João Pessoa, 22 de setembro de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Às vezes o mundo parece um objeto esquecido, como uma armadura sem dono deixada num depósito qualquer. Ele se arrasta, hesitante, como se não suportasse o fardo de ser o que é. É por isso que inventamos símbolos: máscaras, armas, escudos. Cada um se protege como pode.
Dizem que um aluno, diante da tarefa de descrever o escudo de Aquiles, não encontrou palavra alguma. O silêncio ocupou o espaço. E, nesse vazio, revelou-se talvez a melhor descrição: nenhum discurso é capaz de dar conta de tudo o que a vida grava no metal de nossas batalhas.
O escudo de Aquiles não era simples defesa. Era mapa da existência. Nele havia guerra e celebração, justiça e desordem, trabalho e repouso. O objeto refletia não só o herói, mas também o tempo que o moldava. E diante dele surge a escolha que não envelhece: uma vida longa, sem brilho, ou uma vida curta, intensa e plena de sentido.
Talvez cada pessoa carregue, sem saber, seu próprio escudo. Alguns o preenchem de conquistas, outros de fracassos, outros ainda de ilusões. Há quem se esconda atrás de histórias emprestadas, como se fosse possível viver da glória alheia. Mas o tempo, infalível, exige autenticidade: só pesa sobre nós o que realmente nos pertence.
O futuro não avisa sua chegada. Quando o percebemos, já é passado. Ainda assim, buscamos ler seus sinais como se fossem gravuras num metal antigo: marcas de dor, lampejos de prazer, dúvidas que se repetem.
Todo escudo guarda a mesma pergunta: você prefere se proteger da vida ou se lançar nela?
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