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Educador físico, psicólogo e dvogado. Especialista em Criminologia e Psicologia Criminal Investigativa. Ex-agente Especial da Polícia Federal Brasileira, sócio da Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas e do Instituto Brasileiro de Justiça e Cidadania. Autor de livros sobre drogas.

Suicídio, um mal evitável. Viva o “setembro amarelo”!

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publicado em 08/09/2025 ás 19h55

 

Tenho replicado este tema sempre que estamos no mês de setembro. Faço isto, visando ser mais um a alertar sobre a importância do envolvimento e comprometimento da sociedade em geral nas ações relacionadas às campanhas educativas de prevenção ao suicídio.

Foi convencionado pelo poder público que no mês de setembro, as ações educativas preventivas e de cuidado, relacionadas à prevenção do suicídio deveriam ser ampliadas e massificadas. É o já popularmente conhecido “setembro amarelo”. Esta é uma iniciativa importante, pois sabe-se que a forma mais eficiente para a conscientização em relação a qualquer que seja a política pública é a massificação das informações sobre a causa almejada.

O suicídio é a principal causa morte evitável em todo o mundo. E, segundo os levantamentos e estatísticas oficiais, tem crescido em todas as faixas etárias, especialmente entre os jovens e os idosos.

No Brasil as mortes por suicídio perdem apenas para os homicídios e os acidentes de trânsito, entre aquelas causadas por fatores externos.

Várias causas podem levar um ser humano a atentar contra a própria vida. Segundo a Organização Mundial de Saúde, entre tais motivos pode-se enumerar: o histórico familiar de suicídio, o uso abusivo de álcool e outras drogas, perdas ou lutos, decepções amorosas e transtornos mentais, especialmente a depressão e a esquizofrenia. Devo acrescentar que, a grande maioria das pessoas que cometem suicídio, tem histórico de transtorno depressivo, independente de sexo, faixa etária ou qualquer outra característica.

A OMS afirma ainda que o Brasil é o país mais ansioso do mundo, isto é importante registrar porque, na maioria das vezes, o transtorno de ansiedade precede a depressão, ou seja, quando essa não é tratada em tempo hábil e adequadamente, poderá abrir caminho para a instalação da depressão, sendo a depressão a principal causa que leva as pessoas a cometerem suicídio.

É necessário esclarecer que, mesmo sendo a depressão muito comum na sociedade contemporânea, e o principal agente motivador para a retirada da própria vida, falar desse mal não necessariamente é falar de suicídio, pois a grande maioria das pessoas depressivas, felizmente, não chega a cometer tal ato.

Embora as mulheres atentem mais contra a própria vida, a prevalência de suicídios consumados é mais comum no sexo masculino. A justificativa para isto, segundo alguns estudiosos, é o fato de os homens normalmente usarem para tal prática métodos mais violentos e letais que aqueles comumente utilizados pelas mulheres.

A depressão é uma doença que pode acometer a qualquer pessoa, independente do seu nível cultural, social, financeiro etc. Até hoje não se sabe a origem biológica deste mal. Sabe-se apenas que é um distúrbio do humor, e que está relacionado à desregulação de alguns neurotransmissores, como glutamato, dopamina, serotonina, noradrenalina etc. E que, geralmente, resulta de uma interação entre predisposição genética e fatores sociais, culturais e ambientais, dentre estes, o uso indevido de drogas, lutos, traumas graves e transtornos mentais, como os já citados.

Contudo, estar com depressão não significa um caminho para o suicídio. Grande parte das pessoas com este mal, desde que tratadas adequadamente, poderá ter uma qualidade de vida normal e prazerosa.

Para tanto, não só o poder público, mas a sociedade em geral precisa se comprometer com esta causa. Atitudes simples por parte de cada cidadão / cidadã podem ajudar a prevenir a depressão e até mesmo suicídios. Aproxime-se mais daquela pessoa que demonstra estar depressiva, escute o que ela tem a falar, mostre-se disponível, ofereça auxílio e vá junto com ela procurar ajuda especializada. Elogie mais as pessoas a sua volta, isto já é uma boa ação preventiva curativa. Como bem reza a sabedoria popular: “geralmente o dia que o ser humano é mais elogiado e recebe flores, é o do seu velório. Talvez se esta pessoa no caixão pudesse ouvir todos aqueles elogios a ele(a) dirigidos, se levantaria e voltaria para vida feliz e motivado(a)”.

Vale a pena esclarecer que nem sempre a depressão se manifesta como as pessoas imaginam: ficar na cama sem ânimo, se isolar socialmente etc. Tal comportamento é mais comum em adultos e ou idosos, mas no púbico jovem a depressão pode não se manifestar desta forma. Além disso, outro aspecto que não deve ser esquecido é que os adolescentes, em geral, sentem muita dificuldade de pedir ajuda.

Quando se trata de suicídio alguns mitos ou crenças populares são comuns, dentre estes destaco: 1. “Quem fala, não faz” – Isso não é verdade. Muitas vezes, a pessoa que diz que vai se matar não quer “chamar a atenção”, mas apenas dar um último sinal para pedir ajuda; 2. “Não se deve perguntar à pessoa depressiva se a mesma pensa, tem, ou já teve pensamentos ou ideação suicida, pois pode estimulá-la a tal feito”, isto também é mito, deve-se sim falar sobre isso, caso a pessoa esteja com sintomas da depressão. Uma conversa amigável e franca, sem julgamentos, para entender o que se passa com ela e tentar ajudá-la é muito importante. Não tocar no assunto pode piorar a situação; 3. “Só os depressivos clássicos se matam”, esta também é uma convicção falsa. Como já citado anteriormente, existe o depressivo mais conhecido, aquele que fica deitado na cama e não consegue levantar, mas outras reações podem ser também indicativas de transtornos depressivos e, consequentemente, de comportamento suicida, como alta agressividade e nível extremo de impulsividade; 4. “Quem tenta se matar uma vez, vai tentar novamente”, também não é bem assim. É importante que a família fique atenta, mas, a maior parte dos pacientes que levam a sério o tratamento com medicamentos e terapia adequados não chegam a tentar tirar a própria vida uma segunda vez. Portanto, é muito importante sempre buscar ajuda.

Outro aspecto importante a considerar é que a família deve ficar atenta ao momento em que um depressivo, sem tratamento, diz estar bem; muitas vezes ele pode já ter decidido tirar a própria vida e tem o assunto como resolvido. Também é necessário lembrar que geralmente os medicamentos (antidepressivos), levam algum tempo para surtir os efeitos desejados e esperados. Por isso, os primeiros 30 dias após o início do tratamento são os que precisam de mais atenção dos cuidadores.

Enfim, é muito indispensável que o poder público promova não apenas a campanha, “setembro amarelo”, uma vez ao ano, e sim, que tais iniciativas de educação e conscientização relativas à saúde mental, sejam constantes. Para tanto, é indispensável o envolvimento também da sociedade civil, em que os indivíduos de forma geral se sintam corresponsáveis por esta empreitada em prol da vida. E, como primeiro passo, relembro: elogie mais as pessoas à sua volta! A autoestima elevada do ser humano ajuda a prevenir depressão e, consequentemente, suicídios.

 

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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