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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

A pulseira

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publicado em 08/11/2025 ás 07h00
atualizado em 08/11/2025 ás 08h51

Eu entrei no filme ´A Hora da Estrela´ para conversar rapidamente com a cartomante Madama Carlota e saber o significado de uma pulseira dada a seres ou não seres, sem nenhuma questão.

Sai rapidíssimo com medo de virar Macabéa e não voltar mais a ser o Lenormand K, amigo predileto da professora Mariana Tavares.

A cartomante disse que uma pulseira é uma algema, e me convidou para sentar no divã de Freud – e eu, claro, dei no pé com Lacan.

Faltou as conexões e o senso. Meus dias são assim rápidos e imprecisos, do litoral dos meus olhos na mesma tentativa de varar as cartografias do desejo da canção do Caetano no Vale do Silício, devolvendo às cadeiras emprestadas pela familiaridade dos  gestos  poéticos e cruéis. Não vejo mais o espírito da coisa.

Tive uma namorada sertaneja que dizia – “ Kubi, você não sabe o poder que exerce sobre mim…” . Poder nenhum, mas eu era jovem  e nunca achei que eu teria poder sobre uma moça de promessas redentoras, que passava pito em mim.

Tenho acertado os dias pelos arrepios e agora estão mais do que nunca – ou estarei eu nesse status quo,  latinismo estado das coisas vazias. Pera lá, tira essa camiseta do Guevarra, moça –  você não leva jeito. Ou não tem cura.

No espelho do banheiro onde faço a barba já vejo uma imagem licérgica e tento regressar há novos quatro minutos menos feliz. Aí vejo que eu já morri.

Não morras antes da hora moça de “cabelo amarelo e óio cor de chuchu” , jogue as pulseiras no Rio  Jaguaribe no percurso que passa pelas veias abertas dos jacarés famintos.

Acrescentando algo a seguir mesmo assim, as prisões maiores estão por vir e não consigo, muito embora – desculpa-me a insistência – continuar achando que a pulseira é a o anel que passa de mão em mão

Outro dia achei uma pulseira de aço no chão da Praça João Pessoa, levei para ajustar no meu braço e o cara ainda deu um brilho de lascar o cano. Um mês depois perdi a pulseira, certamente pertenceu a uma pessoa que havia se libertado da algema e já deve estar noutro braço, preso a outro coração vagabundo.

Meu abraço pra quem fica, é o que vale dessa vida, em que me lembrei da  pulseira no braço de Severino sem pia.

A vontade que eu tenho e de criar outras  palavras, algum feedback reencontrar a moça e devolver as pulseiras sem a prorrogação do jogo.

Kapetadas

1 – Inteligência artificial. Desculpa humana para a burrice coletiva.

2 – O homem contemporâneo não pensa: reposta.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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