Recorro ao professor Milton Marques Júnior para traduzir uma frase do poeta Cícero, que significa justamente isso: “se ao lado da biblioteca, tens um jardim, nada te faltará”. Fiquei imaginando essa afirmação quando, mexendo nos livros na estante em minha casa, me deparo com livros sobre Arte. Um chamou a atenção. Justamente “A Linha do Sonho”, de Flávio Tavares composto de desenhos atestando a capacidade criativa deste poeta do pincel.
Sobre Flávio Tavares, artista plástico que reescreve a História da Paraíba e suas paisagens com a magia do pincel, muita coisa foi escrita, mas agora quando lançou novo catálogo com seus desenhos, voltam-me lembranças ao nascedouro de nossa amizade, quando em 1978, na redação de O Norte, nos encontrávamos à tarde ou na boca da noite. Chargista do jornal, diariamente comparecia à redação e nos tornamos amigos, construindo uma amizade que é para sempre.
Retratando nossa história, sua motivação vem da necessidade interior de transformação do ambiente onde vivemos. Flávio tem sua produção demais de seis décadas revestida da certeza de que a arte pode salvar a vida, principalmente porque elaborada sob o engajamento interior de sua alma, ao usar a capacidade renovadora no sentido profundo da emoção.
Em seus quadros a arte exerce a função de transformar nosso olhar para a realidade em derredor, levando-nos a sentir novas emoções, porque neles encontramos motivações para reflexões que estimulam mudanças sociais.
Quando faz brotar o catálogo com seus desenhos, sem exagero, considero primorosos, eu me lembro dele ao final dos anos de 1970 chegando à redação do jornal com a charge para ser publicada ou, muitas vezes sentava na enorme mesa da diagramação para produzir a desenho conforme o mote indicado pelo editor, sempre a partir do assunto principal que tomava conta do noticiário. Mas o que dizer dele, quando as mais expressivas opiniões foram escritas acerca do que vem produzindo em quase sessenta anos de pintura e desenho?
Flávio é um poeta que prefere escrever com o pincel. A poesia está impregnada na sua alma, porque vem do redor de sua casa, exalada das flores de jardim carinhosamente regado por Alba, a sua musa inspiradora.
O livro “A Linha do Sonho” é um primoroso trabalho que recebeu o olhar seletivo do fotógrafo Antônio Diniz. São desenhos que conhecia desde sua fase de produção. Tenho acompanhado muitos de seus trabalhos porque ele me integrou ao seletivo grupo de observadores dos seus desenhos e pinturas ainda no nascedouro. Tem sido assim desde muito tempo, o que é motivo de regozijo.
Folheando o livro, lembro-me dos momentos quando os desenhos foram produzidos, com uma leveza de beija-flor apaparicando uma flor.
O que dizer do conteúdo desse catálogo depois de ler a apresentação de Raul Córdula, que há mais de cinquenta anos acompanha o trabalho de Flávio? Também ao que afirmou o saudoso Walter Galvão, porque suas palavras reforçam a grandeza da arte por Flávio praticada.
O livro “A Linha do Sonho” é um belo presente que o confrade da Academia Paraibana de Letras nos deu. Este e muitos outros.
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