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José Nunes da Costa nasceu em 17 de março de 1954, em Serraria-PB, filho de José Pedro da Costa e Angélica Nunes da Costa. Diácono, jornalista, cronista, poeta e romancista, integra a Academia Paraibana de Letras, o Instituto Histórico e Geográfico Paraibano, a União Brasileira de Escritores-Paraíba e a Associação Paraibana de Imprensa. Tem vários livros publicados. Escreveu biografias de personalidades políticas, culturais e religiosas da Paraíba.

As flores do Brejo

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publicado em 04/06/2025 ás 07h00
atualizado em 03/06/2025 ás 19h25
White Ginger Blooming in The Garden
         José Nunes
Sempre quando passo pela região onde está o plantio de flores no engenho Avarzeado, em Pilões, recordo uma visita realizada na companhia de Gonzaga Rodrigues e seu filho Fabiano, em tempo atrás, e recebemos as saudações da Natureza do Brejo, com abraços festivos das agricultoras. Estas exibiam os produtos de suas mãos com largos sorrisos.
         As serras despenteadas no período de estio alimentavam a esperança de que seriamos recompensados pela beleza do lugar, com os crisântemos brancos e rosas avermelhadas nos aguardando.
         Recordo também a primeira vez quando estive nesse canteiro de flores para fazer uma reportagem, em décadas passadas. Era período de comemorar o Dia das Mães e haviam muitas flores perfumando toda a extensão onde nos encontrávamos.
         Em redor das estufas para o cultivo das flores, sobre as serras, palmeiras viçosas, de porte senhoril, com a nos receber de braços abertos, se juntavam às boas vindas das mulheres agricultores de mãos suaves apesar da terra nas unhas, o que não tirava a docilidade do contato conosco.
         Todas as vezes que escuto falar da produção de flores de Pilões, sou tomado por uma alegria que, acreditem, é sincera. Karla Cristina e Maria Helena, pioneiras no projeto de cultivo de flores na região do Brejo, são testemunhas deste meu gesto e do meu carinho acerca desta iniciativa.
         A alegria parte de alguém que carrega o massapê e o barro vermelho do Brejo na sola dos pés e nas mãos o perfume das flores silvestres da região, porque da região exala vida, saem dos córregos a água cristalina que nem precisa ser coada antes de beber. Passamos por entre os montes por onde sobem os partidos de cana, se cultiva banana pacovan e os roçados da macaxeira e feijão de corda brotam. Nunca me desligo desta gente tão sofrida e tão esperançosa.
         As mãos finas e meigas das 21 agricultoras que a usina expulsou das terras, e formando a cooperativa, ao contrário de outras mulheres, sobreviveram aos desafios e aos apertos do capitalismo que levam à ponta das ruas. Entenderam que é pela perseverança e a confiança no próprio potencial que se chega ao horizonte.  São duas dezenas de mulheres, cada uma com uma história diferente para contar, na realidade, idênticas, porque construíram seu mundo, conquistaram sua liberdade.
         Vibro com cada presente que a cooperativa de produção de flores de Pilões ganha, e tenho certeza já estão com seus trabalhos reconhecidos, pois são modelos de perseverança. Mulheres que olham para a frente, mesmo sem esquecer o passado de muitas incertezas porque viviam a trabalhar no pelo da cana.
         As conheci quando colhiam as primeiras flores. Cada uma mostrava felicidade ao obter os resultados desejados, com um sorriso que Maria Helena sabe expressar, em gestos que guardamos como lenitivo.
         Não me canso de lembrar e expressar minhas lembranças dos primeiros momentos quando ali cheguei para conhecer seu trabalho, numa manhã de sol, acolhido com um sorriso largo tipo das mulheres do Brejo.  Deixei-me contaminar pela alegria expelida naquele momento tão distante, mas sempre se remova quando por aquela região, de Serraria até Alagoa Nova.
         Sem verter lágrimas, silenciosamente essas inundam meu coração de brejeiro quando percorro as trilhas entre as serras que vão de Serraria a Pilões, beirando o Rio Pintura, em debando da Serra do Espinho. Como agora acontece, quando revejo a foto das mulheres cultivando as flores que tão seu sustento e embelezam os ambientes.

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