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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Quando o salário parece injusto (mesmo não sendo)

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publicado em 04/07/2025 ás 07h52

Quando o salário parece injusto (mesmo não sendo)

A maioria das empresas acredita que pagar bem é suficiente para manter talentos. Mas uma nova pesquisa revela um paradoxo cada vez mais comum no mercado: muitos profissionais pedem demissão por se sentirem mal remunerados, mesmo quando seus salários estão no nível ou acima do mercado. O problema não está só no valor, mas na percepção. E essa percepção, quando distorcida, custa caro, especialmente quando envolve os melhores colaboradores.

Segundo o relatório da Payscale, 68% dos funcionários acreditam estar ganhando menos do que deveriam, mesmo quando os dados mostram o contrário. Essa sensação de injustiça tem impacto direto na retenção. Quem se sente mal pago tem 45% mais chances de procurar outro emprego, mesmo que a remuneração seja, na prática, competitiva. Em contrapartida, empresas que adotam políticas claras de transparência salarial reduzem essa probabilidade em até 59%.

O que está em jogo aqui é mais do que o contracheque. É a confiança. Quando os critérios de remuneração são nebulosos ou mal comunicados, os funcionários preenchem as lacunas com suposições, e geralmente, com desconfiança. A falta de clareza abre espaço para comparações internas, ressentimentos silenciosos e perdas silenciosas de talentos que vão embora sem alarde, acreditando que mereciam mais.

Curiosamente, a percepção distorcida não atinge apenas quem ganha menos. O estudo mostra que entre os que recebem acima da média, quase metade ainda se sente mal paga. Isso escancara um fenômeno emocional e subjetivo: a remuneração deixou de ser só número e virou um símbolo de reconhecimento, pertencimento e valor pessoal. Se a comunicação da empresa não acompanha essa mudança, o sentimento de injustiça toma o lugar da valorização.

Desde 2021, mesmo com o aumento salarial em muitos setores e o avanço das leis de transparência, a sensação de subvalorização cresceu. Para os líderes, esse dado é um alerta: a solução não está apenas em reajustes, mas em uma nova abordagem sobre remuneração. É preciso tornar os critérios compreensíveis, atualizados e acessíveis, com canais abertos de diálogo sobre crescimento, mérito e perspectivas.

Entre os jovens que chegam ao mercado, essa desconexão é ainda mais visível. A geração que se forma em 2025 tem expectativas salariais elevadas, muitos sonham com salários de seis dígitos, mas se deparam com uma realidade média de 68 mil dólares anuais. Quando expectativa e realidade colidem sem preparo emocional ou informações claras, o resultado é frustração precoce e alta rotatividade.

A pesquisa mostra que as percepções são tão importantes quanto os fatos. E isso vale não apenas para os profissionais em início de carreira, mas para toda a estrutura organizacional. Quanto mais a empresa investe em transparência, escuta e justiça percebida, mais chances tem de manter seus talentos engajados e comprometidos. Transparência não é apenas publicar faixas salariais em vagas, é cultivar relações baseadas em confiança mútua.

A tendência é que, nos próximos anos, a equidade salarial e a comunicação clara sobre remuneração façam parte da identidade das empresas. Elas serão cobradas não só por números, mas por coerência entre discurso e prática. Para os profissionais de Recursos Humanos, isso representa um novo papel estratégico: o de construir pontes entre os dados salariais e o sentimento real de valorização nas equipes.

Mais do que nunca, liderar com justiça e empatia pode se tornar uma vantagem competitiva. Empresas que tratam a remuneração como parte de uma experiência mais ampla de reconhecimento têm mais chances de atrair, manter e desenvolver talentos com propósito. Em tempos de disputa por profissionais qualificados, esse diferencial pode valer mais do que um aumento no final do mês.

No fim das contas, a pergunta que precisa ser feita não é apenas “quanto estou pagando?”, mas “como meu time percebe o valor que recebe?”. Porque entre o número no contracheque e o sentimento de justiça, é essa percepção que define quem fica e quem vai embora.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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