João Pessoa, 07 de outubro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Há dias em que o mundo chama — forte, urgente, insistente.
E seguimos atendendo: ideias, dores, entusiasmos tomam forma em palavras, ações, encontros.
Mas existe outro chamado, mais silencioso — e talvez mais profundo: o chamado do tempo que espera.
Vivemos atravessadas por notícias que se sucedem, por memórias virando manchetes, por crises que não nos deixam respirar. A cada instante, somos convidadas a reagir, opinar, manifestar. Essa urgência é legítima — porque fazemos parte desse mundo. Mas também precisamos aprender a ocupar o vazio entre os gestos.
O intervalo não é vazio. É campo. É solo que precisa repousar para que algo novo brote.
Quando nos lançamos o tempo inteiro, sem pausa, adoecemos — de exaustão, de superficialidade, de ausência de profundidade.
Olho para este dia e penso: qual gesto faz sentido hoje?
Qual voz vale ser ouvida e qual vale o recolhimento?
Nem tudo pede manifestação. Nem todo grito vale o fôlego. Nem todo eco merece ser amplificado. Às vezes, o mais corajoso é calar, olhar, escutar — e deixar que as ideias amadureçam na solidão do pensamento antes de serem lançadas no mundo.
É nos gestos pequenos — o abraço, o sorriso contido, o silêncio compartilhado — que muitas vezes nasce a maior resistência.
Diante do tumulto, escolho o intervalo: viver de dentro, deixar que os ecos internos encontrem seu espaço antes de se oferecerem ao mundo.
A vida é esse vaivém entre escutar e falar, entre recolher e entregar.
Quem vive de dentro sabe: nem todo silêncio é fuga. Nem todo sumiço é abandono.
Às vezes, desaparecer é ocupar o lugar onde nasce o novo — e aí se revelar, inteira, com mais força.
* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB
DIZ MP - 06/10/2025