João Pessoa, 03 de maio de 2025 | --ºC / --ºC Dólar - Euro
Balbino era garçom do restaurante W e detinha dupla competência; tanto profissionalmente como fofocando. Sabia de histórias fantásticas da nossa dita melhor sociedade. Era prazeroso ir ao W para ouvir as novidades. Ele gostava muito de mim e um dia, querendo puxar meu saco, referiu-se ao concorridíssimo enterro de uma grande personalidade paraibana, arrematando: “- Mas o seu enterro, Doutor Marcos, com certeza vai ser muito maior e mais animado do que o dele”. Infelizmente Balbino faleceu antes de mim sem poder conferir se a sua profecia irá se realizar. Aliás, nem eu também poderei conferir, né?
Essa lembrança me veio porque hoje, como diariamente faço, fui tomar o café da manhã na padaria Bonfim, sempre numa mesa repleta de comensais. A novidade era a volta de Paulinho de uma viagem à Itália. Enquanto o garçom Junior, (autoproclamado meu babão número um) servia uns sanduiches, Paulinho contou que estivera na praça São Pedro, no Vaticano, no ultimo dia de vida do Papa Francisco e que deu pra olhar Sua Santidade bem de perto. Junior ouviu a narrativa e meteu-se: “- Apoi num olhe pra Doutor Marcos não, viu? Se ele morrer quem vai pagar as latas de leite do nosso filho?”. Explicação necessária; recentemente Junior foi pai do seu primeiro filho e disse que só fez o menino, mas a paternidade é compartilhada comigo.
Não sei como a conversa descambou para enterros e Carlinhos disse que se um dia eu morrer (esse é amigo, hem?) será prudente evitar que o Índio do gelo e Nerivan segurem as alças do caixão ao mesmo tempo, porque vivem às turras e facilmente soltarão o féretro no chão para estapearem-se. A partir daí a balburdia instalou-se na mesa, com cada amigo(?) querendo opinar sobre meu enterro. De logo começaram a discutir por onde passaria o cortejo, numa discussão em altos brados. Iria primeiro ao bar do Zuca ou ao bar de Carlinhos? Como faz muito tempo que não frequento bares quis opinar, mas Soneca foi incisivo: “- O senhor não dá pitaco porque vai estar morto e tem mais; acho bom o senhor morrer num sábado, porque durante a semana os bares sempre estão a meia boca. Vão pensar que o senhor não tem prestígio”.
Foi aí que começou o cacete. Vicente quis dizer como se fazia em Fortaleza. Pra que? Todo mundo reclamando em altos brados. Levantei-me, dei uma porrada na mesa e calei a boca de todos. Afinal, eles estavam discutindo meu enterro na minha presença e nem me deixavam opinar. “- Sabem de uma coisa, por conta dessas brigas todas eu decidi não morrer.”.
Vou tentar ao máximo cumprir minha promessa.
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OPINIÃO - 02/05/2025