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Bacharel, Especialista e Mestre em Administração (UFPB/UNP). Mestre Internacional em Comportamento Organizacional e Recursos Humanos (ISMT – Coimbra/Portugal). Especialista em Neurociências e Comportamento (PUC-RS) e em Inovação no Ensino Superior (UNIESP). Membro Imortal da Academia Paraibana de Ciência da Administração (Cadeira 28). Professor universitário (UNIESP), consultor empresarial, palestrante e escritor best-seller da Amazon. E-mail: [email protected]

Quer motivar? Ouça Primeiro.

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publicado em 16/06/2025 ás 12h44
atualizado em 16/06/2025 ás 12h46

Na sala apertada de uma confecção em Campina Grande, uma tentativa de “levantar o astral” da equipe saiu pela culatra. A diretora de RH, bem-intencionada, sugeriu brindes, dinâmicas e até música ambiente. Mas, passadas três semanas, o clima era o mesmo ou até mais pesado. Uma costureira resumiu o sentimento geral: “A gente não precisa de festa… precisa ser ouvida”. Essa fala simples revela uma verdade profunda sobre o que realmente move as pessoas no ambiente de trabalho.

É comum encontrarmos líderes tentando motivar suas equipes como quem abastece um carro: coloca uma dose de incentivo aqui, um prêmio ali, uma campanha acolá. Mas, como já dizia a pesquisadora Sônia Vergara, “ninguém motiva ninguém”. A motivação real é interna, pessoal, silenciosa e não vem de promessas externas, mas da conexão com algo que faz sentido. Liderar não é acender velas nos outros, é criar o espaço para que cada um acenda a sua própria.

Edward Deci, um dos principais estudiosos da motivação intrínseca, mostrou que recompensas externas podem até funcionar no curto prazo, mas corroem a autonomia e diminuem o prazer de realizar por vontade própria. A longo prazo, o efeito é o oposto do esperado: a pessoa se torna dependente de estímulos e perde o interesse espontâneo. Ou seja, tentar motivar à força pode matar o que já estava vivo dentro de alguém.

Aqui mesmo, no sertão da Paraíba, uma cooperativa rural em Sousa fez o movimento contrário. Ao invés de oferecer brindes, os coordenadores decidiram escutar mais. Permitiram que os próprios trabalhadores redesenhassem a rotina. O que aconteceu? A produtividade subiu, os conflitos diminuíram e o orgulho pelo trabalho reapareceu. Sem cartazes, sem slogans, sem mágicas. Apenas um novo olhar sobre a forma de liderar.

Motivar, portanto, não é empurrar ninguém. É tirar o pé do freio. É parar de controlar, de infantilizar, de supor que as pessoas precisam de pulseirinhas motivacionais para entregar o seu melhor. O que elas precisam, na maioria das vezes, é de autonomia, escuta, clareza de propósito e um ambiente onde possam ser respeitadas como adultas capazes.

Em vez de perguntar “como motivar minha equipe?”, os líderes poderiam se perguntar: “o que eu estou fazendo que impede essas pessoas de se motivarem sozinhas?”. É um giro importante. Porque, ao remover barreiras, ao confiar, ao dar espaço, a motivação brota. Não como mágica, mas como uma consequência natural da liberdade com responsabilidade.

Ken Thomas, outro estudioso do tema, afirma que a automotivação está no coração da criatividade e da mudança duradoura. Pessoas motivadas por dentro inovam, resolvem, cooperam, permanecem. Não por obrigação, mas por vontade. E isso vale tanto para o chão de fábrica quanto para as salas de decisão. Toda equipe tem potência o que falta, muitas vezes, é o líder perceber que o seu papel é destravar, não empurrar.

Na prática, motivar é menos sobre “animar” e mais sobre confiar. É menos sobre falar e mais sobre ouvir. É menos sobre distribuir brindes e mais sobre valorizar ideias. Parece simples, mas exige coragem para abandonar velhos modelos de liderança baseados em controle e premiação.

No fim das contas, a pergunta que fica é: sua empresa está tentando enfeitar a cela ou abrir a porta? Porque a força já mora nas pessoas, só precisa de espaço para sair.

* Os textos dos colunistas e blogueiros não refletem, necessariamente, a opinião do Portal MaisPB

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