João Pessoa, 26 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC
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Eu conheci Clara de Si, uma jovem sertaneja, no ninho da transformação.
Ela nunca pediu licença pra existir, só para entrar e sair, porque ela buscava seu espaço e conseguiu
Nasceu vento no rosto do sertão e aprendeu cedo que quem espera o tempo certo perde a vida no intervalo e talvez, o descanço. Enquanto as outras meninas se escondiam atrás das regras, ela já dançava com o próprio desejo despida de medo, coberta de coragem. Que mulher!
Falavam que ela era “atrevida”. E era mesmo. Atrevida com a vida, com a vontade, com o amor. Não aceitava ser planta de sombra: queria o sol inteiro, mesmo que queimasse. Tinha um riso que desarmava qualquer mau humor e um olhar que confundia os homens – alguns a amavam, outros a julgavam, mas nenhum a esquecia.
Clara gostava do toque, do cheiro da terra molhada, de dançar descalça na chuva, na rua, na fazenda. Dizia que o corpo também reza quando é sincero. Que o amor só vale se for livre. E que vergonha era coisa de quem ainda não aprendeu a se gostar.
Um dia disseram: Você devia se conter, mulher.
Ela respondeu, rindo:
Eu me contenho tanto que quase transbordo.
Transbordava mesmo. De afeto, de presença, de vida.
Sabia que ser inteira era o maior desafio de uma mulher num mundo que prefere metades obedientes.
Clara de Si, dona de si, pássaro a voar, assim começou a ser chamada.
Porque era isso: inteira nela mesma, feita de luz e sombra, de lágrima e gargalhada.
E quando passava, deixava no ar aquele perfume impossível de classificar um misto de flor e liberdade.
Aprendeu cedo que o mundo tenta domar as mulheres que não pedem licença. Tentaram diminuir seu brilho, chamar de exagero o que era intensidade, confundir liberdade com provocação.
Mas Clara já havia entendido: quem vive com medo do que dizem acaba esquecendo quem é.
Escrita ao vento, por uma mulher inteira de Si, era a Clara.
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MOBILIDADE - 24/10/2025





