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Kubitschek Pinheiro – MaisPB
Tem disco novo de Roberta Nistra, aliás, novo projeto, que chega às plataformas 14 anos depois da estreia fonográfica. O álbum foi gravado entre as cidades de Madri, Lisboa e Rio de Janeiro, no final de 2024. E tem o dedo do compositor, músico e produtor Pierre Aderne, que nasceu na França, é radicado há 15 anos em Portugal e que durante anos morou em João Pessoa.
Ele assistiu um vídeo no qual a artista carioca cantava e se acompanhava ao cavaquinho. “Fiquei muito comovido com a Roberta Nistra, logo na primeira audição.
Em temporada na capital espanhola com o seu projeto “Rua Das Pretas”, Aderne convidou Roberta Nistra para se juntar ao grupo. Ela topou na hora. Pierre Aderne convidou Gonzalo Lasheras, seu amigo madrilenho, e começaram a gravar o álbum da Roberta em seu estúdio.
Em seguida a artista foi para Lisboa, onde terminaram as gravações, e finalizaram no Rio de Janeiro. Até então, Roberta Nistra, que não conhecia Pierre Aderne, viu na proposta do convite, uma enorme possibilidade de mostrar sua arte. “Quando ele ligou e me fez o convite para participar de “Rua das Pretas”, em Madri, desliguei o telefone em êxtase. Eu nunca tinha saído do Brasil”, revela Roberta, que acompanhou mestres como os saudosos Wilson Moreira da Silva, Monarco e Wilson das Neves como cavaquinista, no início da carreira.
O álbum “Eu não ando só” reúne canções autorais de Roberta Nistra, além de músicas de Roque Ferreira, Dona Ivone Lara, Délcio Carvalho, Moacyr Luz, Chico Alves e Manu Da Cuica, entre outros.
O samba “Pra que discutir com Madame”, de Janet de Almeida e Haroldo Barbosa lançado nos anos 1940, mas que ficou conhecido na versão que João Gilberto gravaria na década seguinte, é outro destaque do disco.
No Rio o álbum ganhou as participações de Moacyr Luz e Mingo Silva em “Abre Caminho, Abre” (Moacyr Luz e Pierre Aderne), e dos músicos Carlinhos Sete Cordas, Nilson Dourado e Marcos Esguleba. Há décadas integrante da banda de Zeca Pagodinho, o percussionista Marcos Esguleba já gravou com grandes nomes da música brasileira. Pierre montou uma orquestra de tambores, agogôs, tamborins e pandeiros um show à parte.
Uma conexão do cavaquinho e da voz de Roberta Nistra às percussões inspiradas de Marcos Esguleba, resultaram em um disco de sonoridade minimalista. “A alma desse álbum está em encontrar um lugar tranquilo para a voz e o cavaquinho, em seu estado primordial.
Roberta Nistra conversou com o MaisPB e o resultado está aí, um grande disco, de uma grande artista
MaisPB – Que disco lindo – por que demorou tanto tempo desde da estreia há 14 anos?
Roberta Nistra – Obrigada, eu estou apaixonada por esse novo trabalho! E a demora de deu por barreiras financeiras mesmo. Antes desse disco lancei 2 singles através de financiamento coletivo.
MaisPB – Abre o disco com Abre Caminho Abre – que representa uma indicação para a natureza, religiosidade para que os caminhos se abram, com fé e a proteção de Exu, que você canta com Moacyr Luz?
Roberta Nistra – Exato, esses dois artistas maravilhosos, Moacyr Luz e Mingo Silva, cantaram comigo e foi uma alegria imensa para mim contar com essa participação.
MaisPB- Aliás, o disco tem toda uma identificação com os orixás – a terceira faixa Oxóssi é tão bonita, falai?
Roberta Nistra – A música é de Roque Ferreira, compositor que permeia minha carreira e que sempre estará presente no meu repertório. Foi através dessa música que Pierre Aderne me conheceu, por conta de um vídeo que fiz na Internet cantando e tocando cavaquinho na minha casa.
MaisPB – Adorei a sua versão de ´Pra Quê Discutir com Madame, gravada por João Gilberto e você também um ritmo parecido. Vamos falar sobre isso?
Roberta Nistra – Eu sou fã incondicional de João Gilberto, e me inspiro de mais nesse mestre que ouvi e ouço ainda. Essa música faz parte do meu repertório de sempre, a conheci há muitos anos atrás através da gravação desse gênio que é o João Gilberto.
MaisPB – O disco foi gravado em Madri, Lisboa e Rio de Janeiro e tudo começou quando o compositor, músico e produtor Pierre Aderne (radicado há 15 anos em Portugal), assistiu um vídeo no qual você cantava e se acompanhava ao cavaquinho. Peirre morou em João Pessoa ainda jovem, – vamos contar essa descoberta de seu canto e o cavaquinho?
Roberta Nistra – Exatamente. Eu perdi um amigo muito querido na ocasião, e fiz um vídeo em homenagem a ele, que era músico também, o nosso querido Marcello Mattos. Ele também era um ogã de mão cheia. Éramos do mesmo axé, inclusive. Fiz esse vídeo de forma emocionada e postei: o vídeo viralizou, chegando assim até o Pierre. Foi então que, recebi uma ligação do Pierre, eu estava em um sarau naquela hora. Fiquei feliz. Surpresa, um pouco desconfiada (risos), mas muito feliz mesmo quando ele me fez o convite para participar do projeto que ele criou, o Rua das Pretas, e também para gravar um disco. E além disso, muitas parcerias se seguiram, músicas minhas com ele, com Moacyr Luz também.
Cantora Roberta Nistra.
Foto de AF Rodrigues
Rio de Janeiro, 19 de abril de 2025.
MaisPB – Já entrevistei várias vezes o Hamilton de Holanda – como um cavaquinista tão talentoso como você avalia o trabalho do mestre HH?
Roberta Nistra – Sou muito suspeita para falar pois também sou mega fã dele. Hamilton é um talento ímpar, e acredito que artistas como ele têm uma missão diferenciada aqui nessa terra. Ele nunca pára de nos surpreender com o talento dele, que não conhece barreiras né? Gênio da nossa música.
MaisPB – Seu trabalho inicial vem da companhia de Wilson Moreira da Silva, Monarco e Wilson das Neves como cavaquinista. Vamos falar sobre esses mestres e a influência deles no seu trabalho?
Roberta Nistra – Sim, tive a felicidade de tocar com todos eles, fazer show, e conviver também, principalmente com o Wilson Moreira e Ângela. A influência e a admiração transcendem a música, pois Wilson, para além do gênio, era uma pessoa incrível, que merecia ter tido muito mais reconhecimento e cuidado no final de sua jornada. Observei muito a maneira como eles escreviam e encadeiam suas composições harmonicamente, são mestres inesquecíveis, que têm papéis fundamentais nas características do samba e partido-alto cariocas.
MaisPB – Linda a sua versão de “Pelos Caminhos do Mar”, fala dessa canção pra gente…
Roberta Nistra – Também amo “Pelos Caminhos do Mar”, sempre está no meu repertório. Nos meus shows, têm um bloco em que eu canto uma sequência de ijexás, e essa música sempre esteve. É Dorival Caymmi, outro grande arquiteto desse gênero tão rico que é o samba.
MaisPB – Tem um texto de Maria Bethânia que ela diz “Eu não ando Sò” – tem alguma conexão?
Roberta Nistra – Por incrível que pareça, não tem! A letra é do Pierre Aderne, e ele também se inspirou em uma postagem minha nas redes sociais, onde eu falava do meu dia-a-dia. Ele começou a escrever a letra a partir disso. Depois fomos mexendo nela juntos e, por fim, pus a melodia. Terminamos essa música dentro do carro, a caminho de Lisboa, na região da Estremadura, na Espanha. Foi um momento muito feliz e divertido, porque estavam no carro a Ana Berardo, o Nilson Dourado e o Duda, que foi o diretor do audiovisual que fizemos lá em Madrid.
MaisPB – Quando você vem mostrar esse trabalho cantando no Brasil, quem sabe no Nordeste?
Roberta Nistra – Muito em breve divulgarei as datas, estou ensaiando com Marcos Esguleba esse show, que também terá músicas do disco anterior. Me sigam em todas as plataformas para ficarem inteirados de tudo!
BOLETIM DA REDAÇÃO - 03/07/2025