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Jornalista paraibano, sertanejo que migrou para a capital em 1975. Começou a carreira  no final da década de 70 escrevendo no Jornal O Norte, depois O Momento e Correio da Paraíba. Trabalha da redação de comunicação do TJPB e mantém uma coluna aos domingos no jornal A União. Vive cercado de livros, filmes e discos. É casado com a chef Francis Córdula e pai de Vítor. E-mail: [email protected]

Vestido de João Donato

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publicado em 27/07/2025 ás 07h00
atualizado em 27/07/2025 ás 07h52

 

Pessoas são a coisa mais atraente do mundo, cidades também, até mesmo o som dos seus nomes nos transportam, como se o próprio nome já fosse um lugar: João Donato, Ivone Belém, Seu Vicente e dona Antonieta e meu filho Vitor.

A gente quer sempre estar num lugar – um lugar onde tudo está por acontecer, um lugar que se põe em movimento, seja de frente para o mar, seja olhando para a favela Rocinha, de uma sacada de Copacabana. Copacabana é um lugar tão bonito…

O meu amor por João Donato e Ivone Belém vai além, como uma flor-de-maracujá, tão linda que se abre ao sol, e se recria conforme os nossos desígnios.

Entrevistei o músico João Donato várias vezes, sempre pelo telefone, aquela voz pequena, quase de criança, os contatos eram feitos por Ivone, sua mulher. Tal dia, tal hora.

João Donato partiu em julho de 2023, a um mês de completar 89 anos.  Um dos maiores artistas brasileiro, um dos caras mais importante da música. Nasceu em Rio Branco, no Acre e com  onze anos se mudou com a família para o Rio de Janeiro. Com cinco anos já tocava acordeon.

Se eu fosse escrever aqui quem foi, quem é João Donato, teria que encher páginas inúmeras, teria que pensar na ousadia de escrever a biografia dele, mas aí eu não saberia por onde começar.

Em 1958, Donato gravou “Minha saudade” e “Mambinho”, em parceria com João Gilberto. Ele adaptou as influências do jazz com a música do Caribe, como integrante das orquestras de Mongo Santamaría, Johnny Martinez, Cal Tjader e Tito Puente. E excursionou com João Gilberto pela Europa. Tem composições com Caetano Veloso, Gilberto Gil, uma porrada de gente bacana.

Para chegar lá, Donato um gênio percorreu tantos lugares, palcos onde se fazem silêncios, onde o som de Donato e o tempo parecem não ter tempo de ser cumprido uma vez ser degustado, onde as pessoas o aplaudiam de pé – gravou vários discos onde invocam seu nome nos quatro cantos do mundo.

Com Gil ele compôs ´A Paz, Bananeira e Lugar Comum´ e como estamos falando sobre ele através dos lugares, a canção lugar-comum é bem simples. Donatão, tem um filho chamado Donatinho que também é músico.

Beira do mar, lugar-comum, começo do caminhar, pra beira de outro lugar, beira do mar, todo mar é um, começo do caminhar, pra dentro do fundo azul, a água bateu, o vento soprou, o fogo do Sol, o sal do senhor, tudo isso vem, tudo isso vai
pro mesmo lugar”

Sorte minha ter conhecido esse cara e sua mulher, a jornalista Ivone Belém. Sorte minha ter ganho uma camisa dele, grandona como ele, estampada como eu gosto. “Nós comprávamos os tecidos africanos em Paris, que hoje já existem no Brasil e mandávamos fazer as camisas dele”, disse Ivone

Sai pela Rua Nossa Senhora de Copacabana vestido de João Donato. Dando pinotes. Não somos um ciclone, nem um furacão, somos gente, somos engraçados. Tenho muita coisa para viver ainda e vou por aí com essa camisa do João Donato, que fui e sou merecedor, essa fina estampa.

Obrigado Ivone, Donato está por aí no Jardim Botânico, está em nós, que rompemos tabus e preconceitos e amamos de verdade.

Kapetadas

1 – Exército da Salvação só existe um – e não é esse dos neopentecostais.

2 – O humor é uma das formas mais sofisticadas de pensamento. Eu juro.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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