João Pessoa, 22 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Decidi voltar a tratar sobre este tema após ouvir algumas queixas, dúvidas e ou lamentações de amigos, também aposentados como eu, ou às vésperas da aposentadoria, que afirmam estarem cheios de insegurança sobre como melhor enfrentar essa nova fase da vida, em que o próprio termo utilizado pelo poder público é de certa forma, desestimulante e discriminatório, haja vista que a palavra “inativo”, dá a ideia de parado, paralisado, desocupado, preguiçoso etc.
É comum o(a)s aposentado(a)s ao visitarem a empresa e ou repartição na qual trabalharam por décadas, serem tratados com indiferença e até desdém pelos próprios colegas ainda em atividade, ouvindo frases do tipo: “O que está fazendo aqui? Vai descansar!”; pode se identificar por favor?; este é o seu crachá de visitante!; gostaria se dirigir a qual setor?; circular indefinidamente pela empresa, não é permitido etc. Este tipo de tratamento dedicado aos aposentados, que por vezes vão até ao seu antigo local de trabalho, apenas com o objetivo de rever velhos amigos e ou mesmo “matar a saudade” daquele lugar em que conviveram tantos anos, só contribui para deixá-los decepcionados e desmotivados, afastando-os cada vez mais.
Num primeiro momento é comum que o trabalhador fique feliz e cheio de planos com o advento da aposentadoria. O fato de não ter que cumprir horários, bater ponto etc., é motivo de alegria, mas também é comum que, em pouco tempo, muitos destes “inativos” comecem a se sentirem isolados, desvalorizados e alguns enveredem para o uso indevido de álcool ou outras drogas, e até sejam acometidos de transtornos depressivos.
O trabalhador(a) brasileiro(a) normalmente não tem o hábito de se programar e se preparar para a aposentadoria e, quando o faz, se preocupa apenas em relação ao aspecto financeiro, esquecendo os demais fatores que inevitavelmente intervirão em sua vida de aposentado(a).
Com o avanço da Ciência e o consequente aumento da expectativa de vida dos seres humanos, o envelhecimento da população mundial é uma realidade que desafia não só os trabalhadores de forma individual, mas também todos os segmentos sociais, exigindo destes, não só adaptação a esta nova realidade, mas também uma profunda mudança de conceitos em relação a essa faixa etária populacional, garantindo-lhe produtos, serviços, políticas sociais, programas assistenciais etc.
É de suma importância também que os trabalhadores adotem uma mudança de comportamento e passem a se preparar para esta fase da vida, em que as relações sociais, como, amor, família, amigos etc., continuam sendo essenciais. Além deste aspecto, este público não deve esquecer das atividades ocupacionais que também continuam sendo importantes, dentre estas aquelas voltadas para as áreas educacionais, culturais, recreativas, trabalhos voluntários e outras.
Segundo a gerontóloga Nara Costa Rodrigues, “…nesta fase da vida, a pessoa precisa se perguntar: o que gosto de fazer? O que gostaria de ter feito, mas não tive tempo? O que sei fazer? O que gostaria de aprender?”. Certamente, a partir destes autoquestionamentos, ficará bem mais fácil para o cidadão ou cidadã aposentado(a), planejar os primeiros e próximos passos desta nova e importante fase da sua vida.
É salutar admitir que o nível cultural, social, financeiro etc., influencia o modo de viver do indivíduo após o ingresso na aposentadoria. E, assim sendo, o advento da inatividade laboral poderá ser motivo de alegria, ou mesmo de preocupações e contrariedades, a depender destes aspectos, bem como da personalidade do indivíduo, do seu relacionamento com os diferentes grupos sociais com os quais se relacionou dentro e fora do trabalho e do apoio da sua família.
Com a aposentadoria, o lar passa a ter, para o homem em especial, uma função mais importante que durante a vida de trabalho. Digo para o homem porque na nossa cultura este ambiente já é do domínio da mulher, uma vez que a administração normalmente recai sobre ela. Portanto, esta, mesmo tendo trabalhado fora de casa, se adaptará mais facilmente. Por isso é importante que o aposentado encontre um espaço favorável e acolhedor no lar, onde possa permanecer durante horas sem se sentir um estorvo.
Normalmente três grupos sociais são afetados pela aposentadoria de um dos seus membros: a família nuclear (esposa, filhos); o grupo de trabalho e o grupo de amigos das relações externas (recreativas, esportivas, religiosas, culturais etc.). Assim, a aposentadoria comumente requer um novo esquema de relações com estes grupos.
Dentre as estratégias para ajudar nesta adaptação a esta fase da vida, arrisco sugerir algumas: a adoção de um animal de estimação pode ser uma destas. Este pode ser uma boa companhia e até terapia para aposentados(as), que gostam deles, e que já não contam mais com a companhia de filhos ou outros familiares; a adesão a um trabalho voluntário, de ajuda comunitária, também poderá ser uma ótima opção para dar sentido à vida e alimentar a sensação de continuar sendo útil à sociedade; o aprendizado de um novo idioma, ou de uma nova profissão, cujo trabalho seja prazeroso para este(a), etc.
Outro aspecto importante a ser lembrado, se refere aos cuidados com a saúde, pois o bem viver nesta nova fase, está intimamente relacionado ao bem estar físico, psíquico e social, e tal conquista dependerá em grande parte da motivação e ações da própria pessoa.
Enfim, é importante que empresas públicas e privadas, bem como as associações e sindicatos das diferentes categorias profissionais, ajudem nesta tarefa, promovendo cursos, palestras, oficinas, orientações etc., que visem preparar e apoiar seus prepostos ou filiados não apenas para uma aposentadoria saudável e produtiva, mas também para bem receber e acolher àquele(a)s que já estão na inatividade laboral, fazendo com que estes, mesmo fora dos quadros da empresa, se sintam valorizados pelo trabalho realizado no passado.
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ZONA AZUL - 22/09/2025