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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Mais Esperto que o Diabo  

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publicado em 26/06/2025 ás 07h44

Poucos livros causaram tanto impacto no mercado editorial brasileiro na última década quanto Mais Esperto que o Diabo, de Napoleon Hill. Lançado originalmente em 1938, mas publicado no Brasil apenas em 2014, a obra se tornou um verdadeiro fenômeno de vendas, ultrapassando a marca de um milhão de exemplares. A premissa do livro é tão curiosa quanto provocadora: uma entrevista imaginária com o Diabo, onde Hill o desafia a revelar os mecanismos mentais que aprisionam as pessoas em ciclos de medo, insegurança, preguiça e autossabotagem.

Embora tenha sido escrito há quase cem anos, o conteúdo parece ter sido feito sob medida para os dias atuais. A pandemia, o aumento dos níveis de ansiedade e a necessidade de reencontrar o propósito de vida criaram um terreno fértil para mensagens que oferecem clareza emocional e força interior. Não à toa, Mais Esperto que o Diabo liderou por três anos consecutivos as listas de auto-ajuda mais vendidas do país, ocupando inclusive o segundo lugar entre os mais vendidos no geral em 2022.

O impulso comercial do livro não foi apenas orgânico. Em 2019, o influenciador Thiago Nigro, conhecido como “Primo Rico”, mencionou a obra em seus canais. A partir daí, o que era uma média de 600 vendas mensais explodiu para mais de 22 mil por mês. O boca a boca digital fez o resto: vídeos no YouTube, resenhas no Instagram e listas de leitura em grupos de estudos ajudaram a transformar o livro em um clássico contemporâneo do desenvolvimento pessoal.

Na obra, Hill dá voz ao próprio Diabo, chamado de “Sua Majestade”, e o pressiona a revelar como consegue manter as pessoas presas em vidas frustradas e sem direção. A resposta é tão assustadora quanto simples: o medo. Medo de errar, medo do julgamento, medo da pobreza, medo da crítica. O livro argumenta que, ao perder o controle sobre a própria mente, o ser humano se torna fácil de manipular e o Diabo agradece.

O que torna o livro tão acessível é justamente essa linguagem direta, recheada de metáforas provocativas e frases que soam como tapas bem dados. O leitor não se sente julgado, mas desafiado. Não é um livro que apenas ensina técnicas, mas que propõe um enfrentamento corajoso com as sombras internas. É o tipo de leitura que deixa o celular de lado e obriga a refletir sobre escolhas, hábitos e medos que estão sempre ali, mas raramente são questionados.

Napoleon Hill já era conhecido por seu best-seller Quem Pensa Enriquece, de 1937, um manual sobre mentalidade e prosperidade que vendeu mais de 100 milhões de cópias no mundo. Mas Mais Esperto que o Diabo vai além da busca pelo sucesso financeiro. Ele mergulha nos abismos mentais que nos impedem de avançar, propondo um diálogo interno que muitos evitam ter. É, ao mesmo tempo, incômodo e libertador.

Os números confirmam o impacto. Só em 2021, o livro vendeu mais de 244 mil cópias no Brasil. Desde o lançamento por aqui, já são mais de 900 mil exemplares vendidos na edição tradicional, sem contar versões pocket e digitais. E mesmo com o passar dos anos, continua aparecendo nas listas mensais dos mais procurados, sobretudo entre jovens adultos, empreendedores e profissionais em busca de clareza.

O sucesso não se deve a fórmulas mágicas ou promessas vazias. Hill, mesmo escrevendo no início do século XX, antecipou muitos dos dilemas emocionais que hoje estão no centro das discussões sobre saúde mental, produtividade e sentido de vida. A abordagem quase teatral da entrevista com o Diabo transforma o que poderia ser mais um livro de autoajuda em um debate intenso sobre liberdade de pensamento.

No Brasil, a Citadel Editora apostou no título quando ainda era pouco conhecido, e colheu os frutos de um acerto histórico. O livro virou tema de podcasts, rodas de leitura e virou até mesmo material complementar em cursos sobre desenvolvimento pessoal e profissional. O que era um manuscrito guardado por décadas agora ocupa um lugar de destaque nas estantes de livrarias e nas cabeceiras de milhares de leitores.

Se o Diabo está entre nós, como brincam alguns leitores, talvez ele esteja escondido nas nossas desculpas, medos e procrastinação. Mas Napoleon Hill, com sua escrita direta e provocadora, mostra que podemos enfrentá-lo desde que sejamos mais espertos. E isso começa com uma decisão simples: abrir o livro. E, quem sabe, abrir também a própria mente.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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