cabelos prateados da senhora sequer me lembrou o tempo ganho ou perdido.  Era só uma imagem movendo-os numa carícia lenta e demorada, se calhar diligente ou apenas submissa. Eu vi.

Pareceu-me, porém, perceber o carinho no afago da cuidadora, o inexplicável amor que alguns dedicam aos outros.

Será que ainda existe isso? Bom, nunca mais poderemos dizer Feliz Ano Velho. Nunca mais.

Kapetadas

1 –  Em 2021, o perverso se casou com a desalmada no regime de comunhão de males.

2 – Dizem que nesse Carnaval, as lágrimas vão rolar.

3 – Som na caixa: “Pois vamos seguindo acordando cedo”, Vanessa da Mata.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB