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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

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publicado em 11/11/2025 ás 18h32
 
                   José Nunes
         No ano passado retornei ao lugar onde nasci, com propósitos diferentes das vezes em que ali estive. Desejava apenas caminhar pelas capoeiras onde realizava minhas caçadas imaginárias, utilizando
baladeira. Mesmo que o lugar contenha resquícios da paisagem de setenta anos atrás, a casa conserva os mesmos armadores de rede e o suporte para o candeeiro. O Tapuio de minha infância está mudado.
         O candeeiro alimentado por querosene, usando pavio de algodão que nossa avó tecia, soltava fumaça persistente. Na boca da noite, sentados em tamboretes ou deitados à rede, observávamos os rodopios da fumaça em direção ao telhado, desenhando réstias na parede.
         Em certas ocasiões, quando a Lua estava grande, as salas ficavam mais iluminadas, enquanto as janelas estavam abertas. Recordo com saudade esta paisagem melancólica, de boas e más lembranças.
         Folheando jornais de tempos atrás, uma nota me fez lembrar de quando José Maranhão era governador. Não faz tanto tempo. É como se tudo tivesse acontecido em décadas passadas.
         Entre tantas e tantas obras de cunho social, da chegada de água do rio sagrado que corta os sertões até a construção de rodovias, ao incentivo à criação de caprinos, a decisão de apagar o último candeeiro foi uma marca na administração de Maranhão.
         Assim como Ascendino Leite nos anos finais da década de 1930, jovem repórter que A União, tinha a prerrogativa de acompanhar o expediente do Palácio da Redenção, também fui deslocado para executar semelhante atividade durante a gestão de governadores, a partir de Ronaldo Cunha Lima até José Maranhão, em seu último mandato.
         Não desejo falar da minha modesta contribuição no acompanhamento das atividades destes governadores. Apenas destaco ações empreendidas pelo governador Maranhão, em momento quando a Paraíba clamava por programas sociais que contribuíssem para amenizar a situação de penúria em grande parcela da população, em diferentes regiões do Estado.
O governo empreendia uma iniciativa simples, mas de grande alcance social, que obteve repercussão entre famílias residentes no mais isolado socavão, do Litoral ao Sertão.
         Apagar o último candeeiro deixou de ser uma ficção. Onde existiam lamparinas e pavios fumegantes, Maranhão propunha colocar um bico de lâmpada fluorescente para iluminar quem antes tinha as estrelas como aliada para clarear seus terreiros e salas da casa.
         Permitam-me revelar. A expressão “apagar o último candeeiro”, utilizada por Zé Maranhão com obstinação, foi um refrão revelado em momento de um discurso quando este falava de atividades do governo em comunidade rural.
A comunidade onde o governador fizera a revelação era pobre. Este disse que, se estava levando cisterna para armazenar água da chuva, seu desejo era levar energia elétrica a todas as casas. Então, na intuição de camponês revelado em Tapuio e de repórter modelado por Agnaldo Almeida, deduzimos que seria “apagar o último candeeiro”. Colocando a expressão no texto distribuído entre os jornais, os marqueteiros perceberam que seria oportuno como “slogan”. Tornou-se uma marca.
Certamente casas ainda estão sendo iluminadas por lamparinas com pavio umedecido pelo querosene, ou outros tipos de energia, entretanto, a iniciativa de Maranhão permanecerá na lembrança como louvável. Apesar de todo o esforço, ainda existe candeeiro a alumiar casas de pau-a-pique, de chão de batido nos grotões.
         O candeeiro é destacado pelo poeta Fernando Pessoa como luz que acompanha a quietação da casa após o final do dia. Mesmo que seja dia com sol ameno ou noite suave, após fechadas as portas e janelas, os ambientes são iluminados enquanto que uns conversam, a rede a ranger nos armadores e lá fora o silêncio vertendo a solidão na imensidão da noite nos sertões, brejos e cariris.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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