João Pessoa, 25 de novembro de 2025 | --ºC / --ºC
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Pague US$ 20 por mês numa IA e ela vomita resumos, códigos, planilhas. Rápido, limpo, frio. Mas experimente pedir pra ela organizar um café da tarde onde dois colegas trocam ideias, erram juntos e saem melhores. A IA trava. Conhecimento de verdade nasce ali: no olhar, no “e se a gente fizer assim?”, no silêncio depois da risada.
A McKinsey Global Institute soltou o relatório de 2024 como quem joga uma bomba-relógio na mesa de reunião: até 2030, 45% das tarefas que pagamos hoje vão virar fumaça de automação. Não é ficção. É o caixa do supermercado que já não existe, o contador que virou prompt, o designer que compete com Midjourney.
Líderes em pânico cortam o “gasto supérfluo”: cursos, workshops e ate aquele café com pão de queijo. Apostam tudo na IA. Eu vi isso numa empresa de logística em São Paulo: economizaram R$ 80 mil em treinamentos e perderam R$ 1,2 milhão em erros de estoque porque ninguém entendeu o novo sistema.
Carol Dweck Entrou na Sala e Sentou no Sofá
Lembra da psicóloga de Stanford? Que escreveu Mindset e vendeu mais de 2 milhões de cópias porque ela não fala de teoria ela fala de gente. Prova com números: equipes que cultivam curiosidade entregam 37% mais inovação. Na Nubank, criaram a NU Academy com mentoria de gente de carne e osso – gente que erra, que ri, que lembra do aniversário do outro. Resultado? Turnover caiu 22% em dois anos.
Pensa num estagiário de 23 anos que entra na sala, nervoso, com uma ideia maluca de usar IA para prever rotas de entrega. O líder poderia mandar um prompt pro ChatGPT e resolver em 3 minutos. Mas escolhe outra coisa: chama a equipe, serve café ruim, deixa o estagiário falar. Alguém discorda. Outro completa. Três horas depois, a ideia está melhor, o estagiário está mais confiante, e a empresa tem algo que nenhuma IA entrega: pertencimento. Esse é o conhecimento que não cabe em assinatura mensal.
Não precisa de orçamento milionário. Separe 3% do tempo da equipe – 1h30 toda sexta. Nada de Zoom chato. Pode ser na cozinha, no terraço, com café ruim mesmo. Um traz um problema real, outro testa na IA, todos discutem. A ferramenta acelera; a troca humana transforma. É bagunçado, é lento, é caro em minutos – mas é o único jeito de criar memória coletiva. É o único jeito de criar futuro.
Imagine 2027. A IA responde e-mails, fecha contratos, prevê vendas. Mas quem cria o novo produto? Quem motiva a equipe depois de um trimestre ruim? Quem percebe que o estagiário está queimando antes do burnout? A IA não. Ela não sente. Ela não lembra que o João gosta de café com leite e que a Maria odeia reuniões às 8h. Liderança não é gerenciar currículos: é lembrar nomes, é criar espaço para o erro, é investir no que a máquina nunca terá: empatia, intuição, coragem de tentar de novo.
O Preço Real do Conhecimento
US$ 20 compra a IA. Mas o conhecimento que move montanhas custa café, tempo, paciência, risada, silêncio. Custam as rodinhas de conversa que ninguém filma, as ideias que morrem no caminho, as mentorias que acontecem no corredor. É caro? Sim. É inevitável? Também. Porque no final, a empresa não é o algoritmo. A empresa é a soma das trocas que a IA nunca vai entender. E se você acha que pode delegar isso pra uma assinatura mensal, boa sorte em 2030. Você vai precisar.
Maria Augusta Ribeiro é especialista em comportamento digital e Netnografia no Belicosa.com.br
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